3.5.20

OPINIÃO - A Retoma - Novos e velhos Efes (II)

Não podendo ainda celebrar FÁTIMA no 13 de maio, o primeiro ministro recebeu o cardeal patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, para analisar o regresso das homilias às igrejas, deixando de ficar limitadas à transmissão pelas televisões. Num país de liberdade de culto, nada de anormal, embora também aqui não nos pareça que a condução fosse, por parte do governo, protagonizada a um nível tão alto. A não ser que esta aparição tão forte de Costa tenha a ver com a vontade de ser candidato presidencial em 2026 e isso já marque toda a sua agenda e vontade de forte protagonismo. E a igeja católica é um parceiro importantíssimo a ganhar ou, pelo menos, a neutralizar no apoio ao concorrente que a direita venha, nessa altura, já liberta de Marcelo, a apresentar.
Repetimos: na prática política portuguesa esta comunhão de interesses não é novidade. Algo impensável nos países que levam a sério a separação entre o estado e a(s) igreja(s) e asseguram uma natureza (mesmo) laica do regime democrático.
O que criticamos, quando as próprias frações religiosas já atuam muitas vezes de forma comum ou convergente, é o governo receber apenas um alto dignatário dos católicos e não (igualmente) os que celebram nas mesquitas e sinagogas.
As FACULDADES  são algo que foi apresentado (acesso ao ensino superior e atividade própria) de maneira irrazoável, pelo que disse e pelo que não disse. Desde logo por calar se vai haver ou não a retoma das aulas presenciais nas universidades e politécnicos.  Porque certamente, invocando a autonomia (que não é para isso), cada estrutura académica faria como entendesse. Porque já foi assim no encerramento de escolas em março. Enquanto os outros níveis de ensino, uniformemente, cessaram a atividade nos termos definidos por quem manda, no superior foram fechando e passado à aprendizagem à distância cada um no momento que entendeu, em função do maior ou menor medo que o vírus corona causou a cada reitor ou presidente. O que desautorizaria o governo e isso, politicamente, não é o  que melhor calha ao (também ) secretário geral do Partido Socialista.
 Significativo também na marca ideológica que ostenta é o regresso urgente dos alunos do 11º e 12º anos às salas de aulas. Na generalidade dos países recomeça primeiro o ensino básico. Não estamos honestamente, em condições de opinar de forma segura sobre a ausência de perigos que tal pode acarretar para a saúde dos mais pequenos. Contudo, aí sim. é bom de ver (sem margem para dúvidas) que o pensamento está na preparação parcial (só conta mexer nas disciplinas que tocam na questão do acesso ao superior) para, em termos ainda mais elitistas, saber quem tem a melhor nota para ingressar na universidade.
Nada nos move contra a seleção dos jovens na escola, na aferição do mérito. Obviamente, é mesmo algo, nos nossos dias, incontestado de uma maneira geral . O que está mal é a confissão descarada de que o objetivo central (quase único) é a preparação mínima para realizar os exames. Que, na generalidade dos países europeus, para prevenção da segunda vaga da pandemia, ficou de ser reiniciada presencialmente só em setembro.
 Afinal, numa perspetiva que não implica formação pedagógica especial, qualquer cidadão de bom senso deve encarar o papel das escolas, dominantemente, como elemento que garanta a melhor aprendizagem e formação e, ao menos aí, esbater o mais possível, a desigualdade social que vem da família e da sociedade. 
José Manuel Basso