8.3.20

A Mulher na Poesia Alentejana

DESENGANO 
Nasci mulher, sonhei, sorri à vida.
O arco-íris pintei no horizonte
Que a minha fresca e sonhadora fronte,
Idealizou, esp´rançosa, embevecida.

Fui jardineira alegre e jovial
No viçoso jardim da mocidade,
Onde as rosas secaram; e a saudade,
Arroxeou de todo o meu rosal.

Tombou-me a fronte, aos poucos, já vencida,
Nevaram-me os cabelos na subida
Gelada e estreita dum destino infausto.

E arrefeceu-me o peito num viver
Que me põe n´alma um triste anoitecer,
A frieza sombria dum claustro.

Mariana da Conceição Abraços Lança Bexiga
(Os meus Filhos de Alma, Serpa, 1984)
Desenho de Manuel Ribeiro de Pavia