Milhares de pessoas manifestaram-se hoje no centro de Londres em solidariedade com os palestinianos em Gaza num clima de tensão e segurança reforçada.
O protesto foi organizado pelas organizações Campanha de Solidariedade com a Palestina, Amigos de Al-Aqsa, Coligação “Stop the War”, Associação Muçulmana da Grã-Bretanha, Fórum Palestiniano na Grã-Bretanha, Campanha para o Desarmamento Nuclear.
No local estavam também sindicatos da função pública e partidos de extrema-esquerda como o Partido Socialista dos Trabalhadores (Socialist Workers Party), adeptos de clubes de futebol e ativistas LGBT.
O objetivo era mostrar “solidariedade com a Palestina e exigir que Israel ponha termo à ocupação das terras palestinianas e ao regime de ‘apartheid’ sobre o povo palestiniano”.
Na multidão era possível ver numerosas bandeiras palestinianas verdes, brancas e vermelhas e lenços típicos árabes ‘keffiyeh’ e cartazes a exigir “Liberdade para a Palestina” e “Fim do cerco a Gaza”.
A concentração começou ao Consulado-Geral de Portugal em Londres e à estação de televisão pública britânica BBC, cujo edifício foi salpicado com tinta vermelha durante a noite por um grupo pró-palestiniano.
“A Palestine Action deixou uma mensagem durante a noite para a BBC: espalhar as mentiras da ocupação e forjar consentimento para os crimes de guerra de Israel significa que têm sangue palestiniano nas vossas mãos”, escreveu o grupo na rede social X.
O protesto em si começou de forma pacífica, com a participação de muitas famílias empurrando crianças em carrinhos de bebé ou nos ombros.
Jakir Husain acompanhou a marcha com o filho de cinco anos, que segurava um cartaz escrito em árabe onde exigia a Israel para sair dos territórios ocupados.
“Já tinha vindo a outras manifestações, mas desta vez estão aqui mais pessoas. Temos de por pressão em Israel para acabar com o cerco a Gaza”, disse à agência Lusa.
Um manifestante britânico, que não se quis identificar, afirmou que era importante enviar uma mensagem às autoridades britânicas para não darem apoio militar a Israel.
O Reino Unido enviou esta semana dois navios e três helicópteros para o Mediterrâneo Oriental para apoiar Israel com operações de vigilância e “reforçar a segurança regional”.
Ismael, um jovem adolescente embrulhado numa bandeira da Tunísia, alegou “solidariedade entre árabes” para apoiar a Palestina e estar presente no protesto.
“Não acho bem o Hamas atacar israelitas, mas Israel não pode massacrar palestinianos como está a fazer na Faixa de Gaza”, afirmou à Lusa.
Entre as palavras de ordem gritou-se “Palestina vai ser livre, do rio até ao mar”, um slogan associado à Organização para a Libertação da Palestina, mas também ao movimento islamita Hamas, que é uma organização proscrita no Reino Unido.
O uso desta expressão nos convites foi invocado pela polícia austríaca como motivo para proibir uma manifestação prevista para hoje em Viena por considerar que se tratava de uma incitação à violência.
A polícia britânica, que mobilizou para este protesto mais de 1.000 agentes, avisou nos últimos dias que iria estar atenta a incitamentos à violência em cartazes ou faixas ou ao uso de bandeiras do Hamas.
Por lei é proibido declarar apoio publicamente ou ser membro do Hamas, considerado um grupo terrorista, no Reino Unido, o que pode dar direito a prisão.
Desde os ataques do Hamas em Israel, no sábado passado, que a tensão na capital britânica aumentou, tendo a polícia registado um “aumento maciço” de atos antissemitas na cidade.
O Governo britânico indicou na quinta-feira ter contabilizado 139 incidentes antissemitas em quatro dias, cinco vezes mais do que no mesmo período do ano passado.
De acordo com a polícia de Londres, cujos dados são fornecidos quinzenalmente e que, por isso, abrangem também a semana anterior ao ataque do movimento islamita palestiniano, entre 30 de setembro e 13 de outubro, foram registados 105 incidentes e 75 crimes antissemitas na capital britânica, contra 14 incidentes e 12 crimes no mesmo período de 2022.
O comissário adjunto Laurence Taylor referiu-se na sexta-feira a “comportamentos provocatórios”, “linguagem antissemita”, “intimidação no exterior das sinagogas” e outras infrações mais graves.
A polícia londrina também destacou agentes adicionais para patrulhar as ruas e tranquilizar a população, mas pelo menos três escolas judaicas fecharam temporariamente nos últimos dias por receio de agressões.
Na segunda-feira passada, um protesto junto à embaixada de Israel em Londres resultou em três detidos.
* Executive Digest com Lusa - 14 Out 2023