O pequeno saltimbanco
O pequeno saltimbanco
entrou na pista fez piruetas
contou duas anedotas sem palavras
e as pessoas choraram
choraram tanto como se rissem em
gargalhadas
toda a gente sentiu o drama
do pequeno saltimbanco
mas as lágrimas foram demais
disseram os diários da manhã
nocturna
o público afogou-se
num oceano de lágrimas sinceras
todas pelo pequeno saltimbanco
pelo pequeno saltimbanco
que tinha uma flor vermelha na
lapela
e uma cicatriz acentuada na face
esquerda
e que contava anedotas sem
palavras
e provocava dilúvios nas cidades
mortas
nas cidades mortas como a nossa
cidade.
Sérgio de Sousa Bento – Lisboa 10 - 1964
Alentejo esquecido
No Alentejo à tardinha vem cantando,
Um rancho de ceifeiras sorridentes,
Mal se lembrando das searas ardentes
Que doloridas mãos foram segando.
Mas isto foi outrora, noutra era,
Que mulheres com grinaldas de flores,
Cantando hinos à vida e aos amores,
Faziam lembrar sempre a Primavera!
Agora é um deserto pardacento,
Ouve-se um cantar como um lamento,
D´uma ave cansada e sem beber,
Os ocasos são tristes e sangrentos.
Sopram, na solidão, agrestes ventos,
Numa terra sem água e a morrer.
Celestino José Janeirinho