MALTÊS (1958)
Nasci do sonho-pousio
E atrás dele corri mundo
Vive em mim um desafio
À sina de vagabundo
Tenho os meus pés calejados
Da vingança dos restolhos
O esbrasido das queimadas
Ainda a guardo nos olhos
Sou maltês, venho dali
Da planície esquecida
Nas horas do Verão
E um gosto de solidão
É o que me traz nesta vida
Destas terras sou o dono
Dormindo à sombra dos montes
Amo, odeio, abandono
Como o sol faz com as fontes
De dia sou barco à vela
A planura é o meu mar
E à noite bebo uma estrela
Nas carícias do luar
Em tardes de nostalgia
Na lembrança vejo a mágoa
Do grito dos chaparrais
Suplicando aos céus por água.
José Moedas – Poemas da Vida