As greves não podem ser
lamentadas, muito menos limitadas. Fazer ou não fazer greve é, acima de tudo,
um direito soberano, consagrado no artigo 57.° da Constituição. É claro que vai
ter impacto nas nossas vidas: há quem hoje não consiga ir trabalhar por falta
de transportes; quem veja adiada uma consulta pela qual esperou meses; quem
tenha de fazer teletrabalho para garantir apoio aos filhos que ficaram sem
aulas; ou quem veja adiada a viagem com que sempre sonhou. Não sendo
pormenores, os sobressaltos que a paralisação causar têm de ser vistos lado a
lado com a vontade de um grande grupo de trabalhadores que entende que as
mudanças vertidas na reforma da lei laboral são desfavoráveis para a sociedade
portuguesa e que o Governo deve ceder na mesa das negociações em alguns dos
pontos dessa proposta. Alinhar apenas pela crítica à partidarização da greve é
colocar em segundo plano a principal mensagem da iniciativa, de que a maioria
dos trabalhadores portugueses, representados pelas duas maiores centrais
sindicais, discorda do novo pacote laboral. Ainda que o plano do Governo, o
projeto da equipa liderada por Montenegro, tenha sofrido alterações desde a sua
génese, não se abeirou das principais reivindicações destas duas entidades, que
falam em nome desses milhares de descontentes. Ainda que a aproximação entre a
UGT ou a CGTP (esta historicamente mais difícil) e o Governo se possa continuar
a trabalhar depois, hoje é dia de ouvir os trabalhadores, as suas reivindicações.
Ao contrário de artigos internacionais, que saúdam a boa forma da economia
portuguesa, sabemos que há entre os que trabalham muitos pobres, são 9,2%;
sabemos que a maioria dos trabalhadores ganha menos de mil euros, são 60%. Os
artigos são bonitos, mas o dinheiro no bolso de quem sua é ainda mais.
Joana Almeida Silva – Jornal de Notícias - 11 de dezembro, 2025
IMAGEM: Foto retirada do "Jornal de Notícias"
