Com o objetivo de promover esta arte em todos os sectores da sociedade, divulgar a diversidade musical e incentivar a partilha de experiências, amantes e simpatizantes de música desfrutam, neste dia, de programas musicais especiais, na maior parte das vezes gratuitos.
"Portal de Nisa" assinala esta efeméride com um conjunto de textos sobre as Bandas de Música do concelho, publicados em 2001 na "Revista Cultural" do Município de Nisa, publicação que não teve a devida sequência.
SOCIEDADE FILARMÓNICA ALPALHOENSE
"Já conta com 141 anos de existência e é motivo de orgulho. Com o nome de Banda de Alpalhão foi fundada em 1860.
Com 15 elementos apresentou-se ao público pela 1ª vez,
acompanhava a procissão na romaria de Nossa Senhora da Redonda, era a 2º feira
da Páscoa.
A banda terminou em 1916 mas reaparece em 1922. Desta vez
com 12 elementos, toca na festa do Mártir São Sebastião. Em 1925 o crescimento
da banda é visível, encontrava-se já com 25 elementos.
Em 1930 surge como Sociedade Filarmónica Alpalhoense e até hoje assim ficou conhecida.
José Barradas com 46 anos, é hoje músico e presidente da
direcção da banda. Com paixão pelo que faz, enfrenta agora o dilema da sede da
sua banda. Esta encontra-se na Casa do Povo e, por motivo de obras, vai ter que
abandonar a sede e surge a pergunta: "para onde é que vamos?".
Já passaram pela Sociedade Filarmónica vários mestres. José
dos Anjos foi quem permaneceu mais tempo na banda, seguiu-se a maestrina Maria
Manuela Bagulho e mais tarde Edmundo Manaças. Desde há 3 anos é liderada por Humberto
Damas, maestro vindo do Crato.
Encontra-se uma banda essencialmente jovem com cerca de 23
elementos. Vai tendo sempre saídas e para atingir os 26/30 elementos esta banda
é auxiliada pela Banda do Crato, Alter do Chão e Póvoa e Meadas. Gravou a
música "O nosso Alentejo" para o cd das Bandas Filarmónicas do
distrito de Portalegre, ano 2000.
Enfrenta algumas barreiras para se apresentar ao público. A falta de dinheiro é dos piores inimigos, os instrumentos compram-se a preços exorbitantes, mesmo assim a banda continua e às 3ªs e 5ªs são dias de ensaio.
Armando Martins, com 76 anos já lhe falta o ar nos pulmões e
a idade não perdoa. É um ex-músico desta banda, para além de ser o único
Armando
Durante 62 anos dedicou-se à Banda de Alpalhão. Também
aprendiz de sapateiro, as notas musicais não lhe escapavam enquanto tocava
trompa e trombone.,
Agora resta-lhe recordar os tempos em que tocava com camisa
branca, gravata e sapato preto, impecavelmente vestido. Era assim que viajava
de carroça para as actuações com a banda. Depois de alguns copinhos, da
Cunheira à estação houve "festa de pancadaria", era ele e o
"Mestre Abílio", hoje motivo de gargalhada. Eram costume estas brigas
entre elementos da banda.
Não perde as arruadas feitas pela banda, "o músico é uma arte". Considera o povo "ingrato", os músicos não são reconhecidos, "nós merecemos mais".
Pessoa simples e humilde, foi dos músicos mais pontuais nos
ensaios. Não quer deixar morrer aquela
que foi a sua banda.
Hoje lê os seus jornais, ainda dá uns retoques nos sapatos
dos vizinhos porque este homem acha que "parar é morrer".
No dia desta entrevista, Armando Martins expressou a José
Barradas o desejo de ter o instrumento de volta, "trá-lo para cá que eu
dou-lhe assim uns toques". No mesmo dia, José Barradas foi entregá-lo e a
emoção tomou conta do ex-músico.
Sonha com a banda, deu o que podia à música. Gostava de ir
ainda à França com a Sociedade Filarmónica Alpalhoense, mas a saúde nem sempre
dura, "não posso ser eterno".
António Nabo com 76 anos, ainda é músico na Banda de
Alpalhão, começou com 12 anos. Além de sapateiro trabalhou na fábrica de
lanifícios de Portalegre. Juntou-se também à banda desta cidade; a música
jamais caia no esquecimento.
É a alegria e distração que fazem dele ainda um músico
devoto. É hoje o elemento mais velho, sente-se o pai da banda, toca requinta.
Em 1990, foi mestre da Sociedade Filarmónica durante alguns
meses. Apesar da idade é respeitado na banda, ele próprio a anima. Guarda na
memória as saídas. Tocou na inauguração do Hospital de Nisa. Numa saída a
Cáceres (Espanha) e depois de beber alguns copinhos, António esqueceu-se do
boné e o seu amigo Sebastião da camisa. No ano seguinte, ainda lá estavam as
peças de roupa na casa onde tinham dormido.
As pernas e os joelhos já o atraiçoam... um dia vai ter que
abandonar a banda. Por enquanto "vou para a música e esqueço-me de
tudo".
in "Revista Cultural" - CMNisa - 2001