Catarina Eufémia
em haste
de coragem
os pés fincaste
na terra
com ternura
e só de paz falavam
os teus olhos
quando tombaste dobrada
p´la cintura.
À tua frente souberas a resposta
na arma pronta
a morte no teu ventre
mas nem um filho
ao colo
te calou a fala
grito de água
no Alentejo ardente
Maria Teresa Horta
Ponto de Vista
aventuro-me de novo em caravelas
apalpo as veias das marés
sigo a colmeia das estrelas
defronte ao mar estoiro o enguiço
de ser cidade e rua e casa
sou descoberta onde me atiço
em vendaval que tudo arrasa
uma baleia um albatroz
uma alga rubra no corpo fundo
são a minha voz
e minha fuga dentro do mundo
defronte ao mar nada detém
a tempestade da minha ideia
surgem esqualos vêm tentáculos
capam-me os nervos em alcateia
dentam-me o dorso de ser o nome
no calendário na conta a giz
submarino-me na exacta fome
que todos remam mas ninguém diz
defronte ao mar jogo-e ao fundo
desta piranha chamada terra
vestido de água sou limbomundo
desfaço-me milhas de paz e guerra
sou o infante o que partiu
o que ficou o desejado
deste país que nunca riu
meu cemitério engalanado
dentro dum mar onde não ousam
novos infantes rumar aos becos
onde as esperanças ainda repousam
meu cemitério de polvos secos
Eduardo Olímpio (Alvalade Sado - 1983)