8.12.25

NISA: Conheça os poetas do concelho (LVII) - António dos Santos Sequeira


 5 – OS CARREGOS DE CORTIÇA 

Cerca dos anos quarenta

Pouco trabalho havia

Andava o povo em tormenta

E na maior miséria vivia

 

Quem fome não queria ter

Não podia ter preguiça

Ia a Espanha para trazer

Uma saca de cortiça

 

Levantava-se de madrugadas

E ia por esses campos fora

Depois da cortiça apanhada

Aí vinha ela sem demora

 

Sempre com o coração na mão

Com medo de algum carabineiro

Mas era tanta a precisão

De arranjar algum dinheiro...

 

Eram tempos de miséria

E de luta pela vida

Sendo a fome coisa séria

Que não se dava vencida

 

Com as cheias do rio

Punha a vida em perigo

Tinha a Guarda e o frio

Que eram um grande inimigo

 

Comia uns bocados de pão

Com morcela e toucinho

Depois de esta magra refeição

Metia pernas ao caminho

 

Ao subir as barreiras

Com o carrega, a pensar...

Trazia no rosto a canseira

E o suor a pingar

 

Depois da cortiça pesada

E o dinheiro já na mão

Sentia o esforço da jornada

Mas já com outra disposição.

* António dos Santos Sequeira