25.11.25

ABRIL SEMPRE! A Poesia que Reconforta - António Melato

 


LIBERDADE 

Foi em certa madrugada

De um tal mês de Abril

Que a população meio ensonada

Encheu os ares de vivas mil.

 

Acorda povo que és meu

Que as algemas estão quebradas

Vem ver o que aconteceu

Com as nossas forças armadas.

 

Despertai pró novo dia

Pois passou a noite escura:

Chegou p´ra nós a democracia

E já findou a ditadura.

 

Liberdade, viva a liberdade!

- Gritava-se a toda a brida;

Chegou p´ra todos a igualdade,

Que já nos foi prometida.

 

Treze anos já são passados

Desde que veio a liberdade.

Mas p´ra mal dos nossos pecados,

Ainda não chegou a igualdade.

 

Essa liberdade tão desejada

Nada nos trouxe de novo

E a igualdade veio mascarada

Só p´ra iludir o nosso povo.

 

Mata-se e rouba-se em pleno dia

E com toda a liberdade.

Para que serve a democracia

Num país sem autoridade?

 

Não há segurança nas ruas,

Que o digam os taxistas:

Essas madrugadas são já escuras,

Que só servem prós terroristas.

 

Ainda há fome e grandes misérias

Com os seus trajes horripilantes

Essas frases são apenas lérias,

Fazendo lembrar como era d´antes.

 

A liberdade que eu almejo

É bem real e vem de cima.

Traz-me do céu o seu lampejo,

Dá-me fé e me anima.

 

Por isso, eu serei sempre fiel

A essa liberdade tão querida

E a igualdade será como mel,

Quando por Deus for repartida.

* António Melato (1987)

Foto: Paulo Rascão