Se os deputados no parlamento português fossem chamados a votar na presidencial dos Estados Unidos, quantos escolheriam Trump? Mesmo sem o inquérito estar respondido pelos próprios, provavelmente, agora, mais do que nas eleições de há quatro anos. O estilo e a linguagem de Trump gerou uma corrente de adeptos, alimentada pelas redes sociais, em muitos países do mundo.
Donald Trump foi modelo e contribuiu para agregar rancores, sentimentos de injustiça, exasperos com os sistemas instalados, revolta contra o politicamente correto. Aproveitou a degradação de instituições democráticas para fomentar a desconfiança e o assalto à prática democrática de respeito pelos adversários. Trump vulgarizou o envenenamento que é a redução do adversário a inimigo.
O trumpismo teve engenho para transformar o ódio em força e canalizá-lo para dar energia a movimentos políticos que, antes de Trump, por apregoarem a intolerância, ficavam na margem. Viu-se como em sucessivas eleições em França várias esquerdas votaram na direita clássica para barrar a extrema-direita da família Le Pen.
Os modos e a ideologia difusa de Trump contribuíram para banalizar posições agrestes de direita extrema. Favoreceram a propagação do desprezo pelo outro que é diferente. Também favoreceu o crescendo de chefes políticos autoritários. Há quatro anos o Vox era irrelevante em Espanha. Tal como a AfD na Alemanha. Itália já tinha a Liga mas foi nesta atmosfera global trumpiana que cresceu até há um ano.
Um dos chefes mais inquietos com a queda (ainda não está declarada, mas irreversível) de Trump é o israelita Netanyahu. Acaba-se o dueto. Com Biden deixa de prevalecer o faça-se tudo o que Israel deseja. Regressa a vontade de papel mediador dos EUA entre Israel e a Palestina (embora sempre mais cúmplice com Israel) e também reentra no diálogo o acordo nuclear que Obama e as potências europeias definiram com o Irão.
Obviamente, a derrota de Trump não significa o fim do trumpismo. A infeção propagou-se e está instalada de modo que lhe vai permitir sobreviver ao ocaso do chefe. É uma máquina montada para acolher os vários descontentamentos, mas incapaz para produzir uma cultura inclusiva de governação.
Trump vai continuar, até ao último dia na Casa Branca, no obstinado egocentrismo de sempre. Vai continuar a tentar manipular e a mentir. Ainda vamos ter semanas de lastimável guerrilha político-judicial. Mas os EUA são um país com instituições fortes que não vão permitir que Trump funcione à maneira de Putin. A democracia vai limpar o campo minado deixado por Trump.Biden não perde tempo à espera da instalação das equipas de transição entre as duas presidências. Sem mais demoras já estão a trabalhar as equipas designadas para tratar três emergências: covid, recessão e alterações climáticas. Também como enfrentar o racismo entranhado.
Donald Trump foi modelo e contribuiu para agregar rancores, sentimentos de injustiça, exasperos com os sistemas instalados, revolta contra o politicamente correto. Aproveitou a degradação de instituições democráticas para fomentar a desconfiança e o assalto à prática democrática de respeito pelos adversários. Trump vulgarizou o envenenamento que é a redução do adversário a inimigo.
O trumpismo teve engenho para transformar o ódio em força e canalizá-lo para dar energia a movimentos políticos que, antes de Trump, por apregoarem a intolerância, ficavam na margem. Viu-se como em sucessivas eleições em França várias esquerdas votaram na direita clássica para barrar a extrema-direita da família Le Pen.
Os modos e a ideologia difusa de Trump contribuíram para banalizar posições agrestes de direita extrema. Favoreceram a propagação do desprezo pelo outro que é diferente. Também favoreceu o crescendo de chefes políticos autoritários. Há quatro anos o Vox era irrelevante em Espanha. Tal como a AfD na Alemanha. Itália já tinha a Liga mas foi nesta atmosfera global trumpiana que cresceu até há um ano.
Um dos chefes mais inquietos com a queda (ainda não está declarada, mas irreversível) de Trump é o israelita Netanyahu. Acaba-se o dueto. Com Biden deixa de prevalecer o faça-se tudo o que Israel deseja. Regressa a vontade de papel mediador dos EUA entre Israel e a Palestina (embora sempre mais cúmplice com Israel) e também reentra no diálogo o acordo nuclear que Obama e as potências europeias definiram com o Irão.
Obviamente, a derrota de Trump não significa o fim do trumpismo. A infeção propagou-se e está instalada de modo que lhe vai permitir sobreviver ao ocaso do chefe. É uma máquina montada para acolher os vários descontentamentos, mas incapaz para produzir uma cultura inclusiva de governação.
Trump vai continuar, até ao último dia na Casa Branca, no obstinado egocentrismo de sempre. Vai continuar a tentar manipular e a mentir. Ainda vamos ter semanas de lastimável guerrilha político-judicial. Mas os EUA são um país com instituições fortes que não vão permitir que Trump funcione à maneira de Putin. A democracia vai limpar o campo minado deixado por Trump.Biden não perde tempo à espera da instalação das equipas de transição entre as duas presidências. Sem mais demoras já estão a trabalhar as equipas designadas para tratar três emergências: covid, recessão e alterações climáticas. Também como enfrentar o racismo entranhado.
Não dá para ilusões exageradas com a próxima presidência Biden/Harris. Mas, tal como aconteceu com a entrada em cena, há uma dúzia de anos, da dupla Obama/Biden, vamos ter um alívio, o mundo vai respirar melhor. Mas todos sabemos que o trumpismo não desaparece com a queda de Trump.
Francisco Sena Santos in www.sapo.24.pt
Francisco Sena Santos in www.sapo.24.pt