À minha terra
I
Qual namorado, que na campa estreita,
Onde descansa uma mulher amada
Encosta a fronte num sonhar distante
E deixa perpassar visões diversas,
Também eu, ao longe, ó minha terra,
Sinto meus olhos pobres de te verem,
De contemplar, à tarde, os teus vergéis
E a boca sequiosa dos teus beijos!
II
Aqui, longe de ti, ó berço amado,
Não há canções em bocas campesinas,
Nem contos de rainhas ao luar
A ruminar na mente das crianças!
É inverno em abril... e quando as flores
Vêm por graça algumas nas janelas,
Distrair nosso olhar neste vazio
Mais se aviva em meu peito a saudade!
III
E quando busco o pálido reflexo
Da tua formosura, ó Nisa minha,
Julgo encontrá-lo em terras ignoradas,
Em mundo que ninguém jamais verá!...
Tu és a flor nascida entre o deserto,
És a eterna canção maravilhosa,
Que aos meus ouvidos soa qual segredo,
Que só eu compreendo, ó minha terra!
José Gomes Correia (Nisa 22/6/1922 - 2/7/1983