16.10.23

OPINIÃO: Todos, Todos, Todos

Este ano ficou marcado pela realização da Jornada Mundial da Juventude em Portugal. Este evento reuniu mais de um milhão de jovens oriundos de todos os cantos do mundo. Assim que foi anunciado o evento em Portugal, a direção da Federação das Associações de Dadores de Sangue, à qual tenho a honra de presidir, solicitou uma reunião com a Organização da JMJ, no sentido de aproveitarmos a oportunidade para promovermos a dádiva de sangue junto dos jovens. Fomos recebidos de braços abertos e com a garantia expressa, por D. Américo Aguiar, do apoio total para este propósito.
E assim foi e não esqueço o arranque no COL de Lisboa, no Beato, onde até o D. Américo deu o exemplo com o braço estendido a dar sangue numa unidade móvel do IPST, IP. Depois seguiram-se as ações de colheita e principalmente de sensibilização nas várias dioceses, um pouco por todo o país. Cerca de duas dezenas de Associações de Dadores de Sangue, próximas dos locais de ação, colaboraram nesta missão que envolveu mais de uma centena de voluntários por todo o país.
O desafio, é irmos ao encontro dos jovens, como fazemos nas Escolas e nos encontros nacionais de Escuteiros (ACANAC). Em todas estas experiências, a somar à mais recente da JMJ, é motivante perceber que estamos a transmitir aos jovens, que eles são o futuro da dádiva de sangue e a garantia para que ninguém fique mal, por falta de componentes sanguíneos. É uma experiência maravilhosa. Costumo dizer, não podemos estar à espera que os jovens venham ter connosco, temos de ser nós a ir ter com eles.
Contudo, a crítica ao nosso envolvimento neste evento religioso, não deixou de gerar comentários de quem não percebe que a dádiva de sangue é universal e o nosso trabalho foi para o mundo inteiro. Teria sido até irresponsável, não termos aproveitado esta oportunidade que teve lugar neste país maioritariamente católico. Muitos não sabem que foram vários os padres que deram um importante apoio no aparecimento e crescimento de muitas Associações de Dadores de Sangue.
Também, não deixámos de sofrer os engulhos das críticas em torno dos gastos do erário público na JMJ. Da nossa parte e com a parceria do IPST, ao contrário da gestão megalómana de Carlos Moedas, os nossos gastos foram migalhas; mas mesmo assim, com muito esforço, coragem e inteligência para minimizarmos os custos. Há quem aponte despesas na ordem dos 80 milhões de euros do erário público e há muita gente indignada. Eu também ando indignado, porque não me esqueço da borla fiscal que foi dada ao Grupo Jerónimo Martins, liderado por Soares dos Santos, de precisamente 80 milhões de euros oferecidos por Passos Coelho e Paulo Portas para serem canalizados para a Holanda; O projeto Magalhães do tempo de José Sócrates, custou inicialmente os mesmos 80 milhões, mas chegou aos 200 milhões e o que aconteceu todos sabemos. Uma das críticas mais badaladas, teve a ver com o custo do altar-palco no Parque Tejo Trancão (4,2M€). Afinal reduziram o valor(2,9M€) e com isso baixaram a altura do palco que já se encontra guardado. Quem esteve na Missa do Envio, onde também estive como convidado, percebeu que aquele palco tinha de ser mais alto. Do resultado da JMJ, tenho a esperança que aqueles jovens que abordamos, salvem vidas e isso não tem preço.
 Podia escrever páginas sobre o que está mal na Igreja Católica e sei que o Papa Francisco assinava por baixo, ou não tivesse ele já condenado os abusos sexuais e a descriminação, entre outros. Já André Ventura não assinava, porque apesar de acreditar que Deus lhe confiou uma missão, faz parte do grupo de ultraconservadores radicais que não gostam deste Papa progressista e por isso virou as costas à JMJ.
 Mas sem participar, não se coibiu de difundir notícias falsas sobre imigração ilegal ligada à JMJ. Sabemos bem o que tanto incomoda a extrema-direita com a postura do Papa Francisco, porque é bastante crítico destes radicais ortodoxos. André Ventura, em 2020, não escondeu o que pensa deste Papa, quando afirmou: “Este Papa tem prestado um mau serviço ao cristianismo”. Disse!

No dia da chegada do Papa a Lisboa, andava eu e outros voluntários a distribuirmos informação sobre a dádiva de sangue aos jovens em Belém e perto, estava o Papa Francisco no Palácio da Presidência da República a lamentar o futuro que estamos a deixar aos jovens; referiu os problemas ambientais, as desigualdades e a precariedade entre outros problemas sociais. Eu e os meus companheiros, todos voluntários, fizemos o nosso trabalho, cientes da importância e isentos, porque defendemos que na Dádiva de Sangue, não há religião, política ou nação, todos contam. Como disse Francisco: Todos, todos, todos!
* Paulo Cardoso in Programa Desabafos - Rádio Portalegre - 13.10.2023