20.11.25

POESIA. Um frémito de cada dia


NÃO SEI SE É UM POEMA…

Um dia vou-me embora, parto, não estou mais aqui…

Vou para terras estranhas, sem planícies e flores de cardo

Deixarei aqui os amigos, os inimigos, os locais onde fui feliz

E outros, mais esconsos, onde a alegria não me quis

Partirei, ainda assim, descansado e sem remorsos de maior

Talvez, apenas, levando na lembrança, a sensação de um grande amor

O sabor dos seus beijos, o frémito do seu coração, os olhos vivos, brilhantes…

 

Um dia, vou-me embora e deixo tudo para trás…

Os sonhos não sonhados, os projectos adiados, os lugares que não conheci…

As palavras que ficaram por dizer, as frases que não pude concluir

As viagens que não consegui realizar. Conhecer o mundo…

O coração da terra, as sementes que geram o futuro

Perdido na vaga ilusão de levar comigo o mar profundo

Os teus olhos negros, diamantes eternos, ou de qualquer cor

 

Um dia partirei. E esse dia não me assusta nem causa espanto

Irei como um cavalo louco, desbravando a névoa e as nuvens

Visitarei planetas e galáxias nunca antes visitadas

Abraçarei o “cruzeiro do sul” e farei amor dentro de uma tabanca

Com fulas, mandingas, manjacas, balantas, bijagós

Os meus olhos não verão, como nunca viram, a cor da sua pele

Porque a pele, tenha a cor que tiver é apenas o manto suave que acaricia e humaniza.

 

Amanhã, parto em viagem, para além da imaginação.

E levo-te comigo, numa caminhada alucinante…

·         Mamadú Djaló

·         Madina do Boé – 15.8.1973