15.11.20

COISAS DA CORTE DAS AREIAS (3) - Algumas reflexões sobre o Voluntariado

 

Há anos atrás, não muitos, foi criado em Nisa um “Banco de Voluntariado”.
Parabéns, são bem-vindos os voluntários, quando o são verdadeiramente...
Com qualidade e em quantidade, voluntários em Nisa sempre os houve, constam por aí na história das colectividades recreativas, desportivas ou culturais e até mesmo noutras instituições, mas, certo é, vão rareando e são hoje uma “espécie” em vias de extinção.
Temos para nós que se é tanto mais voluntário quanto mais “pobrezinha” for a dama servida. Estarão neste grupos os históricos Nisa e Benfica, a Sociedade Artística e a “Música de Nisa”.
Por lá passaram muitos voluntários ambicionando somente ver as “coisas” finadas renascer, ou ajudar na recuperação da saúde, esta ou aquela já enferma, para regalo e proveito da terra.
Ser voluntário é envolver-se em acção quase sem dar por isso, terão sido assim os voluntários de há muitos anos atrás, que criaram as associações referidas e que hoje ainda perduram, bem idosas, três associações que mexem connosco, sócio que somos de todas elas, que a todas servimos nos órgãos sociais, sendo que no velhinho Benfica demos até pontapés na bola e treinámos os miúdos e graúdos alguns anos.
Que conste, nunca um daqueles voluntários do antigamente, não poucos a “residir” já do lado de lá, pediu, muito menos exigiu, uma qualquer honra pública pela disponibilidade assumida, mas, quase o garantíamos, lá onde se encontram agora por certo não aprovariam os modernos voluntários que os ignoram e agridem a sua memória, legando espaços moralmente seus, ali descerrando empoladas lápides, legando ao futuro nula informação, somente nomes de gentes a quem as “suas” colectividades nada devem.
Manuel Granchinho - Um dos principais obreiros da construção do Cine Teatro de Nisa
Visite-se as sedes do Benfica, da Sociedade Artística, da Música ou do Cine Teatro para referir só alguns exemplos. Aponta-se ali um só que seja o nome de um Fundador, de um Presidente, de um qualquer associado? Claro que não! Terra estranha, ingrata, a nossa. E era tão fácil...
O Cine Teatro de Nisa vai completar 80 anos de vida e seria um bom motivo para comemorar sem custos, oportunidade excelente para recordar os fundadores que o construíram gastando do “seu” e não dinheiros públicos.
Que bem ficariam os seus nomes ali por perto daqueles outros famosos artistas que o inauguraram a 9 de Outubro de 1931.
Um dado curioso se retira do “Relatório e Contas” do Exercício de 1930 a 1946”: o simbolismo do lançamento da primeira pedra, também aqui aconteceu. Foi no dia 23 de Abril de 1930 e o documento citado refere que o início das obras teve lugar com os dois gerentes, António Paralta e José Vieira da Fonseca “dando-lhe as marretadas do estilo".
Fosse hoje e lá estariam, convidados, um presidente de Câmara ou Governador, manipulando a colher, aconchegando o cimento e botando o discurso da ordem, não poucas vezes, vazio.
- João Francisco Lopes *
* NOTA
"Coisas da Corte das Areias" da autoria de João Francisco Lopes foi uma rubrica e crónicas publicadas na maior parte das edições do "Jornal de Nisa" (1ª série) e, mais tarde, compiladas para livro com o mesmo título,  que constituiu um enorme êxito. Temas como o património, o associativismo, os caminhos rurais e outros, ajudaram a conhecer um pouco melhor o concelho de Nisa e a revelar muitos aspectos desconhecidos da maioria dos seus naturais e residentes. A rubrica volta agora, periodicamente, ao blog do "Jornal de Nisa" fazendo jus ao seu autor e prosseguindo a redescoberta deste chão que é o nosso.
Mário Mendes