24.10.23

OPINIÃO: A cultura do insulto

Este fim de semana houve mais um caso de insultos racistas num pavilhão, seguido das habituais trocas de argumentos sobre se o insulto foi ou não racista, se o jogador provocou ou respondeu a provocações, se teve mau perder.
A verdade é que está instituída no desporto em Portugal a cultura do insulto. É considerado normal ir para um estádio ou pavilhão e insultar jogadores, árbitros e equipas técnicas como se essa forma de escapar às “pressões do dia a dia” fosse a coisa mais normal do mundo.
Habituamo-nos a ouvir relatos sobre casos destes no futebol e também a minimizar o alcance enquanto problema social grave quando dizemos que noutros desportos o “fair play” impera. Mas a verdade é que, com maior ou menor dimensão e, sobretudo, visibilidade pública, isto acontece em todos os desportos.
É esta cultura que deve ser combatida. Porque na verdade o problema não está circunscrito ao racismo. Está mesmo neste olhar de tolerância que nos faz encolher os ombros ou apenas sorrir quando confrontados com situações em que qualquer coisa serve para insultar o outro, desde que não pertença ao “nosso grupo”. O ideal é que seja árbitro, mas se a isto juntarmos o facto de ser gordo ou magro, alto ou baixo ou tiver o cabelo laranja ou com tranças... Qualquer coisa serve de justificação para insultar.
Claro que o racismo existe e é grave. Mas, seguramente uma parte significativa desses problemas de insultos racistas não aconteceria se o comportamento nos recintos desportivos fosse outro.
Não há educação ou política de formação de crianças e jovens que resista quando toda uma sociedade considera tolerável ir para um estádio insultar adversários em nome de uma clubite absurda e ignorante. E que, infelizmente, tem piorado ao longo dos anos.
* Nuno Marques - Jornal de Notícias -24 outubro, 2023