Apesar
disso, a sua utilização é cada vez mais reduzida por parte da
Câmara Municipal, contrariando, frontalmente, os principais
objectivos para que o nosso velho Cine Teatro foi requalificado: o de
manter uma programação cultural diversa e de qualidade, capazes de
atrair públicos e manter a sua fidelização.
Nos
primeiros anos, essa meta foi conseguida. Depois, começaram os
problemas, tanto de ordem técnica e estrutural no edifício, como de
ordem política-cultural nas opções de quem o dirige ou devia
dirigir. Actualmente, já nem as sessões da Assembleia Municipal lá
têm lugar, obedecndo ao súbito espírito de “poupança” que
tomou conta do executivo socialista. “Fica caro” ou “é um
desperdício”, utilizar o Cine Teatro, se não for para promover a
imagem da presidente ou aproveitar como estratégia eleitoral. Os
eleitos na AM e munícipes que se “atafulhem” como puderem no
auditório da Biblioteca. A democracia tem “custos” e os almoços
de borla, ainda mais. É preciso, tirar de um lado – a oferta
cultural – para pôr no outro, o do beija-mão e o da subserviência
que, lá mais para a frente, há-de ser “rentabilizado”.
10.10.23
NISA: O cinema de regresso ao Cine Teatro
No
próximo fim de semana, o Cine Teatro de Nisa reabre as suas portas e
a exibição de filmes, quatro meses depois da última projecção
cinematográfica.
O
último filme foi exibido a 17 de Junho e a partir daí,
concentraram-se os esforços na mega operação do Nisa em Festa.
Poder-se-ia aceitar-se como justificação o facto de serem meses
muito preenchidos com festas, romarias, encontros, convívios e
outras iniciativas, mas não é menos verdade que, noutros concelhos
vizinhos, a chegada do Verão não impediu a normal exibição de
filmes, apresentando os mesmos com mais uma oferta de cultura e lazer
não apenas para os residentes como também para aqueles que nos
visitam.
Em
Nisa tal não aconteceu – não sendo facto inédito - e, estou
certo, muitos ausentes teriam, certamente, uma oportunidade para
revisitarem o "velho-novo" Cine Teatro e ao mesmo tempo
aproveitarem o visionamento de um ou outro filme, para mais estando
de férias e com maior disponibilidade para o lazer e o ócio.
Acresce que a nossa sala possui excelentes condições de conforto e
climatéricas, o que outrora não se verificava.
O Cine
Teatro de Nisa, a “sala do Norte Alentejano” - expressão que
causa calafrios e dores de cabeça à edil amieirense - é hoje um
edifício fantasma, que mal respira e mal recebe os raios solares.
Não tem vida, porque se tivesse, reproduziria nos seus utilizadores,
a chama da cultura, do conhecimento, do prazer e da luz no espírito.
E isso, como já o referia Goebbels,
seria um instrumento perigoso.
O
cinema em Nisa dá prejuízo? É incontestável. Não só em Nisa
como em todos os concelhos do interior (e até em muitos do litoral)
onde essa actividade foi "agarrada", para não morrer,
pelas autarquias. É mais um serviço cultural que prestam aos
munícipes e que de outra forma não seria possível.
Tem
custos elevados, é certo, mas muito mais em conta que os “bodos
aos pobres” que são apanágio da dama de ferro concelhia. E sem
esta actividade, semanal e regular, o Cine Teatro não teria
justificado o forte investimento que foi feito e, por outro lado,
caminharia, a passos largos para a sua degradação e decadência.
Sou do
tempo, ainda, em que o Cine Teatro Nisense exibia filmes com lotação
esgotada, às vezes com dose dupla e tripla. Para além da bola, aos
domingos, não havia mais nada como divertimento. Sobravam as
tabernas e os cafés. Hoje, o audiovisual, qual tsunami, tomou conta
de todas as esferas de comunicação. Os filmes chegam em poucos dias
a um qualquer canal de televisão ou são "copiados"
enquanto diabo esfrega um olho. Perdeu-se o interesse pela Sétima
Arte, grande parte das pessoas têm o cinema em casa, no aconchego da
sala.
Filmes
como o "Invictus" exibido em Nisa e a que assisti, não
teve mais do que 30 espectadores. A outros bons filmes que têm
passado pela nossa sala de espectáculos, o número de assistentes
não é muito diferente. A média de espectadores, por filme, é
capaz de ser um pouco mais baixa.
Por
que não vão os nisenses ao cinema? São os bilhetes caros? A
divulgação é mal feita? A escolha dos filmes deixa muito a
desejar?
Por
mim, que cresci vendo os filmes da Castello Lopes, as superproduções
como "Os Dez Mandamentos", "A Queda do Império
Romano", Sansão e Dalila", "Ben-Hur" e tantos,
tantos outros, o verdadeiro lugar da exibição e fruição do prazer
que um filme nos provoca é, e será sempre, a sala de cinema.
Isto,
apesar de não ser tão assíduo frequentador como gostaria.
*Mário
Mendes