O frade ou a mulher ervilhada
Foi um frade a casa de uma mulher casada, e foi quando o marido estava fora, a trabalhar no campo. Este voltou mais cedo do que o costume.
A mulher não o esperava, e escondeu à pressa o frade num canto da casa. Mas, não tendo tempo de esconder os calções do frade, que estavam pendurados, o homem, que entrou e os viu, ficou mal impressionado e saiu outra vez.
A mulher foi contar a uma comadre o que tinha acontecido:
- Ai, comadre, valha-me Deus, o meu homem viu os calções do frade!
Deixa lá, que eu logo arranjo isso... Que foi que ele comeu?
- Comeu ervilhas.
- Pois amanhã levo o almoço ao campo, em teu lugar, e digo que ficaste doente na cama.
Assim fez, e para melhor se sair do negócio, vestiu os calções do frade por baixo da saia.
Quando a comadre levou o almoço, o homem estava sozinho. Diz ela:
- Deus te salve, compadre, mais a companhia que tens ao pé.
Respondeu ele: - Ó comadre, eu estou sozinho, não tenho mais ninguém.
Logo ela: - Desculpa, compadre, comi ervilhas, ando ervilhada: uma coisa me parecem duas.
- Ó comadre, foste um Deus que aqui me apareceste. Eu ontem também comi ervilhas, e também me pareceu que vi em minha casa duas pessoas, minha mulher e outra pessoa com ela. E estava com sentido de ir matar a tua comadre...
Ela postou-se diante dele, com a saia alevantada, e viam-se os calções do frade que ela tinha vestido. E disse:
- Estás a olhar, compadre, para os meus calções? A comadre também tens uns, irmãos do meus...
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Conto recolhido em Nisa, em 1933 - in "Contos populares e lendas" - coligidos por J. Leite de Vasconcelos.