Sofrem os ventos, vão mudando os tempos, se para melhor ou pior o futuro o dirá, se é que não o vai dizendo já.
Praticassem os cidadãos do concelho de Nisa o seu direito de cidadania, fossem eles mais participativos, mais exigentes, por certo mais ouvidos e respeitados seriam.
Assim, mais não lhes resta que assistir ao envio para o “gavetão das calendas” das pequenas obras sonhadas, necessárias, pouco dispendiosas, mas importantes para o desenvolvimento económico tão referenciado.
Na obra feita ou “requalificada” como é moda referir, nem sequer são capazes ou não querem, respeitar o passado, a memória das coisas e das pessoas, abusando de um poder não concedido mas exercido sem consulta alguma a um qualquer indígena natural do concelho.Verdadeiramente, “muita” coisa tem mudado: mudam-se os símbolos, os nomes às coisas, os logótipos, as datas, a “residência” ao património, etc., etc., em obediência a vontades extravagantes cujo desígnio até parece ser “nada como antes”.
O húmus da nossa terra favorece o crescimento, como se cogumelos fossem, das obras ditas “requalificadas”, muitas delas sem sentido e que nos vão deixando mais pobres, em termos de património e memória.
Mas, porquê, esta febre de “requalificar”, a maior parte das vezes, a obra altamente qualificada, distinta?
Será que Nisa teve foi o azar com os distintos qualificadores que aqui “assentaram praça”, fazendo a recruta?
Por agora, um só exemplo, o jardim.
A história se fará mais tarde. Para já, o “Jardim Romântico”, uma “primorosa realização do paisagista Jacinto de Matos, do Porto (1932)” como refere o prof. José Francisco Figueiredo na Monografia de que é autor, não existe mais.
Restam, ao menos, as centenas de fotos feitas enquanto o Jardim viveu, mostrando as suas oito lindas floreiras, as três originais escadarias de granito, os diversos candeeiros de ferro fundido com destaque para os quatro do corredor central, únicos, de dois braços.
O actual separador de espaços entre o jardim e o parque de estacionamento, será, agora, porventura, mais bonito que o gradeamento de ferro forjado quase centenário (1911) que lá residia, expondo lindas flores? O Coreto é mais belo, assim, despojado das plantas que o adornavam na base, agora nua? Até o lago, o saudoso “repuxo” que nunca foi uma maravilha de beleza, mas nada ficava a dever àquela “fonte cascata”, nada original, pois é cópia de outras por aí plantadas e contestadas noutros lugares, como a que vimos em Tavira.
Do “jardim romântico”, destruído, pouco resta. Fosse a responsabilidade somente dos arquitectos, como agora fazem crer para “sacudirem a água do capote” e nós lhes daríamos um conselho, usando expressão popular, só que a responsabilidade maior nem foi deles...
Enfim, “nada como antes” e vai de apagar as memórias.
“Património, Herança e memória – A Cultura como Criação”, é o título de um livro de Guilherme de Oliveira Martins (1).Memória tão invocada e maltratada pelos possuidores de “memória de grilo” que por aqui se passeiam, que mais não fazem que induzir-nos ao esquecimento enquanto munícipes desta nossa “Corte das Areias”, do que resultará a verdade inserida nas frases do autor da obra referida: “Um povo sem memória suicida-se, deixa-se dissolver na uniformidade”.
Os nisenses de hoje, com algumas excepções, reconhecem que “uniformidade” é vírus que grassa em Nisa, trazido de fora.
O nosso Rossio tinha ou não particularidades únicas? E, agora? Bem, agora, tem a “fonte cascata” cuja mãe reside no Algarve. Tem “bolinhas” de pó de pedra amassada na Alameda, irmãs gémeas das que “vivem” em Ovar e em Setúbal. E tem aqueles banquinhos da mesma massa e cor, que infestam tudo quanto é sítio.
É um regalo. Mas, nem tudo é mau. Não tarda muito vai haver “encenação histórica” com a chegada a Nisa da “Valquíria Escandinava”, figura mitológica, virgem.
Ao outro, ao nosso “mítico” e universal Navegador, Vasco da Gama, alcaide-mor de Nisa e que aqui residiu, foi-lhe prestada “homenagem” bem mais triste, vergonhosa.
A lápide celebrando a sua memória e a ligação a Nisa, exposta frente ao castelo, sua residência, foi arrancada pelo executivo camarário em 10/12/2003 e baldeada para o “Curral da Adua” onde jaz, dizem.
Razão tem o dr. Guilherme de Oliveira Martins: “um povo sem memória, suicida-se; o excesso de memória leva à vingança; a ausência de memória conduz à anomia.”
Penitencie-se quem o entender!
- João Francisco Lopes
(1) – Foi Deputado na Assembleia da República; ministro da Educação, das Finanças e da Presidência. Actualmente é presidente do Tribunal de Contas e do Centro Nacional de Cultura.
Praticassem os cidadãos do concelho de Nisa o seu direito de cidadania, fossem eles mais participativos, mais exigentes, por certo mais ouvidos e respeitados seriam.
Assim, mais não lhes resta que assistir ao envio para o “gavetão das calendas” das pequenas obras sonhadas, necessárias, pouco dispendiosas, mas importantes para o desenvolvimento económico tão referenciado.
Na obra feita ou “requalificada” como é moda referir, nem sequer são capazes ou não querem, respeitar o passado, a memória das coisas e das pessoas, abusando de um poder não concedido mas exercido sem consulta alguma a um qualquer indígena natural do concelho.Verdadeiramente, “muita” coisa tem mudado: mudam-se os símbolos, os nomes às coisas, os logótipos, as datas, a “residência” ao património, etc., etc., em obediência a vontades extravagantes cujo desígnio até parece ser “nada como antes”.
O húmus da nossa terra favorece o crescimento, como se cogumelos fossem, das obras ditas “requalificadas”, muitas delas sem sentido e que nos vão deixando mais pobres, em termos de património e memória.
Mas, porquê, esta febre de “requalificar”, a maior parte das vezes, a obra altamente qualificada, distinta?
Será que Nisa teve foi o azar com os distintos qualificadores que aqui “assentaram praça”, fazendo a recruta?
Por agora, um só exemplo, o jardim.
A história se fará mais tarde. Para já, o “Jardim Romântico”, uma “primorosa realização do paisagista Jacinto de Matos, do Porto (1932)” como refere o prof. José Francisco Figueiredo na Monografia de que é autor, não existe mais.
Restam, ao menos, as centenas de fotos feitas enquanto o Jardim viveu, mostrando as suas oito lindas floreiras, as três originais escadarias de granito, os diversos candeeiros de ferro fundido com destaque para os quatro do corredor central, únicos, de dois braços.
O actual separador de espaços entre o jardim e o parque de estacionamento, será, agora, porventura, mais bonito que o gradeamento de ferro forjado quase centenário (1911) que lá residia, expondo lindas flores? O Coreto é mais belo, assim, despojado das plantas que o adornavam na base, agora nua? Até o lago, o saudoso “repuxo” que nunca foi uma maravilha de beleza, mas nada ficava a dever àquela “fonte cascata”, nada original, pois é cópia de outras por aí plantadas e contestadas noutros lugares, como a que vimos em Tavira.
Do “jardim romântico”, destruído, pouco resta. Fosse a responsabilidade somente dos arquitectos, como agora fazem crer para “sacudirem a água do capote” e nós lhes daríamos um conselho, usando expressão popular, só que a responsabilidade maior nem foi deles...
Enfim, “nada como antes” e vai de apagar as memórias.
“Património, Herança e memória – A Cultura como Criação”, é o título de um livro de Guilherme de Oliveira Martins (1).Memória tão invocada e maltratada pelos possuidores de “memória de grilo” que por aqui se passeiam, que mais não fazem que induzir-nos ao esquecimento enquanto munícipes desta nossa “Corte das Areias”, do que resultará a verdade inserida nas frases do autor da obra referida: “Um povo sem memória suicida-se, deixa-se dissolver na uniformidade”.
Os nisenses de hoje, com algumas excepções, reconhecem que “uniformidade” é vírus que grassa em Nisa, trazido de fora.
O nosso Rossio tinha ou não particularidades únicas? E, agora? Bem, agora, tem a “fonte cascata” cuja mãe reside no Algarve. Tem “bolinhas” de pó de pedra amassada na Alameda, irmãs gémeas das que “vivem” em Ovar e em Setúbal. E tem aqueles banquinhos da mesma massa e cor, que infestam tudo quanto é sítio.
É um regalo. Mas, nem tudo é mau. Não tarda muito vai haver “encenação histórica” com a chegada a Nisa da “Valquíria Escandinava”, figura mitológica, virgem.
Ao outro, ao nosso “mítico” e universal Navegador, Vasco da Gama, alcaide-mor de Nisa e que aqui residiu, foi-lhe prestada “homenagem” bem mais triste, vergonhosa.
A lápide celebrando a sua memória e a ligação a Nisa, exposta frente ao castelo, sua residência, foi arrancada pelo executivo camarário em 10/12/2003 e baldeada para o “Curral da Adua” onde jaz, dizem.
Razão tem o dr. Guilherme de Oliveira Martins: “um povo sem memória, suicida-se; o excesso de memória leva à vingança; a ausência de memória conduz à anomia.”
Penitencie-se quem o entender!
- João Francisco Lopes
(1) – Foi Deputado na Assembleia da República; ministro da Educação, das Finanças e da Presidência. Actualmente é presidente do Tribunal de Contas e do Centro Nacional de Cultura.