29.10.25

NISA: Conheça os poetas do concelho (LIV) - António dos Santos Sequeira (4)


 4 - NO TEMPO DOS MEUS AVÓS 

No tempo dos meus avós

Muitos morreram sem ver

O vulgar comboio para nós

E as ondas do mar a bater

 

Os mais antigos então

Só o campo os prendiam

Sem terem do mundo a visão

Do que no seu tempo se fazia

 

No campo trabalhavam

E pelo campo dormiam

Ao trabalho se entregavam

Até de noite, enquanto viam

 

Trabalharam e morreram

Sem jamais terem férias

Será vida o que viveram

Ou canseiras e misérias?

 

Muitos tempos se passaram

Sem à vila virem ficar

Mas sempre que regressavam

Vinha pelo escuro a tropeçar

 

Homens incultos e rudes

Eram do trabalho orgulhosos

Mas entre as muitas virtudes

Eram puros e bondosos

 

No trabalho tinham vaidade

E era nele que se media

Em cada um a capacidade

De poder e valentia

 

Sem tempo para os amigos

Nem nos domingos passear

Eram assim os antigos

Só no trabalho a pensar

 

A terra era disputada

Palmo a palmo com ambição

Muitas vezes sem dar nada

A não ser mato para picão

 

Muita gente apaixonada

Deixou fugir o casamento

Por ter mais uma tapada

E não ter dos pais o consentimento

 

Nos terrenos onde não havia

As paredes por separar

Era a linda * que fazia

O mesmo efeito para marcar

 

Por ambição demasiada

E quem vergonha não tinha

A linda era mudada

Para onde mais lhes convinha

 

* Linda – linha divisória que estabelece o terreno de dois proprietários