26.4.20

ABRIL: Da Liberdade e da Esperança - Poesia XXV


DÁDIVA 
Rasga o ventre da terra sem piedade
à lâmina de enxada,
a trilhos de charrua.
Queima-o, alaga-o
do anseio infinito
que em cada gesto teu
põe a mudez de um grito
no recorte do céu.
E uma ruga que fala em tua face
qual cicatriz de navalha
feita pela mão do tempo
na alma de quem trabalha.
Calca!
Espezinha!
Retalha!
que ela depois da violência
que em lucidez de demência
tu puseste em cada gesto,
fechada nos seus mistérios
que pesam uma eternidade
- de cada golpe de enxada,
de cada rasgão dos trilhos,
fará nascer uma flor
que irá matar a fome dos teus filhos!
Joaquim Vermelho
Foto: Desfile do 25 de Abril em Montemor-o-Novo (1986)