O antropólogo José
Cutileiro realizou em Monsaraz entre 1960 e 1967 o trabalho de campo que serviu
de base para a sua tese de doutoramento na Universidade de Oxford, “A
Portuguese Rural Society”, depois traduzida como “Ricos e Pobres no Alentejo”,
que constitui um dos primeiros estudos antropológicos detalhados sobre uma
comunidade rural portuguesa. Durante esses anos, estudou a vida social e económica
de Monsaraz, que no livro aparece com o nome fictício de Vila Velha.
Foi em Monsaraz que José
Cutileiro observou de perto a estrutura agrária tradicional, marcada pelo peso
dos grandes proprietários e pela dependência económica dos trabalhadores
rurais, que definiram durante décadas a organização social da região. A estratificação
social, claramente visível em Monsaraz, permitiu ao investigador analisar de
forma rigorosa as dinâmicas de poder e as fronteiras simbólicas entre
proprietários, rendeiros e assalariados, descrevendo com detalhe as relações de
trabalho sazonais, frequentes nas herdades em redor da vila, revelando o
impacto direto dos ciclos agrícolas na vida das famílias locais.
O estudo destaca também a vitalidade da vida comunitária, centrada no centro da vila, na igreja e noutros espaços de sociabilidade onde se negociavam alianças, reputações e conflitos. Monsaraz surge como exemplo marcante de uma comunidade onde tradições, rituais e redes de parentesco desempenhavam um papel essencial na manutenção das identidades e na organização do trabalho. Ao revisitar esta obra, torna-se evidente que a profundidade do retrato social apresentado, deve muito ao contacto direto de José Cutileiro com os habitantes da vila.
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