Ouvem-se as mais inspiradas teorias da conspiração e outras que apontam o COVID-19 como uma defesa da natureza, ou castigo de Deus, qual praga infligida aos egípcios. Prefiro recordar o escritor de ficção científica, Isaac Asimov, com a sua afirmação: “Apenas uma guerra é permitida à espécie humana: a guerra contra a extinção”. Contudo a realidade mostra-nos que a espécie humana é a mais perigosa, em especial quando desequilibra a biodiversidade e destrói ecossistemas que nos protegeram durante toda a nossa existência.
Agora, as pessoas devem valorizar melhor o SNS, depois de verem alguns “bestiais” serviços de saúde privados, a voltarem as costas às pessoas! O SNS resistiu aos ataques e felizmente ainda existe; é o principal garante da sobrevivência das pessoas. Espera-se que esta dura lição leve as pessoas a repensar o modelo de vida egoísta e desta sociedade consumista. E já agora, que se perceba que sem pessoas, não há economia…
Se não aprendermos com esta lição, a precariedade pode ser a regra, a finança a nossa religião e a direita pode refazer a sua estratégia. André Ventura deu o exemplo do verdadeiro populista com a sua “demissão”! Esperemos que além dos polícias, também se preocupe com a falta de condições dos médicos, enfermeiros, técnicos, auxiliares e bombeiros, entre outros.
Com a Alemanha e a França a entrarem em recessão, o ministro das finanças holandês, ficou preocupado com a falta de capacidade financeira da Espanha, perante uma pandemia global; a Europa em desconstrução mostra a sua desunião e ineficácia, quando era mais precisa e recorda a sua vocação para injetar dinheiro no sistema financeiro, no lugar de apoiar diretamente os Estados membros.
Pagamos milhões de euros à Turquia para estancar os refugiados, mas estanca os ventiladores vitais pagos pelos espanhóis; França e EUA, também estão a reter material destinado a salvar espanhóis e italianos. Vale tudo e a ONU não passa de um muro de lamentações que viu impávida, Trump a levar a sua estupidez ao extremo, com Bolsonaro e Boris Johnson a reboque desse irresponsável populismo.
Com o medo provocado por este novo vírus, esquecemos os “vírus” da incompetência do Banco de Portugal e da corrupção no Conselho da Magistratura entre outros. Agora, a hora é de salvar populações! Mas o medo é relativo e no sistema público, exceto o “colarinho branco”, andam técnicos e forças de segurança de distritos para distritos, aparentemente imunes. É um país que continua a várias velocidades, com pessoas a mostrarem que somos grandes e outras a mostrarem que somos irresponsáveis.
Apesar das gafes sobre a falta de material, nem se pode dizer que, o governo ande mal, mas nem a especulação sobre bens essenciais consegue controlar. Agiu tarde na emergência sanitária, em especial nas pessoas institucionalizadas, na proteção às vítimas dos predadores laborais; falhou à maioria, às pequenas e microempresas, assim como aos empresários em nome individual que tanto incentivaram; a falta de solidariedade para com os mais vulneráveis e a falta de atitude para com o oportunismo de grandes empresas com os despedimentos e um lay-off desajustado.
Na Educação assiste-se a um impasse incompreensível e um conhecido sindicalista foi “trucidado” por afirmar que os professores estão exaustos… foi vítima da sua falha de comunicação – os professores já estavam exaustos antes desta pandemia e agora estão desorientados com um Ministério a patinar, os alunos a esperar e os pais a desesperarem…
Mas, num cenário político consciente favorável, o governo PS tem o mérito de assumir e tentar resolver os problemas a tempo, reconhecendo que um governo lento, pode originar um país condenado. Há um esforço nacional que envolve autarcas, movimentos sociais e até o cidadão que cumpre e contribui para a vitória nesta guerra que mesmo assim vai deixar muitas marcas. A vitória vai ser dos que lutaram e disseram sim ao combate ao Covid-19. Para a recuperação já existem propostas – haja coragem! As comemorações do 25 de Abril, também ficam de quarentena e percebe-se, mas o que já devia ter saído de anos de quarentena, é o espírito de Abril… E já agora, não ponham a sensatez de quarentena, é que podemos vir a ter réplicas desta pandemia. Estamos na época da ressurreição, mas acreditem que tal como as oportunidades na vida, a ressurreição não é para todos.
Paulo Cardoso -10-04-2020 - Programa "Desabafos" / Rádio Portalegre