O Sport Nisa e Benfica comemora 90 anos de existência. Mais que um clube desportivo, a colectividade foi, durante muitos anos, a casa das classes pobres de Nisa, que se juntavam nos populares bailes do “Galocha”. Uma época em que as associações espelhavam as divisões “classistas” da vila. Hoje, lembramos um pouco da sua longa vida e abrimos a janela para o futuro que a nova direcção pretende construir.
* Mário Mendes
As rivalidades com o Sporting
A sua história remonta a 1935, quando um grupo de jovens, no auge das rivalidades locais com a filial nisense do Sporting, tomou a iniciativa de “romper” com as estruturas existentes e de criar uma nova colectividade.
A fundação do clube, em 1 de Outubro de 1935 com o nome inicial de Sport Lisboa e Nisa, deu corpo ao sonho dos nisenses Isaac Araújo Baptista, José da Piedade Pires, Esteves da Anunciada Cebola e António Maria Carolo.
Em 13 de Janeiro de 1936, é eleita a primeira direcção, dela fazendo parte: o médico António Granja, José da Piedade Pires, Vicente Fernandes Nogueira, Eduardo Dinis Filipe, Esteves da Anunciada Cebola, José da Graça Sena, José Carita Serralha, João da Cruz Charrinho, Virgílio Pinheiro e António Semedo da Piedade.
A primeira sede instalou-se numa casa alugada na Rua da Fonte; anos mais tarde e também por arrendamento, transferiu-se para instalações muito mais amplas, na Estrada de Alpalhão, onde tinham lugar, em datas certas, grandes bailes populares, iniciativas destinadas a obter de receitas para o clube e principal razão de angariação de sócios.
Os jogos da bola e os bailes no “Galocha”
No início eram os jogos de futebol com o rival Sporting, sem qualquer espírito de competição oficial. Os bailes populares constituíam as mais importantes manifestações colectivas num tempo em que na vila (e no país) as colectividades espelhavam a divisão inter-classista existente e por isso os bailes no Benfica eram conhecidos como os bailes do “Galocha”, para vincar o seu carácter profundamente popular e rural (dos trabalhadores do campo) em compita com outras agremiações como a Sociedade Artística (dos artistas e que incluía todos os artesãos, à excepção dos trabalhadores rurais) ou o Clube Nisense, “poiso” de uma burguesia local e regional, que não admitia “misturas”. Com este quadro, fácil é perceber que o Nisa e Benfica fosse a associação com maior número de sócios e também de actividades, e profundamente enraizada entre a população.
O atletismo praticou-se durante alguns anos, bem como o ciclismo, uma modalidade muito popular durante os anos cinquenta e sessenta do século passado. É no início da década de 60 que o Sport Nisa e Benfica participa pela primeira vez em provas oficiais de futebol. Aos “distritais” de seniores, seguiram-se os juniores, os principiantes, e todas as demais categorias do futebol jovem, não só a nível distrital, mas também nacional, em seniores (3.ª Divisão) e juniores (campeonato nacional) numa caminhada que não mais parou e que todos os anos se renova, tanto a nível de novos atletas, como nas provas e objectivos com que se participa. Entre estes e num concelho que sofre os problemas da interioridade e da desertificação, assume relevo a ocupação salutar das crianças e dos jovens, a educação no espírito e respeito pelo “fair play”, valores alternativos aos mundos subterrâneos da droga e do vício e que, geralmente, constituem becos sem saída.
A par do futebol, o Sport Nisa Benfica manteve em actividade, secções de cicloturismo, andebol e futsal, funcionando como secções autónomas e sem encargos para o clube. De relevo, o papel preponderante na dinamização e realização do primeiro campeonato distrital de futsal na época de 1999-2000, título que conquistou, tendo sido, um dos precursores desta modalidade, hoje tão popular no distrito. Momento histórico, foi a conquista do título de campeão nacional júnior de corta-matopor Ricardo Mateus em 2007, atleta que representou Portugal nos Campeonatos Mundiais, em Mombaça (Quénia) e seria o melhor representante português.
O clube mantém em actividade uma equipa de futebol de veteranos que percorrem o país, com total autonomia e auto financiamento. Além destas actividades e num espírito recreativo, são organizados, regularmente torneios de pesca desportiva ou de futsal e outras iniciativas, visando a obtenção de fundos, a dinamização desportiva e o convívio entre sócios.
Valorização do património
O Sport Nisa e Benfica dispõe de sede própria na Rua 25 de Abril, e do Campo de Jogos de D. Maria Gabriela Vieira, a benemérita nisense que doou ao clube, sem qualquer contrapartida, a propriedade, onde está implantado o campo de futebol (105x65 m) balneários e anexos de ampla dimensão. A reconstrução do imóvel na Rua 25 de Abril, onde este se instalou há muitos anos é hoje uma realidade, passando a dispor de melhores condições para os sócios e para a população que utiliza o salão para a realização de diversas festas de convívio ou familiares.
A valorização do património não tem sido esquecida pelos diversos elencos directivos que têm gerido o clube. Em 5 de Outubro de 1998 foi inaugurada a primeira fase da bancada (lateral). No Verão de 2000 foi dado início à construção da bancada central no Campo de Jogos, incluindo a mesma uma cabine para a comunicação social. A instalação de um piso sintético substituindo o de terra batida, obra de parceria com a Câmara Municipal, muito veio beneficiar o rectângulo de jogos, tendo o clube nos últimos anos dedicado especial atenção aos escalões de formação.
Uma melhoria significativa no conjunto de estruturas e equipamentos do Nisa e Benfica que, entretanto, passou a ser a 9ª filial do SLB e foram conseguidos por força de uma enorme dedicação e determinação.
“Acordar o gigante adormecido”
É um slogan de campanha e o mote dos objectivos dos novos corpos gerentes do SNB eleitos recentemente e que pretendem reactivar a equipa de futebol sénior.
“ Queremos recuperar a ligação com a comunidade – dizem-nos Hélder Dias e João Zacarias, presidente e vice-presidente do clube, “de modo a mostrar que estamos ativos e precisamos de todos para que o clube dê o próximo passo.”
“É necessário reforçar a transparência e a profissionalização da gestão, com uma prestação de contas periódica, e criação de departamentos (futebol, formação, financeiro, eventos, marketing, sócios). Apostar numa identidade forte para mobilizar sócios, ex-atletas e patrocinadores. Criar um plano desportivo integrado: formação (base), transição (juvenis e seniores) e retorno dos seniores com objetivos faseados e realistas.” Os dois dirigentes têm consciência das dificuldades na criação de uma equipa de futebol sénior, mas não baixam os braços: “Sabemos que o contexto distrital tem vindo a perder equipas e que o interior enfrenta o problema da desertificação. Por isso a nossa abordagem écautelosa. Foi feito um diagnóstico rigoroso: levantamento dos custos reais (logística, inscrições, arbitragem, seguros e transportes), e das receitas potenciais para os suportar (subsídios/patrocínios anuais, quotas, bilhetes para jogos, e receitas de eventos). Temos também a noção de que não conseguimos neste ano lutar por uma subida. O plano é arrancar com uma equipa sénior, enfrentando um ano zero neste escalão, criando uma base para no futuro conseguirmos elevar a fasquia e ir de encontro aos pergaminhos deste grande Clube. “
Sobre os 90 anos de existência do clube, o momento é de grande optimismo. “Vemos o Sport Nisa e Benfica como uma referência desportiva e social no distrito: com uma estrutura desportiva sólida (escalões competitivos e uma equipa sénior sustentável); Infra-estruturas melhoradas e um espaço de encontro comunitário, finanças equilibradas, com diversificação de receitas e patrocínios locais/regionais bem estabelecidos, um projecto de formação reconhecido na região, capaz de formar jogadores e também cidadãos e, também, um papel ativo na valorização de Nisa, atraindo eventos e parcerias que beneficiem toda a comunidade. Em suma: um clube vivo, sustentável e orgulhoso da sua história, preparado para os próximos anos.”
Um rico historial
1975/76 – Campeão Distrital de Futebol (seniores)
1976/77 – Participação no Campeonato Nacional da 3ª Divisão
1977/78 – Campeão Distrital de Futebol (seniores)
1978/79 – Participação no Campeonato Nacional da 3ª Divisão
1979/80 – Campeão Distrital de Futebol (seniores)
1980/81 – Participação no Campeonato Nacional da 3ª Divisão
1981/82 – Campeão Distrital de Futebol (seniores)
1982/85 – Participação no Campeonato Nacional da 3ª Divisão
1986/87 - Campeão Distrital de Futebol (seniores)
1987/88 – Participação no Campeonato Nacional da 3ª Divisão
1998/99 - Campeão Distrital de Futebol (seniores) – 2ª Divisão
1998/99 – Vencedor da Taça AFP (seniores)
1999/00 - Campeão Distrital de Futsal (seniores)
2000/01 – Participação no Campeonato Nacional de Futsal (3ª Divisão)
2002/03 – Campeão Distrital Infantis
2003/04 – Vencedor da Taça AFP (Infantis)
2003/04/05/06 – Vencedor da Taça AFP Iniciados
2004/2005 – Vencedor da Taça AFP Juvenis
2007 – Ricardo Mateus em representação do Sport Nisa e Benfica é campeão
NOTA: Este artigo era para integrar a edição de Outubro do "Alentejo Ilustrado", o que não foi possível devido ao trabalho que o mensário teve de dedicar às eleições autárquicas. Espero que seja integrado numa próxima edição. De qualquer modo e para não se distanciar da data do 90º aniversário do Sport Nisa e Benfica publicamo-lo, aqui e na íntegra, com maior profusão de imagens, até. Parabéns ao Sport Nisa e Benfica, o clube da nossa terra.