13.4.20

ABRIL: Da Liberdade e da Esperança - Poesia (XIII)

Os Poetas 
É preciso ler os poetas
na sua língua
com rodelas de tomate
e um fio de azeite
ao correr de cada verso.

É preciso chorar
as lágrimas que eles insistem
em soltar no silêncio
de indecisas madrugadas.

É preciso ouvir
o modo como caminham cantando
contra os muros revestidos
pelo arrepio das barbáries.

É preciso aprender com eles
a arte tranquila de habitar a brisa
em Maio
e dedilhar
o alaúde lunar
por baixo dos aloendros.

É preciso dizer que eles são poetas
perigosíssimos seres de olhos carregados
do mais doce sumo das cerejas.

São poetas e voam
como pombas na sílaba do mel.

São poetas e guardam
com horror a memória de terras
profanadas.

Nascem em Lisboa
Dublin
em Granada ou num gueto
de Varsóvia.

Se alguém te perguntar
ó meu irmão
diz que eles são poetas.
Bebem pétalas caminham
sobre a água das palavras.

São poetas
e venham de onde vierem
nasceram sempre ao teu lado
meu irmão
na raiz
do perfeito coração. 

 José Fanha, poesia
Foto: Mário Mendes - 25/4/2015