O aviso é feito por investigadores do Centro de Ciências do Mar e do
Ambiente (MARE) na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que
explicam, em comunicado, que a espécie é originária do centro e do leste da
Europa, mas tem vindo a colonizar progressivamente a bacia hidrográfica do
Tejo, “colocando em risco o equilíbrio ecológico e as populações de peixes
nativos”.
Durante uma ação de controlo realizada recentemente na Ribeira da
Meimoa (concelho de Penamacor), os investigadores capturaram 78 exemplares
desta espécie, num esforço no âmbito do “Plano para a Contenção da
Perca-europeia na Ribeira da Meimoa e prevenção da sua dispersão em Portugal”,
financiado pelo Fundo Ambiental.
“Onde estão as percas, não encontramos mais nenhuma espécie piscícola”,
diz Diogo Ribeiro, investigador da equipa do Fish Invasions Lab, que tem vindo
a monitorizar a comunidade piscícola local desde 2023.
“No início, a espécie nativa, a boga-comum, representava 65% dos
exemplares capturados e a perca-europeia apenas 26%. Hoje a relação
inverteu-se: cerca de 63% são já percas-europeias”, refere Diogo Dias, outro
dos investigadores.
A presença da perca-europeia foi confirmada até dez quilómetros a
jusante da albufeira, o que sugere uma expansão ativa em direção ao rio Zêzere.
Diz o MARE em nota que a espécie também já foi registada nas albufeiras do
Sabugal e Bouça Cova (Pinhel), onde, numa única campanha, foram capturados 200
exemplares, num trabalho conjunto com o ICNF e o SEPNA.
Para o investigador Rui Rivaes a situação é preocupante: “A comunidade
piscícola local, até agora bem preservada, enfrenta uma ameaça séria.
Encontrámos perca-europeia, mas também outras espécies de peixe invasoras como
o siluro e o achigã, sinais de uma pressão crescente sobre o equilíbrio
ecológico.”
A perca-europeia é uma espécie exótica incluída na lista nacional de
espécies invasoras (Anexo II do Decreto-Lei n.º 92/2019, de 10 de julho). É um
predador generalista, com uma grande capacidade de reprodução e de predação
sobre espécies nativas, o que, dizem os cientistas, agrava a degradação dos
ecossistemas de água doce (ou dulçaquícolas).
“Alguns pescadores desportivos acreditam que esta espécie invasora é
benéfica, mas há sinais de que espécies apreciadas, como o achigã ou a boga,
estão a diminuir”, sublinha Filipe Ribeiro, investigador principal.
O projeto prevê ações de sensibilização junto de comunidades locais e
pescadores, reforço da fiscalização e divulgação científica sobre os impactos
das espécies invasoras nos ecossistemas de água doce.
Caso não sejam tomadas medidas consistentes, os investigadores avisam
que a perca-europeia poderá estabelecer-se no rio Zêzere e Côa, com impactos
ecológicos e económicos imprevisíveis.
• Foto – Arquivo JN
