Centenas de palestinianos morreram no ataque a um hospital no Norte de Gaza. Os beligerantes, Hamas e Israel, acusam-se mutuamente, a comunidade internacional e os média entretêm-se a discutir a autoria daquele acto bárbaro, intencionalmente dirigido a um espaço que deveria ser sagrado para todos, independentemente da religião ou política professadas. Não interessa, neste momento, apontar culpas, importa, sim, pôr termo imediato à chacina dos inocentes. Enquanto se contavam os mortos e se procurava cuidar o melhor possível dos feridos, e passados poucos dias do ataque atroz a civis israelitas, perpetrado pelo Hamas, grupos de pessoas de ambos os lados cantavam e dançavam para apoiar e incentivar os combatentes, “carne para canhão”, na hora de pisar o solo de Gaza. No Sul desta região, crianças assustadas com pavor de cada momento seguinte, mulheres grávidas divididas entre a ansiedade do parto e o pavor da morte, feridos, idosos, famintos e sequiosos olham com desespero a cerca em que se encontram. Quantos civis e soldados terão de morrer ainda para que a ordem internacional se movimente no sentido de ser alcançado um cessar-fogo humanitário, sem esquecer os reféns que, na sua solidão de horrores, psicologicamente já morreram vezes sem fim?! É absolutamente criminosa a indiferença e cumplicidade dos dirigentes das várias nações que, apoiando Israel, apenas lhe pedem contenção e proporcionalidade na resposta armada. A raiva e a dor pela morte de inocentes israelitas e palestinianos, a angústia da incerteza sobre os destinos dos mais de 200 civis raptados não permitem a frieza de raciocínio à tomada de decisão sobre o que é proporcionalidade. A ONU e líderes dos países com influência económica, política e militar na região têm de empenhar-se profunda e insistentemente em convencer Israel a adoptar uma decisão conforme as normas do direito humanitário internacional. O art.º 1.º da Declaração Universal dos Direitos Humanos afirma a igualdade de todos os seres humanos, que nascem livres e iguais em dignidade e em direitos e que devem agir entre si com espírito de fraternidade. As convenções de Haia, de Genebra e protocolos proíbem o ataque a pessoas não combatentes e a bens de carácter civil, classificando como crimes de genocídio, contra a Humanidade e crimes de guerra actos iguais àqueles de que estão a ser vítimas os palestinianos, dos quais metade são crianças, obrigados a deslocar-se do Norte para o Sul de Gaza, em condições desumanas, sem alimentação, água, electricidade, apoio médico… Como escreveram voluntárias da ONG Avaaz, “as ruas da Palestina e Israel estão cobertas de sangue, lágrimas e tristeza… Os horrores cometidos pelo Hamas são indescritíveis. Mas as crianças de Gaza não têm culpa… Estão presas numa guerra cruel e desigual simplesmente por terem nascido ali”. É tempo de o Mundo pedir, a uma só voz: salvem os inocentes!
* Cândida Almeida - Ex-diretora do DCIAP -22 outubro, 2023