Desde jovem que ouço os receios de uma terceira guerra mundial. O meu pai falava da guerra fria e eu alertava-o para os problemas do Médio Oriente. Tudo indica que neste mundo global, podemos estar perante uma nova realidade relacionada com a visão estratégica das grandes potências, União Europeia incluída.
A guerra fria não acabou e o Médio Oriente continua a ser um barril de petróleo prestes a incendiar. Enquanto o mundo andava entretido com uma guerra no Leste entre nacionalistas de extrema-direita na Rússia e Ucrânia, esqueceram a fervura do caldeirão inflamado por Israel durante décadas. E no dia 7 de outubro, um comando militar de uma organização terrorista conhecida por Hamas apoiada por outros grupos fundamentalistas, como o governo dos Aiatolá no Irão, neste ataque, mataram de forma cruel, civis israelitas, incluindo crianças inocentes.
A agravar este ataque terrorista, o Hamas ainda fez reféns civis inocentes. A resposta não se fez esperar e o, também, terrorista, Estado de Israel, respondeu na mesma forma cruel, com que durante décadas massacraram e colonizaram o povo palestiniano na Faixa de Gaza, a maior prisão a céu aberto do mundo. Os palestinianos durante décadas foram vítimas de violações dos direitos humanos, várias vezes condenadas pelo ONU, mas apoiadas pelos EUA que na grande fortuna dos judeus na América, têm um seguro de vida.
A ONU tem tido responsabilidades, porque condenou várias vezes Israel, mas não foi consequente. Isto, porque os EUA apoiaram os agressores e invasores israelitas. Mas desta vez, António Guterres deu o murro na mesa e enquanto condenava o ataque terrorista do Hamas, chamou a atenção para a postura colonialista e agressiva de Israel desde há 56 anos. Não se combate criminosos com crimes de guerra contra civis indefesos e encurralados, privados de água e luz. Assim todos têm de ser condenados e Guterres “gritou” por isso. Neste momento ainda assistimos à posição absurda de Israel a negar vistos a representantes da ONU. Absurdo, mas nada de novo; Israel não tem por hábito respeitar o direito internacional.
O governo britânico quer a retratação de António Guterres. No entanto, a Inglaterra ainda não se retratou de ter em conjunto com a França, destronando o império Otomano por interesses económicos, colonizando a região. Já agora, eu também defendo a retratação de Carlos Moedas e André Ventura que em uníssono vieram acusar o PCP e o BE de defenderem o ataque do Hamas. Não pode valer tudo, mentir e enganar as pessoas e denegrir quem não teve essa atitude. Esses dois partidos condenaram o ataque do Hamas, porém chamaram a atenção para a origem do problema com a posição invasora de Israel. A resposta do polémico e descredibilizado governo de Israel coloca em causa o direito internacional ao condenar à morte inocentes e privando-os dos bens básicos. Isto, também são crimes de guerra! Mais da metade dos habitantes de Gaza são pobres, vítimas de um bloqueio aéreo, terrestre e marítimo, que limita inclusive a importação de alimentos e a saída de doentes para tratamento fora de Gaza.
Resumindo, Moedas e Ventura reprovam os crimes de guerra do Hamas e com razão, mas não condenam os crimes de guerra de Israel e ainda mentem acusando o PCP e BE de apoiar o Hamas; é uma tática que é apanágio da extrema-direita, mas de Moedas esperava-se outra postura. Esta dualidade de critérios não é novidade; Portugal, Espanha, França e Inglaterra apoiaram e validaram uma mentira americana para legitimar a invasão dos americanos no Iraque. A ONU, mais uma vez, não subscreveu essa invasão, mas o mundo ficou impávido perante a atitude imperialista dos EUA.
Atualmente temos outros exemplos no mundo, como acontece com a ditadura do Azerbaijão, no entanto, a Europa fecha os olhos, incluindo Portugal que é um bom cliente. Sena Santos, na sua habitual crónica na Antena 1, chamou a atenção para a limpeza étnica com a expulsão do Azerbaijão do povo do Alto Carabaque para a Arménia e acusou as democracias de se calarem pelo interesse do negócio do gás, Portugal incluído.
Acho que ninguém tem dúvidas de que estamos perante um confronto religioso com interesses económicos e imperialistas. Se já assistimos ao fundamentalismo islâmico, também temos governantes israelitas de braço dado com Benjamin Netanyahu, que defendem a morte de todos os muçulmanos com o mundo a revelar toda a sua hipocrisia.
* Paulo Cardoso - Programa "Desabafos" / Rádio Portalegre / 27-10-2023