A ROMARIA DA SENHORA DA GRAÇA
Na descrição bucólica e poética de
Motta e Moura
Motta e Moura, autor da “Memória
Histórica da Notável Vila de Nisa” (1855), descreve em termos bucólicos e
poéticos, o cenário da romaria da Senhora da Graça
“ É festejada na primeira oitava
da Páscoa e o dia da sua festa é um dia de gala para todas estas povoações em roda. Antigamente
saia o povo com o seu clero e sai câmara em procissão cantando a Salve Rainha,
e assim ia até á capela da Virgem, onde se fazia a festa.
Mas, como fosse longo o trânsito e
os vereadores e clérigos se incomodassem, conseguiram do bispo D. Álvaro Pires
de Castro e Noronha, no ano de 1718, que mudasse o costume, transferindo a
saída do préstito para a capelinha dos Fiéis de Deus de onde agora sai.
Com esta mudança ficou o povo tão
desconfiado e receoso que pretendendo a Câmara no ano de 1848, em que se
aboliram diferentes dias santificados, transferir a festividade para um
daqueles, que o ficaram sendo, para não perderem os devotos o trabalho daquele
dia e conciliarem os seus interesses com a devoção, apesar da conveniência da
medida, que todos reconheciam, não a quis adoptar e reconhecer, e chegado o
antigo dia fez um estrondoso pronunciamento, correu à igreja, e de seu próprio
custo lhe fez a festa, para que não perdesse, como geralmente diziam, a antiga
posse.
Consta a solenidade de missa
cantada por música vocal e instrumental, sermão e ladainha entoada em coro pelo
clero e fiéis, que estão no templo.
E depois faz-se o leilão, em que
se vendem as primícias da devoção e piedade para com a Virgem no meio de um
numerosíssimo arraial, composto de gentes de muitos povos e vilas
circunvizinhas, que ali concorrem.
E há vantagem de ser a romaria
nesse dia, porque os corpos debilitados pela longa abstinência da Quaresma, que
vem de acabar, e os espíritos abatidos pela penitência e meditação, carecem de
distracção e exercício, de rir e folgar e nenhum espectáculo pode oferecer-lhe
tanto como este.
A vista amena e risonha do campo,
a variedade e beleza das flores que esmaltam os prados, a verdura e floração
dos arvoredos, que começam a vestir-se de novas folhas: o gorjeio das inocentes
avezinhas, o balir terno e monótono dos cordeirinhos e a voz sentida e maviosa
das abelhas que lhe responde; a alegria e folguedo da mocidade risonha e
folgasã, a prudência da idade madura, a rigidez e austeridade da velhice; a
diversidade das galas e ornatos, os gostos esquisitos e raros, que sempre
aparecem nos grandes concursos, e depois o tanger das violas, o cantar dos
menestréis, o versar dos poetas, os jogos, as rodas e os bailes das donzelas, a
formosura das damas, realçada pelas roupas, que ordinariamente levam de novo
nesta ocasião, os colóquios dos amantes, os zelos e ciúmes dos namorados, os
arrufos das noivas, e gaifonas dos pretendentes, são capazes de alegrar e
divertir o mais hipocondríaco e fleumático temperamento.
Além desta havia ainda outra festa
religiosa na igreja da Virgem no dia primeira das Ladainhas e Exorcismos de
Maio, em que o clero, senado e povo ia implorar-lhe a protecção para lhe
preservar de todo o perigo as suas plantações e sementeiras, e durou até ao ano
de 1678, em que D.
Ricardo Russel, 2º bispo de Portalegre a transferiu para a
igreja dos frades Agostinhos descalços, que era próxima da vila.”
Fui à Senhora da Graça
Fui sempre devagarinho
Eu devo ganhar a taça
Porque fui rezando p´lo caminho.
Há festa e romaria
Neste recinto sagrado
Canta-se com alegria
Canções, poesias e fado.
Nossa Senhora da Graça
Nossa santa padroeira
Esta quadra tem menos graça
A que deve ganhar é a primeira.
José Maria Reizinho Mendes
Relação da despeza feita com a
festa de Nª Srª da Graça
Anno de 1848
- Pago a Colegiada da Matriz pela
missa cantada - 4$800
- Ao Thezoureiro da Matriz,
Joaquim Pedro Tavares repiques de sinos - $240
- Ao Thezouro da Freguesia do
Espirito Santo o Revº Pe. Jose Antonio Vieira por ofertar com a cruz - $480
- Ao mesmo de repiques de sinos
-.$240
- Ao Reverendo Pe. Jose de Bastos
pelo sermão -3$200
- Ao Mestre da Filarmonica Antº
Jose da Silva Patacho - 8$160
- A Dionisio Semedo por 1,5 K de
cera a 390 - 5$850
- A Manuel Correia duas dúzias de
foguetes - 1$200
- Por 6 quartilhos d´azeite para
luminárias - $360
- Azeite para a Alampida em todo o
anno - $910
- A Jose Deniz por armar a Igreja
- $480
- Com o concerto de fechaduras -
$240
- Com a missa de S. Tiago em 1847
- $480
- Dita de S. Vicente Ferrer no dia
da festa- $480
- Ordenado - $480
- Lavage da roupa - $140
- Por huma almotolia de lata -
$180
- Com a missa de S. Tiago em 1848
- $480
- Soma ---- 28$400
Recebemos as quantias que na
relação supra, nos vão designados.
Niza, 27 de Abril de 1848
O Distribuidor da Matriz - Pe.
Joaquim Maria Tavares Portugal
O Thezoureiro do Espirito Santo -
Pe. João Antonio Vieira
O Thezoureiro da Matriz - Pe.
Joaquim Pedro Tavares Portugal
Pe. José d´Almeida Bastos