O presidente da Comunidade Intermunicipal da Beira Baixa (CIMBB) afirmou hoje que "é inadmissível" ver a tomada de decisão do prolongamento do funcionamento da central nuclear espanhola de Almaraz "quase pela calada da noite".
"É inacreditável que, em pleno século XXI, uma decisão destas seja tomada sem haver um processo transparente de audição das pessoas. Parece que tudo é feito às escondidas", afirmou à agência Lusa o presidente da CIMBB.
O Conselho de Segurança Nuclear (CSN) espanhol autorizou o prolongamento do funcionamento da central nuclear de Almaraz, em Espanha, até outubro de 2028, sendo que impôs 13 condições e limites a serem cumpridos.
Em comunicado a que a agência Lusa teve hoje acesso, o CSN informa que decidiu favoravelmente a solicitação da renovação da autorização de exploração da central nuclear de Almaraz, cuja vigência terminava em junho.
"O plenário do CSN acordou informar favoravelmente a solicitação da renovação da autorização de exploração da central nuclear de Almaraz (Cáceres), cuja vigência terminava em junho. Concretamente, permite o funcionamento da unidade I até 01 de novembro de 2027 e a unidade II até 31 de outubro de 2028, que iniciaram o seu funcionamento em 1981 e 1983, respetivamente", explica, em comunicado, o CSN.
Luís Pereira que também é presidente da Câmara de Vila Velha de Ródão, no distrito de Castelo Branco, sublinhou que não foi completamente surpreendido com esta decisão.
"Era algo que já se percebia que iria acontecer. É muito mau quando os interesses económicos se sobrepõem aos interesses das pessoas. O Governo [português] terá aqui uma palavra a dizer", sustentou.
O presidente da CIMBB e da Câmara de Vila Velha de Ródão realça que se está a falar de uma instalação que já ultrapassou o seu período de vida útil, que regista um histórico de incidentes e cujo encerramento continua a ser adiado.
"Ficamos apreensivos perante este cenário. Isto desacredita o poder político, quando a economia prevalece sobre toda a racionalidade que deve ser observada numa situação destas", conclui.
A central de Almaraz está situada junto ao rio Tejo e faz fronteira com os distritos portugueses de Castelo Branco e Portalegre, sendo Vila Velha de Ródão a primeira povoação portuguesa banhada pelo Tejo depois de o rio entrar em Portugal.
Em operação desde 1981 (operação comercial desde 1983), a central está implantada numa zona de risco sísmico e apenas a 110 quilómetros em linha reta da fronteira portuguesa.
Os proprietários da central de Almaraz são a Iberdrola (53%), a Endesa (36%) e a Naturgy (11%).
Lusa 08-05-2020