Um dia vou-me embora, parto, não estou mais aqui…
Vou para terras estranhas, sem planícies e flores de cardo
Deixarei aqui os amigos, os inimigos, os locais onde fui feliz
E outros, mais esconsos, onde a alegria não me quis
Partirei, ainda assim, descansado e sem remorsos de maior
Talvez, apenas, levando na lembrança, a sensação de um grande amor
O sabor dos seus beijos, o frémito do seu coração, os olhos vivos,
brilhantes…
Um dia, vou-me embora e deixo tudo para trás…
Os sonhos não sonhados, os projectos adiados, os lugares que não
conheci…
As palavras que ficaram por dizer, as frases que não pude concluir
As viagens que não consegui realizar. Conhecer o mundo…
O coração da terra, as sementes que geram o futuro
Perdido na vaga ilusão de levar comigo o mar profundo
Os teus olhos negros, diamantes eternos, ou de qualquer cor
Um dia partirei. E esse dia não me assusta nem causa espanto
Irei como um cavalo louco, desbravando a névoa e as nuvens
Visitarei planetas e galáxias nunca antes visitadas
Abraçarei o “cruzeiro do sul” e farei amor dentro de uma tabanca
Com fulas, mandingas, manjacas, balantas, bijagós
Os meus olhos não verão, como nunca viram, a cor da sua pele
Porque a pele, tenha a cor que tiver é apenas o manto suave que
acaricia e humaniza.
Amanhã, parto em viagem, para além da imaginação.
E levo-te comigo, numa caminhada alucinante…
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Mamadú Djaló
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Madina do Boé – 15.8.1973
