1.5.20

ABRIL: Da Liberdade e da Esperança - Poesia XXX

“O Meu filho deu-me uma jaqueta...” (1956) 

O meu filho deu-me uma jaqueta
Mas dela tem precisão
Mas deu-a ficou sem ela
P´ra não ver seu pai em pelão.

Eu inda espero de lha pegar
Porque sou conhecedor
Que o meu filho fica ao rigor
P´ra seu pai agasalhar.
Se a Providência me ajudar ,
Eu sigo uma linha direita,
O que te eu der, meu filho, aceita,
Que eu já não conheço o meu brio.
E p´ra eu não ter tanto frio
O meu filho deu-me uma jaqueta.

Mesmo assim já usada
P´ra mim tem muito valor.
Dentro do meu interior
Já ficou enraizada
Porque inda não está degenerada
Do meu filho a geração.
Mostraste-me o coração,
É muito parecido ao meu,
E foi verdade que ma deu
Mas dela tem precisão.

Não abala do meu sentido
Enquanto eu existir
Por ver o meu filho se despir
P´ra ver seu pai vestido.
Comigo tem repartido
Mesmo da pouca farpela,
O meu filho por mim zela,
Chegou p´ra mim uma brasa,
Tinha duas lá em casa,
Deu-me uma, ficou sem ela.

Está cumprindo o seu dever,
Ser do seu pai a defesa.
Mas se não tivesse natureza
Podia não no fazer.
Se eu precisar de comer
Em qualquer ocasião
Um bocadinho de pão,
Se tiver também mo dá,
Porque se está a desfardar já
P´ra não ver seu pai em pelão.

António Joaquim Lança -Vila Alva (Cuba)