Sem prejuízo de uma avaliação mais alargada e profunda, importa de imediato realçar os pontos mais salientes, por gravosos, na intervenção, em solitário, de António Costa sobre a retoma económica e social do país a partir da próxima segunda feira, num processo que se aponta como progressivo e faseado, entre 4 de Maio e 1 de Junho.
Comecemos pelo FUTEBOL. A importância dada ao setor deriva de a «solução» ter sido guardada para remate da comunicação ao país, para ser por todos retida e bem mastigada na euforia que traz de volta aos consumidores mais alienados do espetáculo futebolístico .
Antes do anúncio de hoje, o modelo já se antevia, depois da reunião do próprio primeiro ministro ((não lhes bastava o secretário de estado do desporto) com os presidentes da federação e da liga profissional do futebol, acompanhados (claro) por Luís Filipe, Jorge Nuno e Frederico Varandas.
A Holanda e a França já anunciaram com clareza (e elementar bom senso) que tais manifestações de massas nunca serão retomadas antes de Setembro. Por cá, quem manda são os interessados e não a lógica da saúde pública. A DGS vai analisar o «protocolo» de segurança sanitária apresentado pelos protagonistas desta indústria do escândalo, em que o visto favorável já o é antes de o ser, quando Costa refere que tudo está salvaguardado por os clubes disporem do melhor que há em Portugal em matéria de medicina no trabalho.
O mais chocante é o desafio de alguns que já retomavam os treinos (chamando lhes outra coisa) há três semanas, quando o cidadão comum não podia sequer sair à porta de casa sem motivo que ultrapassasse a doença (ir à farmácia) ou a sobrevivência (mercearia ou supermercado).
Só para concluir a primeira liga. Também considerada profissional, nem sequer a segunda tem direito a rematar honradamente o que falta jogar, e permitir que Nacional da Madeira e Sporting Farense (ou Feirense) possam voltar ao convívio dos «grandes» por via desportiva fisicamente pura.
A federação portuguesa de futebol já há muito tinha dado por concluídos os campeonatos ditos «amadores». Outras modalidades (nomeadamente «de pavilhão») tiveram, piedosamente, igual sentença. Nelas, muitos atletas que de amadores não têm nada, mas recebendo salários bem modestos, já engrossaram o caudal dos portugueses em aflição por lhes faltar o essencial, o básico para as suas vidas e dos seus familiares. Estando, com humilhante vanglória pública dos protagonistas, a sobreviver com a caridadezinha praticada pelo punhado de futebolistas e treinadores com ganhos astronómicos, situação que, no rescaldo deste tempo e na busca de uma época diferente, deveria ser radicalmente alterada.
Depois de tanta gente bloqueada por quarentena forçada, importante era permitir e estimular que, sempre com regras adequadas, o maior número de crianças, jovens, adultos, idosos (sim, também esses…) retomassem, para bem da sua saúde física e emocional, prática desportiva com sentido de lazer e usufruto de tempos agora (mais) livres…
A seguir, trataremos, das opções transmitidas para a prática religiosa e o regresso presencial às aulas, nomeadamente o que se disse sobre creches e acesso ao ensino superior.
José Manuel Basso