É
hoje (31.10.2023) inaugurado na antiga Rua de S. Pedro em Nisa e por
iniciativa da Santa Casa da Misericórdia, o Polo Museológico
Augusto Pinheiro. Pintor de referência da chamada "Arte Naif"
e natural de Nisa, é, ainda hoje e mais de um século após o seu
nascimento, um "ilustre desconhecido" para grande parte dos
seus conterrâneos. Augusto Pinheiro foi homenageado pela Câmara
Municipal de Nisa em Abril de 1987 e o discurso de HOMENAGEM aqui
fica a ilustrar duas realidades distintas, mas que convergem para dar
a conhecer o HOMEM, o ARTISTA e a OBRA pictórica que nos legou.
(Discurso
proferido no dia 20 de Abril de 1987 - Feriado Municipal - na Sessão
Solene de Homenagem a Intelectuais Nisenses -
Augusto
Pinheiro, comerciante de profissão, viveu até aos 66 anos afastado
das tintas e pincéis.
Fazia
muitos desenhos para bordados, actividade a que se dedicava sua
esposa.
Publicou
dois números da revista de bordados "Ponto Real", com
muitas flores e ramagens.
Ficava
bastante impressionado quando visitava uma exposição de pintura, e
com o desejo enorme de começar também a pintar.
Um
dia pegou num lápis de cor e papel e fez um lindo desenho. Do papel
passou ao pano e começou a fazer um pequeno quadro. Daí em diante
nunca mais parou. Em 1970/71 passou pela Casa Ferreira a comprar as
primeira tintas a óleo, os secantes, e aprendeu a isolar as telas de
linho, as quais também são preparados por si.
Dois
anos mais tarde, já com os quadros prontos, escreveu ao senhor
arquitecto, crítico e pintor Mário de Oliveira, pedindo o favor de
passar pelo seu escritório para lhe mostrar umas simples pinturas.
Viu, gostou, e o pintor nem queria acreditar, parecia uma criança,
pois julgava que tudo aquilo era uma brincadeira sem valor.
Foi
o arquitecto Mário de Oliveira que o encaminhou e encorajou para
continuar a pintar, pois logo que tivesse duas ou três dezenas de
quadros, voltaria a aparecer para seleccionar algumas das suas obras
para um dia fazer uma exposição.
Foi
o seu primeiro êxito, pois a crítica a considerou como a mais
coerente e inventiva. E pela mão daquele conceituado crítico, nesse
mesmo ano, foi seleccionado para a exposição da A.I.C.A.
(Associação Internacional dos Críticos de Arte), na Sociedade
Nacional das Belas Artes, uma das exposições mais exigentes,
porquanto é organizada por aquela associação.
A partir desta importante e significativa exposição a carreira
artística de Augusto Pinheiro, teve sempre os maiores êxitos.
Em
Madrid, em Maio de 1976, Augusto Pinheiro expõe na Galeria "Moderna",
especializada em arte "Naif". Foi um êxito total. Todos
ficaram surpreendidos com a força cromática dos seus quadros, e,
sobretudo, pela subtileza dos matizes.
Augusto
Pinheiro, ganha aí os pergaminhos de um dos maiores pintores
internacionais dentro do movimento "Naif", de tal maneira
que o grande psiquiatra espanhol Vallejo Nagera, autor de vários
livros e ensaios sobre a arte "Naif", classificou Augusto
Pinheiro como um caso singular, não só pela sua pureza de emoções,
onde por vezes o poético e o mágico se integram, como
principalmente pela capacidade do seu iluminismo exterior.
Não
merece apenas citar os seus grandes êxitos artísticos depois desta
exposição de Madrid, mas é justo dizer que chegou até Paris, no
Salão dos Independentes, em Janeiro de 1982, e que em Lisboa teve em
seguida grandes êxitos, mormente nas exposições da Galeria de S.
Francisco e na Galeria "O País".
Como
estamos na terra do pintor, é justo informar ainda, que Augusto
Pinheiro, obteve também grandes êxitos nos Salões Ibéricos,
organizados pela galeria do Casino Estoril, considerando o director
desta prestigiosa galeria, Dr. Lima de Carvalho, as pinturas deste
puro Naif como das melhores.
Augusto
Pinheiro, continua a pintar com um entusiasmo autenticamente juvenil,
o seu mundo imaginário, a sua ingenuidade perante o aspecto
inspirador, e a transformação formal das coisas objectivas, deve
ser entendido como o caminho pela qual o artista se alcança a si
próprio, numa convicção íntima de toda a autenticidade da
substância do seu ser.
Meus
senhores, e minhas senhoras, para terminar, penso que talvez seja
oportuno dizer, o que é a pintura "Naif". Como se sabe,
"Naif" é uma palavra francesa que tem muitos e variados
significados, tais como ingénuo, simples, espontâneo, puro, etc. É
uma arte, que nada tem de comum com a chamada arte erudita, e que
constitui hoje um dos fenómenos sociais e artísticos à escala
mundial.
E,
Nisa, pode-se orgulhar, de possuir entre os seus filhos, o pintor
Augusto Pinheiro, que já está classificado como um dos pintores
mais significativos, não só no âmbito nacional, como
internacional.
A
arte é, sem dúvida, a forma mais positiva de comunicação. O
artista erudito comunica uma mensagem; o artista que pratica o Naif
não nos oferece essa mensagem, antes pinta como quem conta uma
história ou relato emocional da sua personalidade.
É,
isto, afinal, que nos tem oferecido Augusto Pinheiro: contar
histórias da sua imaginação, cheia de encanto, de pureza e de
lirismo.