22.11.25

NISA: Conheça os poetas do concelho (LVI) - Maria Pinto


O ASILO

O Asilo Lopes Tavares

É o lar dos pobrezinhos,

Dos que não têm afagos,

De ninguém têm carinhos.

 

Almas de bom coração,

Gente de grande nobreza,

Deixaram aos pobrezinhos

A sua grande riqueza.

 

A quem teve tal lembrança

Deus o tenha em bom lugar.

Foram almas generosas,

Merecem o Céu ganhar.

 

Quem não pode trabalhar,

Tem casa para viver,

Até vir o fim da vida,

Depois de muito sofrer.

 

Ali vivem com asseio

Muitos pobres, coitadinhos,

A lembrarem os bons tempos

De quando eram novinhos.

 

Com fatos de surrobeco,

Fazenda de rãs antigas,

Lembram-se de quando andavam

A falar às raparigas.

 

E as velhinhas, também,

Bem tratadas, com afectos,

Até parecem mais novas,

Com xaile aos quadrados pretos.

 

Tem casa para as crianças,

Para as que são pobrezinhas,

Quando as mães vão trabalhar,

A governar as vidinhas.

 

Ali ficam coitadinhas,

Até a noite chegar,

Quando vão as mães buscá-las,

Cansadas de trabalhar.

 

Usam bibes bem bonitos,

E sempre muito asseados

Recebidos com carinhos,

Tudo nelas tem cuidados.

 

Os velhinhos, de manhã

Logo vão a missa ouvir;

Só aqueles que não podem

É que não vão assistir.

 

Têm mestra as raparigas,

Lá fazem lindos bordados

Para grandes e pequenas

Cada qual tem seus cuidados.

 

Lá fazem lindas rendas

P´ra quem sabe apreciar.

É o que fazem as noivas

Para a cama do casar.

 

Tudo sai com perfeição

O que nesta casa é feito,

Trabalhos maravilhosos,

Todos eles sem defeito.

 

Lá estão as Irmãzinhas,

Com todos têm cuidados;

Sempre alegres e contentes

A todos mostram agrados.

 

Têm mestras tão perfeitas

Que bem sabem ensinar.

Com quatro, cinco e seis anos,

Já todas sabem bordar.

 

As Irmãzinhas, a todas

Estimam com muito amor;

Ensinam as que não sabem

A adorar Nosso Senhor.

 

Também há uma capela,

Viradinha para a Praça;

Lá tem por sua madrinha

Nossa Senhora da Graça.

 

Ali vão os pobrezinhos

Comer sopa que faz bem;

E não só os cá de Nisa

Mas do concelho também.

 

Vão os garotos da Escola

Comer lá os almocinhos.

O Asilo Lopes Tavares

É o pai dos pobrezinhos.

 

Vão alegres, satisfeitos,

Muito cheios de prazer;

Tanta gente e chega a todos,

Abençoado comer.

 

Ó Asilo, ó Santa Casa,

És o lar do pobrezinho,

O teu nome não esquece,

Todos lembram com carinho.

 

Nesta Casa, bom Asilo,

Todos lá temos quinhão;

O dia de hoje já o vi,

O de amanhã inda não.

 

Mas há quem se julgue nobre,

Não querem para lá ir.

Coitados, de porta em porta,

Andam esmola a pedir.

 

Do Asilo, os fundadores

Merecem ser recordados;

Muito deixaram de seu

Para os necessitados.

 

Deus lhes tenha as suas almas

Lá no Céu, em bom lugar;

E todos, ricos e pobres

Seus nomes devem honrar.

In “Correio de Nisa” – 8/12/1966