14.11.25

Investigadores alertam para “ameaça séria” da rápida expansão da perca-europeia na bacia do Tejo


A perca-europeia (Perca fluviatilis) está em rápida expansão na Reserva Natural da Serra da Malcata, e isso é problemático para um dos principais redutos de biodiversidade do interior da região Centro de Portugal.

O aviso é feito por investigadores do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que explicam, em comunicado, que a espécie é originária do centro e do leste da Europa, mas tem vindo a colonizar progressivamente a bacia hidrográfica do Tejo, “colocando em risco o equilíbrio ecológico e as populações de peixes nativos”.

Durante uma ação de controlo realizada recentemente na Ribeira da Meimoa (concelho de Penamacor), os investigadores capturaram 78 exemplares desta espécie, num esforço no âmbito do “Plano para a Contenção da Perca-europeia na Ribeira da Meimoa e prevenção da sua dispersão em Portugal”, financiado pelo Fundo Ambiental.

“Onde estão as percas, não encontramos mais nenhuma espécie piscícola”, diz Diogo Ribeiro, investigador da equipa do Fish Invasions Lab, que tem vindo a monitorizar a comunidade piscícola local desde 2023.

“No início, a espécie nativa, a boga-comum, representava 65% dos exemplares capturados e a perca-europeia apenas 26%. Hoje a relação inverteu-se: cerca de 63% são já percas-europeias”, refere Diogo Dias, outro dos investigadores.

A presença da perca-europeia foi confirmada até dez quilómetros a jusante da albufeira, o que sugere uma expansão ativa em direção ao rio Zêzere. Diz o MARE em nota que a espécie também já foi registada nas albufeiras do Sabugal e Bouça Cova (Pinhel), onde, numa única campanha, foram capturados 200 exemplares, num trabalho conjunto com o ICNF e o SEPNA.

Para o investigador Rui Rivaes a situação é preocupante: “A comunidade piscícola local, até agora bem preservada, enfrenta uma ameaça séria. Encontrámos perca-europeia, mas também outras espécies de peixe invasoras como o siluro e o achigã, sinais de uma pressão crescente sobre o equilíbrio ecológico.”

A perca-europeia é uma espécie exótica incluída na lista nacional de espécies invasoras (Anexo II do Decreto-Lei n.º 92/2019, de 10 de julho). É um predador generalista, com uma grande capacidade de reprodução e de predação sobre espécies nativas, o que, dizem os cientistas, agrava a degradação dos ecossistemas de água doce (ou dulçaquícolas).

“Alguns pescadores desportivos acreditam que esta espécie invasora é benéfica, mas há sinais de que espécies apreciadas, como o achigã ou a boga, estão a diminuir”, sublinha Filipe Ribeiro, investigador principal.

O projeto prevê ações de sensibilização junto de comunidades locais e pescadores, reforço da fiscalização e divulgação científica sobre os impactos das espécies invasoras nos ecossistemas de água doce.

Caso não sejam tomadas medidas consistentes, os investigadores avisam que a perca-europeia poderá estabelecer-se no rio Zêzere e Côa, com impactos ecológicos e económicos imprevisíveis.

             Foto – Arquivo JN