9.10.23

Poetas da nossa terra - António Borrego

 
Contemplo o mar
Motas de água deixam um rasto de espuma...
os surfistas cavalgam as ondas
que se espraiam na areia, e, me beijam os pés
este contacto é suficiente...para ficar feliz...
e comovo-me…"por estar aqui"...
o que sinto, tento passar para o papel
se convenço outros a serem felizes...tanto melhor...
o outono vai fazendo a despedida do verão…(suavemente)...
vou só acrescentar às dunas...umas flores...
uns cardos secos, que a brisa suave acaricia...
e já agora, ponho lá também...os gritos das gaivotas
a disputar um pedaço de pão...que a tantos...falha na mesa...
(juro que queria este "escrito" isento de dor)
tenho esta mesa farta de paisagem, à minha frente...
sempre afugenta as coisas medíocres...da maldade...
e do frio toque do medo...
onde os homens se mordem e rosnam...como cães raivosos...
vadios e abandonados...
andarão os puros, de olhos marejados
lábios fechados...mudos...
as espingardas e os bastões irão...(mais uma vez)...
vomitar chumbo e bastonadas...
eu só vou roubar às gaivotas...o seu grito...
porque emudeci...
tapo os olhos e aconchego a cabeça entre as mãos...penso...
como é possível??
bem dizia o Sena...
roubam-me Deus, outros o diabo...
quem cantarei?
roubam-me a pátria e a humanidade...
quem cantarei?
todos me roubam
quem cantarei?
quem nos poderá sonhar o futuro?
….QUEM?....
* António Borrego - 2018