A ministra da Saúde afirmou que não se pode perder tempo com inquéritos
sobre o que corre mal no SNS. A única parte em que terá razão é que não se
pode, de facto, perder tempo, atrasados para resolver muitos dos problemas que
afetam a saúde pública estamos nós. As averiguações aos casos inenarráveis que
têm acontecido nos hospitais, nomeadamente o do bebé que nasceu na receção do
Hospital de Gaia, são fundamentais para corrigir a montanha de problemas em que
se tornou a área de ginecologia/obstetrícia. Ana Paula Martins explica que nem
com o dobro dos profissionais a trabalhar nestes serviços os problemas ficariam
resolvidos e deixariam de ser necessárias as urgências regionais. Então,
quantos são precisos? A governante reflete ainda sobre a necessidade de repor a
confiança dos portugueses na saúde pública, mas como, se a solução ainda não
foi encontrada? Um homem vê a sua mulher dar à luz no chão de um hospital
depois de ter pedido, relatou aos jornalistas, inúmeras vezes, uma maca, o que
falhou, quem falhou? Como restaurar essa confiança se, mesmo pedindo tempo e os
relatórios finais demonstrarem que três utentes morreram por atrasos no socorro
durante a greve do outono de 2024, não tenha havido consequências? Em julho, a
ministra da Saúde pediu tempo para resolver a grave crise que afeta as
urgências, falando de uma situação que não pode ser normalizada, mas que
continua, apresentando falhas que denunciam que o tempo ou não foi o
suficiente, ou a estratégia que Ana Paula Martins quer implementar não está a
resultar. A oposição estica a flecha, enquanto o próprio diretor do SNS
admitiu, esta quarta-feira, que os partos em ambulâncias até podem aumentar -
já se contam 32 este ano. Nascer não pode ser um problema num país onde a média
de idades é superior a 47 anos.
Joana Almeida Silva – Jornal de Notícias - 9 de outubro, 2025
