Num tempo em que tanto se discute a importância da comunicação social, principalmente a escrita, impressa em papel e que as pessoas da minha geração (e outras de gerações mais novas) folheiam com renovado prazer, surgem no horizonte ameaças sobre o possível "corte" na distribuição diária de jornais no interior do país. É uma ameaça real que, a concretizar-se representaria mais um golpe criminoso contra o interior, uma parte significativa do país, que seria condenada a mais uma forma discriminatória de isolamento: o do acesso à informação, à cultura, à crítica e à reflexão.
Ler jornais é saber mais e pelos vistos a empresa que "sozinha" garante essa distribuição no país inteiro, acha que esse aspecto - o de proporcionar a leitura, informação, conhecimento, a metade do país - só é "válido" se ela, empresa, tiver mais valias, lucros maiores. O resto - esse "resto" somos todos nós, os que já sofremos o horror do interioricídio - pouco lhes interessa. Eu sei, ou julgo que sei, que nesta nuvem negra projectada com estrondo, esta ameaça velada, quer em primeiro lugar alertar os órgãos de poder e garantir novas condições de distribuição. Não acredito que a ideia seja mesmo acabar, de todo, com a distribuição e venda de jornais onde estes não dão lucro.
A imprensa já vem sofrendo e perdendo para o digital, desde há anos, muitos títulos e leitores. Esta, seria mais uma machadada com efeitos triplos: nos jornais e empresas que os editam, nos leitores que os compram e leiam, mas, acima de tudo, no respeito que devem merecer todos os cidadãos do país, independentemente das regiões onde vivem, trabalham e pagam os seus impostos como todos os portugueses. Seria, por último, um gravíssimo atentado aos direitos, liberdades e garantias, entre estes o direito à informação e, consequentemente, à liberdade do pensamento e do acesso à cultura e conhecimento.
