O Asilo Lopes Tavares
É o lar dos pobrezinhos,
Dos que não têm afagos,
De ninguém têm carinhos.
Almas de bom coração,
Gente de grande nobreza,
Deixaram aos pobrezinhos
A sua grande riqueza.
A quem teve tal lembrança
Deus o tenha em bom lugar.
Foram almas generosas,
Merecem o Céu ganhar.
Quem não pode trabalhar,
Tem casa para viver,
Até vir o fim da vida,
Depois de muito sofrer.
Ali vivem com asseio
Muitos pobres, coitadinhos,
A lembrarem os bons tempos
De quando eram novinhos.
Com fatos de surrobeco,
Fazenda de rãs antigas,
Lembram-se de quando andavam
A falar às raparigas.
E as velhinhas, também,
Bem tratadas, com afectos,
Até parecem mais novas,
Com xaile aos quadrados pretos.
Tem casa para as crianças,
Para as que são pobrezinhas,
Quando as mães vão trabalhar,
A governar as vidinhas.
Ali ficam coitadinhas,
Até a noite chegar,
Quando vão as mães buscá-las,
Cansadas de trabalhar.
Usam bibes bem bonitos,
E sempre muito asseados
Recebidos com carinhos,
Tudo nelas tem cuidados.
Os velhinhos, de manhã
Logo vão a missa ouvir;
Só aqueles que não podem
É que não vão assistir.
Têm mestra as raparigas,
Lá fazem lindos bordados
Para grandes e pequenas
Cada qual tem seus cuidados.
Lá fazem lindas rendas
P´ra quem sabe apreciar.
É o que fazem as noivas
Para a cama do casar.
Tudo sai com perfeição
O que nesta casa é feito,
Trabalhos maravilhosos,
Todos eles sem defeito.
Lá estão as Irmãzinhas,
Com todos têm cuidados;
Sempre alegres e contentes
A todos mostram agrados.
Têm mestras tão perfeitas
Que bem sabem ensinar.
Com quatro, cinco e seis anos,
Já todas sabem bordar.
As Irmãzinhas, a todas
Estimam com muito amor;
Ensinam as que não sabem
A adorar Nosso Senhor.
Também há uma capela,
Viradinha para a Praça;
Lá tem por sua madrinha
Nossa Senhora da Graça.
Ali vão os pobrezinhos
Comer sopa que faz bem;
E não só os cá de Nisa
Mas do concelho também.
Vão os garotos da Escola
Comer lá os almocinhos.
O Asilo Lopes Tavares
É o pai dos pobrezinhos.
Vão alegres, satisfeitos,
Muito cheios de prazer;
Tanta gente e chega a todos,
Abençoado comer.
Ó Asilo, ó Santa Casa,
És o lar do pobrezinho,
O teu nome não esquece,
Todos lembram com carinho.
Nesta Casa, bom Asilo,
Todos lá temos quinhão;
O dia de hoje já o vi,
O de amanhã inda não.
Mas há quem se julgue nobre,
Não querem para lá ir.
Coitados, de porta em porta,
Andam esmola a pedir.
Do Asilo, os fundadores
Merecem ser recordados;
Muito deixaram de seu
Para os necessitados.
Deus lhes tenha as suas almas
Lá no Céu, em bom lugar;
E todos, ricos e pobres
Seus nomes devem honrar.
In “Correio de Nisa” – 8/12/1966
