14.11.25

OPINIÃO: É preciso dizer basta!


Cinquenta anos depois de nos termos libertado da ditadura e do ditador, eis que Salazar ganhou vida. Porque a extrema-direita o puxa pela mão, como se fizesse falta ao país. Não faz. Nenhuma. Por mais que os saudosistas suspirem pelo ditador, aquilo de que Portugal precisa é de liberdade e democracia, sempre mais e melhor, como abril nos trouxe. E pluralismo e respeito de uns pelos outros, de humanismo e de tolerância.

Uma democracia que se preze, está sempre em construção, na procura de mais justiça social e desenvolvimento económico, em que todos são necessários. Uma democracia não exclui ninguém, sejam naturais ou vindos de fora. As ditaduras sim, procuram sempre eliminar todos os que têm ideias diferentes. Como no fascismo, com o seu cortejo de perseguições, prisões, tortura e injustiças. No tempo da outra senhora havia uma polícia política, a PIDE e campos de tortura, como o Tarrafal, para manter todos na ordem. E as pessoas viviam na pobreza, com medo e emigravam em massa.

Portanto, Salazar foi uma desgraça para o país. Três Salazares seria a repressão e o obscurantismo em triplicado. Aquilo que Ventura disse é que é preciso uma repressão em triplicado e trevas e disponibilizou-se ele próprio para ser três vezes pior que Salazar. Portanto, menos liberdade e um país mais fechado, como agora já há sinais de estar a acontecer.

É muito perigoso ignorar a extrema-direita, até porque o seu líder tem dito ao que vem. Ventura é um radical sem freios, sem alma nem empatia, obcecado com o poder. E por isso não olha a meios para atingir os fins. Mente, manipula, engana, distorce, ofende, provoca, sem ética nem decência.

Quer acabar com os que considera os indesejáveis da democracia, com as instituições democráticas e com esta república, para ficar só ele a mandar num povo amansado. Ninguém se pode iludir. O líder da extrema-direita tem o perfil de um ditador, julga-se depositário de uma missão divina, o que o aproxima mais da loucura do que da democracia, como muito bem se pode perceber do extraordinário livro do jornalista Miguel Carvalho, "Por dentro do Chega". Ventura funciona como um pastor de uma igreja com o seu exército de fanáticos, como líder de uma seita.

Um país que sempre foi visto como humanista e tolerante, capaz de fazer pontes entre culturas, agora está irrespirável porque um grupo de gente sem empatia entrou no Parlamento. É preciso dizer basta!

·         Paulo Pisco - Diretor do Departamento de Comunidades do PS e ex-deputado

10 de novembro, 2025