O que é que o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, e o fundador da Web Summit, Paddy Cosgrave, têm em comum? Ambos foram censurados por terem feito declarações sobre o conflito entre Israel e a Palestina.
Recordemos.
“Estou impressionado com a retórica e as ações de tantos líderes e governos ocidentais, com a exceção particular do Governo da Irlanda, pela primeira vez estão a fazer a coisa certa. Os crimes de guerra são crimes de guerra mesmo quando cometidos por aliados e devem ser denunciados pelo que são”, disse o ex-CEO da cimeira que se vai realizar em Lisboa de 13 a 16 do próximo mês.
Após a afirmação, o empreendedor irlandês foi bombardeado. Amazon, Google e Meta desistiram de participar no evento. Outras tecnológicas idem. Para minimizar os dados, Paddy Cosgrave demite-se e a cimeira dos unicórnios e da inovação passará a ser a cimeira da censura e de um wokismo lobista e extremista.
Percebe-se o esforço que Carlos Moedas faz para tentar minimizar a polémica, até porque a Câmara de Lisboa vai subsidiar o evento em sete milhões de euros e, portanto, tem de correr bem. Mas a convenção já tem o selo da censura. E a autarquia fica associada a ela.
Já António Guterres também foi vítima da política do cancelamento, após ter dito que “os ataques do Hamas não aconteceram do nada” e que “o povo palestiniano tem sido submetido a 56 anos de ocupação sufocante”. Há quem tenha interpretado a declaração como forma de justificar o terrorismo, incluindo atores políticos de Direita - ainda que Guterres tenha feito a clarificação do inverso no mesmo momento em que fez as citadas referências.
O secretário-geral da ONU disse a verdade, como tem dito tantas outras sobre as alterações climáticas, uma das suas bandeiras. Se terá sido o melhor momento diplomático para o fazer é outra questão. Viu-se na necessidade de esclarecer o óbvio. Resta saber quanto custa a verdade.
* Manuel Molinos - Jornal de Notícias - 27 outubro, 2023