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10.7.25

NISA: Conheça os poetas do concelho (XXXVII) - António Borrego

 


Os gestos tensos...das palavras... 

Vem!

desamarra-me e afugenta, os punhais tristes da solidão...

vem, não percas tempo...estamos em fevereiro...

está quase aí a primavera...

há gaivotas no cais, esvoaçam num bailado repetitivo...

vem rápido...

antes que perca a vontade de viajar

antes que perca a capacidade de inventar...de mentir...

sabes?

nestes momentos consigo acreditar...

que estamos num céu...(já estivemos)...

onde há jarros e camélias brancas

desamarra-me, tenho que ir à festa anual do Santo Amaro...

dizem que ele abençoa os que amam...

e, tanto que dói...um ano sem te ver...

até lá...todo o meu corpo arde...

no fogo, onde a Fénix ressuscita...

surte-me do desejo de estarmos abraçados

liberta-me deste silêncio...que alonga os dias...

faz com que a alma...se me abra...

e implante em nós...todas as cores do arco íris...

e faça sentir a presença Divina...

porque a vida é tudo isto...e mais o que é possível alcançar...

na volatilidade de um verso...

o lastro que se formou...sempre ajuda...a adornar as mágoas...

conserva-as em lume brando...até ao reencontro...

como diluir a densidade do que sinto?

como esquecer-te?

queria ser asa de vento...para me envolver, no ar que respiras

...............(diz o fantasma que fala comigo).......................

deixa lá, António...

são só dores...são só saudades...deixa lá...

verso a verso se faz o poema...

passo a passo se faz o caminho

deixa lá , António...está quase. 

A.B. 2018.

IMAGEM: Pintura de Augusto Pinheiro

18.10.24

IN MEMORIAM: Nos 30 anos do falecimento do pintor Augusto Pinheiro

Nasceu na vila de Nisa, Alto Alentejo, em 22 de Agosto de 1905. Era comerciante de profissão e começou a pintar aos 66 anos. Participou em 40 exposições colectivas em Portugal e no estrangeiro e realizou 17 individuais. Faleceu em Nisa a 18 de Outubro de 1994. AUGUSTO PINHEIRO No centenário do seu nascimento ... Quando se iniciou na pintura, Augusto Pinheiro não escolheu escolas ou correntes, linguagens ou formas de expressão. Deu rédeas soltas à sua imaginação e começou a pintar como o seu instinto lhe ditava, com total liberdade e desprendimento das regras da perspectiva ou da composição de que nunca ouvira falar. Com cores primárias e fortes, pondo em destaque os elementos que mais lhe diziam ao gosto e ao coração. Augusto Pinheiro é dum dos mais puros e autênticos "naifs" portugueses - escreveu o dr. Lima de Carvalho, director da Galeria de Arte do Casino Estoril, neste texto que estamos a reproduzir -, pelo ingenuismo quase infantil dos seus trabalhos, a poesia lírica que ressalta de cada de cada um dos seus quadros, a falta total de perspectiva, a pureza das cores, a originalidade dos temas e soluções. O carinho. O amor. (...) Robert Thilmany, um dos maiores estudiosos desta corrente, no seu livro "Critériologie de L´Art Naif" enuncia as seguintes quatro características fundamentais desta pintura:
* o perfume da inocência, uma "candura angélica", uma ingenuidade de tema ou execução, que constitui uma das características fundamentais da modalidade; * a poesia, que traduz a visão poética da realidade que os pintores "naifs" colocam nos seus trabalhos; * a originalidade criadora, pessoal, inventiva, indispensável a toda a arte "naif" digna desse nome; * a dimensão metafísica de uma certa procura de absoluto, numa perspectiva festiva, simbólica, hedonista, religiosa, social, mística ou qualquer outra, cuja ausência reduz a arte a um puro objecto decorativo. Augusto Pinheiro está representado nos Museus de Pintura "Naif" de Jaén e Figueras, em Espanha e no Museu de Arte Primitiva Moderna de Guimarães. Entre os prémios que recebeu referem-se: Menção Honrosa no Salão de Outono 1981 da Galeria de Arte do Casino Estoril; Menção Honrosa no IV Salão Nacional de Pintura "Naif" da Galeria de Arte do Casino Estoril; Prémio Câmara Municipal de Guimarães no XIV Salão de Pintura "Naif" da Galeria de Arte do Casino Estoril. (...) A pintura "naif" está a afirmar-se cada vez mais em todos os países, com a realização de exposições, publicação de livros, abertura de galerias e até a instalação de museus exclusivamente dedicados a esta modalidade e os coleccionadores adquirem obras de arte "naif", que em muitos casos atingem cotações tão elevadas como os trabalhos das outras correntes e tendências.
(...) Em Portugal a Câmara Municipal de Guimarães promoveu em 1991 a organização de um Museu de Arte Naif, designado de Arte Primitiva Moderna, reunindo hoje mais de 100 trabalhos de artistas portugueses, brasileiros e espanhóis, oferecidos na sua quase totalidade através de diligências feitas pela Galeria de Arte do Casino Estoril. Pensamos que a melhor homenagem que se poderia prestar em Nisa a Augusto Pinheiro - são, ainda, palavras de Lima de Carvalho - seria, com o seu espólio e os quadros que doou à Misericórdia, e outros doados por outros artistas, dar início a um processo de criação de um museu de Arte "Naif" Augusto Pinheiro em Nisa. Vamos a isso? O seu mundo é um mundo singular. Um mundo de sonho e fantasia. O verdadeiro pintor "naif", mais do que com os pincéis e as tintas, pinta com o coração. Assim era Augusto Pinheiro. Um grande Artista que honra Nisa, sua Terra e de que todos nos devemos orgulhar. Completaram-se, no passado dia 22 de Agosto, 100 anos sobre o nascimento de Augusto Pinheiro. Mais do que a evocação de uma pessoa, uma vida e uma obra, lembramos, nesta singela homenagem o homem, o pintor e o cidadão de Nisa que, desaparecido do nosso convívio continua a estar presente através do colorido e da intensidade luminosa, humana, das obras que nos legou e que devem constituir património cultural desta terra que o viu nascer e foi musa inspiradora do seu talento.
Falar de Augusto Pinheiro, artista, aqui e agora, seria repisar o que abalizados críticos de arte desde há muito vêm repetindo. A atribuição do prémio "Câmara Municipal de Guimarães", a mais alta distinção do "Salão Ibérico de Arte Naif", realizado na Galeria de Arte do Casino Estoril, em Agosto de 1993, representa o reconhecimento por toda uma obra pictórica ao longo de 23 anos, que o levou aos mais distintos salões e galerias de arte, um pouco por toda a Europa. Recolhido a Nisa, sua terra natal, aqui passou os últimos anos da sua vida, continuando a pintar, já sem o fulgor e clarividência dos tempos áureos da sua obra. Apesar disso, manteve sempre, até morrer, a lucidez de um desejo, um sonho, um projecto, de que falava com alguma insistência e que não viu concretizado: a instalação de um museu, de uma sala de exposições onde as suas obras e de outros pintores "naifs" pudessem mostrar aos vindouros, a beleza e a perenidade da arte e da cultura. Mais do que a homenagem que lhe prestamos e irá continuar com outras iniciativas, impõe-se transmitir para a posteridade o sonho do artista, ajudando a criar um espaço onde os quadros de Augusto Pinheiro, possam ver a luz do dia e passar a mensagem do amor que dedicou à natureza e, por ela, à vida. É o mínimo que podemos fazer pela sua memória. A todos, muito obrigado!

22.7.24

ESTORIL: 43º Salão Internacional de Pintura Naif

- Com Participação de trabalhos dos pintores nisenses Augusto Pinheiro e Virgínia Peleja 
- Inauguração: 28 de Julho
- Exposição patente ao público até 16 de Setembro 2024 na
Galeria de Arte do Casino Estoril.
PASSE POR LÁ E APRECIE AS OBRAS DOS PINTORES/AS NAIFS!

31.10.23

AUGUSTO PINHEIRO: um artista ingénuo e singular

Polo Museológico AUGUSTO PINHEIRO é hoje inaugurado
É hoje (31.10.2023) inaugurado na antiga Rua de S. Pedro em Nisa e por iniciativa da Santa Casa da Misericórdia, o Polo Museológico Augusto Pinheiro. Pintor de referência da chamada "Arte Naif" e natural de Nisa, é, ainda hoje e mais de um século após o seu nascimento, um "ilustre desconhecido" para grande parte dos seus conterrâneos. Augusto Pinheiro foi homenageado pela Câmara Municipal de Nisa em Abril de 1987 e o discurso de HOMENAGEM aqui fica a ilustrar duas realidades distintas, mas que convergem para dar a conhecer o HOMEM, o ARTISTA e a OBRA pictórica que nos legou.
(Discurso proferido no dia 20 de Abril de 1987 - Feriado Municipal - na Sessão Solene de Homenagem a Intelectuais Nisenses -
Augusto Pinheiro, comerciante de profissão, viveu até aos 66 anos afastado das tintas e pincéis.
Fazia muitos desenhos para bordados, actividade a que se dedicava sua esposa.
Publicou dois números da revista de bordados "Ponto Real", com muitas flores e ramagens.
Ficava bastante impressionado quando visitava uma exposição de pintura, e com o desejo enorme de começar também a pintar.
Um dia pegou num lápis de cor e papel e fez um lindo desenho. Do papel passou ao pano e começou a fazer um pequeno quadro. Daí em diante nunca mais parou. Em 1970/71 passou pela Casa Ferreira a comprar as primeira tintas a óleo, os secantes, e aprendeu a isolar as telas de linho, as quais também são preparados por si.
Dois anos mais tarde, já com os quadros prontos, escreveu ao senhor arquitecto, crítico e pintor Mário de Oliveira, pedindo o favor de passar pelo seu escritório para lhe mostrar umas simples pinturas. Viu, gostou, e o pintor nem queria acreditar, parecia uma criança, pois julgava que tudo aquilo era uma brincadeira sem valor.
Foi o arquitecto Mário de Oliveira que o encaminhou e encorajou para continuar a pintar, pois logo que tivesse duas ou três dezenas de quadros, voltaria a aparecer para seleccionar algumas das suas obras para um dia fazer uma exposição.
E assim foi, esta em Janeiro de 1974, na Galeria de Arte do Diário de Notícias.
Foi o seu primeiro êxito, pois a crítica a considerou como a mais coerente e inventiva. E pela mão daquele conceituado crítico, nesse mesmo ano, foi seleccionado para a exposição da A.I.C.A. (Associação Internacional dos Críticos de Arte), na Sociedade Nacional das Belas Artes, uma das exposições mais exigentes, porquanto é organizada por aquela associação.
A partir desta importante e significativa exposição a carreira artística de Augusto Pinheiro, teve sempre os maiores êxitos.
Em Madrid, em Maio de 1976, Augusto Pinheiro expõe na Galeria "Moderna", especializada em arte "Naif". Foi um êxito total. Todos ficaram surpreendidos com a força cromática dos seus quadros, e, sobretudo, pela subtileza dos matizes.
Augusto Pinheiro, ganha aí os pergaminhos de um dos maiores pintores internacionais dentro do movimento "Naif", de tal maneira que o grande psiquiatra espanhol Vallejo Nagera, autor de vários livros e ensaios sobre a arte "Naif", classificou Augusto Pinheiro como um caso singular, não só pela sua pureza de emoções, onde por vezes o poético e o mágico se integram, como principalmente pela capacidade do seu iluminismo exterior.
Não merece apenas citar os seus grandes êxitos artísticos depois desta exposição de Madrid, mas é justo dizer que chegou até Paris, no Salão dos Independentes, em Janeiro de 1982, e que em Lisboa teve em seguida grandes êxitos, mormente nas exposições da Galeria de S. Francisco e na Galeria "O País".
Como estamos na terra do pintor, é justo informar ainda, que Augusto Pinheiro, obteve também grandes êxitos nos Salões Ibéricos, organizados pela galeria do Casino Estoril, considerando o director desta prestigiosa galeria, Dr. Lima de Carvalho, as pinturas deste puro Naif como das melhores.
Augusto Pinheiro, continua a pintar com um entusiasmo autenticamente juvenil, o seu mundo imaginário, a sua ingenuidade perante o aspecto inspirador, e a transformação formal das coisas objectivas, deve ser entendido como o caminho pela qual o artista se alcança a si próprio, numa convicção íntima de toda a autenticidade da substância do seu ser.
Meus senhores, e minhas senhoras, para terminar, penso que talvez seja oportuno dizer, o que é a pintura "Naif". Como se sabe, "Naif" é uma palavra francesa que tem muitos e variados significados, tais como ingénuo, simples, espontâneo, puro, etc. É uma arte, que nada tem de comum com a chamada arte erudita, e que constitui hoje um dos fenómenos sociais e artísticos à escala mundial.
E, Nisa, pode-se orgulhar, de possuir entre os seus filhos, o pintor Augusto Pinheiro, que já está classificado como um dos pintores mais significativos, não só no âmbito nacional, como internacional.
A arte é, sem dúvida, a forma mais positiva de comunicação. O artista erudito comunica uma mensagem; o artista que pratica o Naif não nos oferece essa mensagem, antes pinta como quem conta uma história ou relato emocional da sua personalidade.
É, isto, afinal, que nos tem oferecido Augusto Pinheiro: contar histórias da sua imaginação, cheia de encanto, de pureza e de lirismo.


23.10.23

NISA: Polo Museológico Augusto Pinheiro vai "nascer" na antiga Rua de S. Pedro

Obra realizada pela Santa Casa da Misericórdia de Nisa, vai ser inaugurado no próximo dia 31 de Outubro, o Polo Museológico Augusto Pinheiro. O novo espaço de exposições, resulta da adaptação das antigas oficinas de carpintaria da SCMN, na rua Capitão Vaz Monteiro (antiga Rua de S. Pedro) e destina-se a dignificar o trabalho e a obra do artista nisense, um dos expoentes da pintura naif em Portugal, e ao mesmo tempo servir de galeria para outros pintores da arte Naif. 
A inauguração do polo museológico Augusto Pinheiro representa a concretização de um sonho do artista, há anos falecido, dos seus familiares e da própria instituição, onde viveu os últimos anos da sua vida. Uma obra que enriquece, culturalmente, o património nisense e da Santa Casa da Misericórdia de Nisa, ao mesmo tempo que deverá contribuir para dar a conhecer o artista e a obra, ambos premiados em diversos certames nacionais e internacionais.

17.4.22

AUGUSTO PINHEIRO: um artista ingénuo e singular

 
(Discurso proferido no dia 20 de Abril de 1987 - Feriado Municipal - na Sessão Solene de Homenagem a Intelectuais Nisenses -)
Augusto Pinheiro, comerciante de profissão, viveu até aos 66 anos afastado das tintas e pincéis.
Fazia muitos desenhos para bordados, actividade a que se dedicava sua esposa.
Publicou dois números da revista de bordados "Ponto Real", com muitas flores e ramagens.
Ficava bastante impressionado quando visitava uma exposição de pintura, e com o desejo enorme de começar também a pintar.
Um dia pegou num lápis de cor e papel e fez um lindo desenho. Do papel passou ao pano e começou a fazer um pequeno quadro. Daí em diante nunca mais parou. Em 1970/71 passou pela casa Ferreira a comprar as primeira tintas a óleo, os secantes, e aprendeu a isolar as telas de linho, as quais também são preparados por si.
Dois anos mais tarde, já com os quadros prontos, escreveu ao senhor arquitecto, crítico e pintor Mário de Oliveira, pedindo o favor de passar pelo seu escritório para lhe mostrar umas simples pinturas. Viu, gostou, e o pintor nem queria acreditar, parecia uma criança, pois julgava que tudo aquilo era uma brincadeira sem valor.
Foi o arquitecto Mário de Oliveira que o encaminhou e encorajou para continuar a pintar, pois logo qure tivesse duas ou três dezenas de quadros, voltaria a aparecer para seleccionar algumas das suas obras para um dia fazer uma exposição.
E assim foi, esta em Janeiro de 1974, na Galeria de Arte do Diário de Notícias.
Foi o seu primeiro êxito, pois a crítica a considerou como a mais coerente e inventiva. E pela mão daquele conceituado crítico, nesse mesmo ano, foi seleccionado para a exposição da A.I.C.A. (Associação Internacional dos Críticos de Arte), na Sociedade Nacional das Belas Artes, uma das exposições mais exigentes, porquanto é organizada por aquela associação.
A partir desta importante e significativa exposição a carreira artística de Augusto Pinheiro, teve sempre os maiores êxitos.
Em Madrid, em Maio de 1976, Agusto Pinheiro expõe na Galeria "Modena", especializada em arte "Naif". Foi um êxito total. Todos ficaram surpreendidos com a força cromática dos seus quadros, e, sobretudo, pela subtileza dos matizes.
Augusto Pinheiro, ganha aí os pergaminhos de um dos maiores pintores internacionais dentro do movimento "Naif", de tal maneira que o grande psiquiatra espanhol Vallejo Nagera, autor de vários livros e ensaios sobre a arte "Naif", classificou Augusto Pinheiro como um caso singular, não só pela sua pureza de emoções, onde por vezes o poético e o mágico se integram, como principalmente pela capacidade do seu iluminismo exterior.
Não merece apenas citar os seus grandes êxitos artísticos depois desta exposição de Madrid, mas é justo dizer que chegou até Paris, no Salão dos Independentes, em Janeiro de 1982, e que em Lisboa teve em seguida grandes êxitos, mormente nas exposições da Galeria de S. Francisco e na Galeria "O País".
Como estamos na terra do pintor, é justo informar ainda, que Augusto Pinheiro, obteve também grandes êxitos nos Salões Ibéricos, organizados pela galeria do Casino Estoril, considerando o director desta prestigiosa galeria, Dr. Lima de Carvalho, as pinturas deste puro Naif como das melhores.
Augusto Pinheiro, continua a pintar com um entusiasmo autenticamente juvenil, o seu mundo imaginário, a sua ingenuidade perante o aspecto inspirador, e a transformação formal das coisas objectivas, deve ser entendido como o caminho pela qual o artista se alcança a si próprio, numa convicção íntima de toda a autenticidade da substância do seu ser.
Meus senhores, e minhas senhoras, para terminar, penso que talvez seja oportuno dizer, o que é a pintura "Naif". Como se sabe, "Naif" é uma palavra francesa que tem muitos e variados significados, tais como ingénuo, simples, espontâneo, puro, etc. É uma arte, que nada tem de comum com a chamada arte erudita, e que constitui hoje um dos fenómenos sociais e artísticos à escala mundial. 
E, Nisa, pode-se orgulhar, de possuir entre os seus filhos, o pintor Augusto Pinheiro, que já está classificado como um dos pintores mais significativos, não só no âmbito nacional, como internacional.
A arte é, sem dúvida, a forma mais positiva de comunicação. O artista erudito comunica uma mensagem; o artista que pratica o Naif não nos oferece essa mensagem, antes pinta como quem conta uma história ou relato emocional da sua personalidade.
É, isto, afinal, que nos tem oferecido Augusto Pinheiro: contar histórias da sua imaginação, cheia de encanto, de pureza e de lirismo.

4.12.20

NISA: Augusto Pinheiro: um artista ingénuo e singular



(Discurso proferido no dia 20 de Abril de 1987 - Feriado Municipal - na Sessão Solene de Homenagem a Intelectuais Nisenses -)
Augusto Pinheiro, comerciante de profissão, viveu até aos 66 anos afastado das tintas e pincéis.
Fazia muitos desenhos para bordados, actividade a que se dedicava sua esposa.
Publicou dois números da revista de bordados "Ponto Real", com muitas flores e ramagens.
Ficava bastante impressionado quando visitava uma exposição de pintura, e com o desejo enorme de começar também a pintar.
Um dia pegou num lápis de cor e papel e fez um lindo desenho. Do papel passou ao pano e começou a fazer um pequeno quadro. Daí em diante nunca mais parou. Em 1970/71 passou pela casa Ferreira a comprar as primeira tintas a óleo, os secantes, e aprendeu a isolar as telas de linho, as quais também são preparados por si.
Dois anos mais tarde, já com os quadros prontos, escreveu ao senhor arquitecto, crítico e pintor Mário de Oliveira, pedindo o favor de passar pelo seu escritório para lhe mostrar umas simples pinturas. Viu, gostou, e o pintor nem queria acreditar, parecia uma criança, pois julgava que tudo aquilo era uma brincadeira sem valor.
Foi o arquitecto Mário de Oliveira que o encaminhou e encorajou para continuar a pintar, pois logo qure tivesse duas ou três dezenas de quadros, voltaria a aparecer para seleccionar algumas das suas obras para um dia fazer uma exposição.
E assim foi, esta em Janeiro de 1974, na Galeria de Arte do Diário de Notícias.
Foi o seu primeiro êxito, pois a crítica a considerou como a mais coerente e inventiva. E pela mão daquele conceituado crítico, nesse mesmo ano, foi seleccionado para a exposição da A.I.C.A. (Associação Internacional dos Críticos de Arte), na Sociedade Nacional das Belas Artes, uma das exposições mais exigentes, porquanto é organizada por aquela associação.
A partir desta importante e significativa exposição a carreira artística de Augusto Pinheiro, teve sempre os maiores êxitos.
Em Madrid, em Maio de 1976, Agusto Pinheiro expõe na Galeria "Modena", especializada em arte "Naif". Foi um êxito total. Todos ficaram surpreendidos com a força cromática dos seus quadros, e, sobretudo, pela subtileza dos matizes.
Augusto Pinheiro, ganha aí os pergaminhos de um dos maiores pintores internacionais dentro do movimento "Naif", de tal maneira que o grande psiquiatra espanhol Vallejo Nagera, autor de vários livros e ensaios sobre a arte "Naif", classificou Augusto Pinheiro como um caso singular, não só pela sua pureza de emoções, onde por vezes o poético e o mágico se integram, como principalmente pela capacidade do seu iluminismo exterior.
Não merece apenas citar os seus grandes êxitos artísticos depois desta exposição de Madrid, mas é justo dizer que chegou até Paris, no Salão dos Independentes, em Janeiro de 1982, e que em Lisboa teve em seguida grandes êxitos, mormente nas exposições da Galeria de S. Francisco e na Galeria "O País".
Como estamos na terra do pintor, é justo informar ainda, que Augusto Pinheiro, obteve também grandes êxitos nos Salões Ibéricos, organizados pela galeria do Casino Estoril, considerando o director desta prestigiosa galeria, Dr. Lima de Carvalho, as pinturas deste puro Naif como das melhores.
Augusto Pinheiro, continua a pintar com um entusiasmo autenticamente juvenil, o seu mundo imaginário, a sua ingenuidade perante o aspecto inspirador, e a transformação formal das coisas objectivas, deve ser entendido como o caminho pela qual o artista se alcança a si próprio, numa convicção íntima de toda a autenticidade da substância do seu ser.
Meus senhores, e minhas senhoras, para terminar, penso que talvez seja oportuno dizer, o que é a pintura "Naif". Como se sabe, "Naif" é uma palavra francesa que tem muitos e variados significados, tais como ingénuo, simples, espontâneo, puro, etc. É uma arte, que nada tem de comum com a chamada arte erudita, e que constitui hoje um dos fenómenos sociais e artísticos à escala mundial. 
E, Nisa, pode-se orgulhar, de possuir entre os seus filhos, o pintor Augusto Pinheiro, que já está classificado como um dos pintores mais significativos, não só no âmbito nacional, como internacional.
A arte é, sem dúvida, a forma mais positiva de comunicação. O artista erudito comunica uma mensagem; o artista que pratica o Naif não nos oferece essa mensagem, antes pinta como quem conta uma história ou relato emocional da sua personalidade.
É, isto, afinal, que nos tem oferecido Augusto Pinheiro: contar histórias da sua imaginação, cheia de encanto, de pureza e de lirismo.

25.4.19

EM ABRIL, POESIAS MIL


HINO À RAZÃO 

Razão, irmã do Amor e da Justiça
Mais uma vez escuta a minha prece.
É a voz do coração que te apetece,
Duma alma livre, só a ti submissa.

Por ti é que poeira movediça
Dos astros e sóis e mundo permanece;
E é por ti que a virtude prevalece,
E a flor do heroísmo medra e viça.

Por ti, na arena trágica, as nações
Buscam a liberdade, entre clarões;
E os que olham o futuro e cismam, mudos,

Por ti, podem sofrer e não se abatem,
Mãe dos filhos robustos, que combatem,
Tendo o teu nome escrito em seus escudos!
Antero do Quental
Evocação - Pintura de Augusto Pinheiro

19.5.17

AUGUSTO PINHEIRO: Grande pintor Naif de Nisa

(Discurso proferido no dia 20 de Abril de 1987 - Feriado Municipal - na Sessão Solene de Homenagem a Intelectuais Nisenses)
" Augusto Pinheiro, comerciante de profissão, viveu até aos 66 anos afastado das tintas e pincéis.
Fazia muitos desenhos para bordados, actividade a que se dedicava sua esposa.
Publicou dois números da revista de bordados "Ponto Real", com muitas flores e ramagens.
Ficava bastante impressionado quando visitava uma exposição de pintura, e com o desejo enorme de começar também a pintar.
Um dia pegou num lápis de cor e papel e fez um lindo desenho. Do papel passou ao pano e começou a fazer um pequeno quadro. Daí em diante nunca mais parou. Em 1970/71 passou pela casa Ferreira a comprar as primeira tintas a óleo, os secantes, e aprendeu a isolar as telas de linho, as quais também são preparados por si.
Dois anos mais tarde, já com os quadros prontos, escreveu ao senhor arquitecto, crítico e pintor Mário de Oliveira, pedindo o favor de passar pelo seu escritório para lhe mostrar umas simples pinturas. Viu, gostou, e o pintor nem queria acreditar, parecia uma criança, pois julgava que tudo aquilo era uma brincadeira sem valor.
Foi o arquitecto Mário de Oliveira que o encaminhou e encorajou para continuar a pintar, pois logo que tivesse duas ou três dezenas de quadros, voltaria a aparecer para seleccionar algumas das suas obras para um dia fazer uma exposição.
Augusto Pinheiro - O Circo
E assim foi, esta em Janeiro de 1974, na Galeria de Arte do Diário de Notícias.
Foi o seu primeiro êxito, pois a crítica a considerou como a mais coerente e inventiva. E pela mão daquele conceituado crítico, nesse mesmo ano, foi seleccionado para a exposição da A.I.C.A. (Associação Internacional dos Críticos de Arte), na Sociedade Nacional das Belas Artes, uma das exposições mais exigentes, porquanto é organizada por aquela associação.
A partir desta importante e significativa exposição a carreira artística de Augusto Pinheiro, teve sempre os maiores êxitos.
Em Madrid, em Maio de 1976, Augusto Pinheiro expõe na Galeria "Modena", especializada em arte "Naif". Foi um êxito total. Todos ficaram surpreendidos com a força cromática dos seus quadros, e, sobretudo, pela subtileza dos matizes.
Augusto Pinheiro, ganha aí os pergaminhos de um dos maiores pintores internacionais dentro do movimento "Naif", de tal maneira que o grande psiquiatra espanhol Vallejo Nagera, autor de vários livros e ensaios sobre a arte "Naif", classificou Augusto Pinheiro como um caso singular, não só pela sua pureza de emoções, onde por vezes o poético e o mágico se integram, como principalmente pela capacidade do seu iluminismo exterior.
Exposição em Nisa (1981) com a presença do Presidente da República, Ramalho Eanes
Não merece apenas citar os seus grandes êxitos artísticos depois desta exposição de Madrid, mas é justo dizer que chegou até Paris, no Salão dos Independentes, em Janeiro de 1982, e que em Lisboa teve em seguida grandes êxitos, mormente nas exposições da Galeria de S. Francisco e na Galeria "O País".
Como estamos na terra do pintor, é justo informar ainda, que Augusto Pinheiro, obteve também grandes êxitos nos Salões Ibéricos, organizados pela galeria do Casino Estoril, considerando o director desta prestigiosa galeria, Dr. Lima de Carvalho, as pinturas deste puro Naif como das melhores.
Augusto Pinheiro, continua a pintar com um entusiasmo autenticamente juvenil, o seu mundo imaginário, a sua ingenuidade perante o aspecto inspirador, e a transformação formal das coisas objectivas, deve ser entendido como o caminho pela qual o artista se alcança a si próprio, numa convicção íntima de toda a autenticidade da substância do seu ser.
Augusto Pinheiro - O Milagre das Rosas (Santa Isabel) - 1984
Meus senhores, e minhas senhoras, para terminar, penso que talvez seja oportuno dizer, o que é a pintura "Naif". Como se sabe, "Naif" é uma palavra francesa que tem muitos e variados significados, tais como ingénuo, simples, espontâneo, puro, etc. É uma arte, que nada tem de comum com a chamada arte erudita, e que constitui hoje um dos fenómenos sociais e artísticos à escala mundial.
E, Nisa, pode-se orgulhar, de possuir entre os seus filhos, o pintor Augusto Pinheiro, que já está classificado como um dos pintores mais significativos, não só no âmbito nacional, como internacional.
A arte é, sem dúvida, a forma mais positiva de comunicação. O artista erudito comunica uma mensagem; o artista que pratica o Naif não nos oferece essa mensagem, antes pinta como quem conta uma história ou relato emocional da sua personalidade.
É, isto, afinal, que nos tem oferecido Augusto Pinheiro: contar histórias da sua imaginação, cheia de encanto, de pureza e de lirismo."

15.6.15

Poema inédito de Augusto Pinheiro

Arraial d´Alfama
I
Desde a Rua de S. Pedro
Até às Cruzes da Sé
Há movimento no bairro
Para ver o Arraial
Lá na Rua da Galé
II
Abundam os forasteiros
Dos outros bairros castiços
Não falta a Madragoa
O Bairro Alto e a Mouraria
Parece uma romaria
Desde a boquinha da noite
Até ao romper do dia.
 

Oh Alfama!
Bairro de tradições
Tens um povo bairrista
De alma fadista
Para afogar as paixões.
III
Toca a música
Dança tudo, minha gente
Não falta ninguém na roda
Baila o padeiro
Com a mulher e a sogra
Entra o aguadeiro
Com a tia Constança
P´ra fazero seu pé de dança.

Oh Alfama!
Bairro de tradições
Tens um povo bairrista
De alma fadista
Para afogar as paixões.
IV
Segue a noitada
Cada vez mais animada
Ninguém quer arredar pé
Chega a Micas, Rainha do Bairro
Com o seu par a fazer arraial
É a vedeta genial
Levanta a saia
Mostra a liga
De cor garrida, parece uma ortiga
E, tudo isto é uma cantiga.

Oh Alfama!
Bairro de tradições
Tens um povo bairrista
De alma fadista
Para afogar as paixões.
V
Cantigas e fados
Há por todos os lados
E o povo jubila encantado
É já alta a noite
As tascas abertas
Vai alta a maré
E o China não se pode por em pé
Vai em charola
Numa padiola
Com tochas acesas
E capa de burel
P´ro altar de S. Miguel
 

Oh Alfama!
Bairro de tradições
Tens um povo bairrista
De alma fadista
Para afogar as paixões.
VI
Cantam os galos
E esconde-se o luar
Os foliões não querem abalar
Está a romper o dia
Apagam-se as luzes
Há grande gritaria
No Beco do Mexia
Vai haver festa no Beco das Cruzes
Começa a zaragata
Com linguado e pancada
Há gritos “Ó da guarda!”
Vem a polícia
E a Luzia vai prá esquadra!
Augusto Pinheiro (pintor naif e poeta)

Augusto Pinheiro (Nisa, 22 de Agosto de 1905 — Nisa, 18 de Outubro de 1994) foi um pintor português.
Aos nove anos de idade foi para o Entroncamento, trabalhar numa fábrica de rolhas, e daí para Lisboa. Tornou-se empregado de escritório e, após ter trabalhado em várias empresas, estabeleceu-se por conta própria, fazendo negócio de exportação de produtos alimentares.
Já no tarde da sua vida (aos 66 anos), o comerciante que sempre se interessara por arte, resolveu meter-se a pintor. Sem ter preocupações em saber se era de um estilo ou de outro foi pintando à sua maneira, acabando por ser identificado por Mário Oliveira como pintura "naif".
Aquele arquitecto e crítico de arte viria a escrever na apresentação de uma das suas exposições do pintor ingénuo de Nisa "a autêntica arte naïf, nasce no campo anímico da inocência e da simplicidade", considerando-o sem dúvida "a nossa primeira figura dentro desta arte".
Augusto Pinheiro que nunca teve escola, tornou-se uma referência na pintura portuguesa dos nossos dias. Realizou numerosas exposições individuais e participou em inúmeras exposições colectivas.
Foram-lhe atribuídos alguns prémios, nomeadamente o Primeiro Prémio do XIV Salão Nacional (III Internacional) de pintura "naïf", por unanimidade do júri.
Foi-lhe atribuída a Medalha de Prata, pelo município de Nisa, aquando do feriado municipal daquela vila em Abril de 1987.
in wikipédia

4.11.11

À FLOR DA PELE: Augusto Pinheiro (1905-1994)

Um naif do sonho e da fantasia
A luz desce
sobre as asas
de uma árvore.

As rosas são bordados luxuriantes
rodeando a morte e a vida
de um vulcão.

O interior, aceso, espreita as margens.
Há canções de desgaste em toda a extensão.
E o dia ficou naquela aura longínqua
com que os dedos estremecem.


A luz desce no emaranhado das viagens
coloridas e entregues
à sofreguidão do visitante.
Poema de João Clemente sobre um quadro de Augusto Pinheiro
Artista que pintava com o coração
Passam hoje, dia 18 de Outubro, dezassete anos sobre a morte de Augusto Dinis Pinheiro, pintor naif, nascido a 22 de Agosto de 1905 na vila de Nisa.
Era comerciante de profissão e começou a pintar aos 66 anos. Participou em 40 exposições colectivas em Portugal e no estrangeiro e realizou 17 individuais.
Aqui e agora, evocamos o homem e o artista – um dos mais consagrados, a nível nacional, na arte naif – lembrando o seu sonho maior, ainda por concretizar: a instalação de um Museu em Nisa, sob o patrocínio da Santa Casa da Misericórdia, instituição onde faleceu e a que doou parte considerável do seu espólio artístico.
O nisense, Carlos Tomás Cebola, lembrou, em 2005, a propósito do centenário do nascimento do pintor, que “Augusto Pinheiro chegou tarde ao fascinante mundo das Artes: ao reino deslumbrante das Formas, das Cores, do Claro-Escuro, da Fantasia: ao fabuloso reino da Pintura.
Só muito tarde (como é triste dizê-lo) o Augusto começou a pintar telas com todas as tonalidades do azul (em fundo), para sobre ele (azul) lançar deuses, homens, aves, insectos, árvores e flores. Muitas flores.
Todas as flores de um mundo só seu e que guardara, durante dezenas de anos, bem fundo, no mais íntimo de si mesmo, envoltas numa atávica evocação das rendas, dos bordados e das cantarinhas pedradas, que a Cultura e a Arte da sua Vila natal haviam arrecadado nele, desde a primeira hora. "
Seria difícil encontrar mais bela e profunda definição sobre a arte naif, uma arte sobre a qual ainda hoje se tecem muitas teorias e se lançam algumas desconfianças.
Arte do encanto e da magia
Na abertura do XXXI Salão Internacional de Pintura Naif, o director da Galeria de Arte do Casino Estoril, dr. Lima Carvalho, diria, a esse propósito:
“ Há por aí quem afirme que a pintura naïf é a pintura dos que não sabem pintar. Nada mais falso. É a pintura de todos quanto pintam como sabem, com ou sem técnica. Vem desde os primórdios da arte rupestre, com carta de alforria, apenas na última década do século XIX, por iniciativa de Henry Rousseau, que Picasso, alguns anos mais tarde apoiaria com entusiasmo.”
Lima de Carvalho, grande amigo e admirador de Augusto Pinheiro, vai mais longe, na caracterização da arte naif.
“As características desta pintura são o encanto e a magia que se aproxima da singeleza e graça da pintura infantil, saída muitas vezes das mãos de rudes artesãos ou de pessoas cultas, que se apaixonaram pela prática desta modalidade pictórica.”
Sobre o pintor nisense, o director da Galeria de Arte do Casino Estoril afirma:
“Quando se iniciou na pintura, Augusto Pinheiro não escolheu escolas ou correntes, linguagens ou formas de expressão. Deu rédeas soltas à sua imaginação e começou a pintar como o seu instinto lhe ditava, com total liberdade e desprendimento das regras da perspectiva ou da composição de que nunca ouvira falar. Com cores primárias e fortes, pondo em destaque os elementos que mais lhe diziam ao gosto e ao coração.
Augusto Pinheiro é um dos mais puros e autênticos "naifs" portugueses, pelo ingenuismo quase infantil dos seus trabalhos, a poesia lírica que ressalta de cada um dos seus quadros, a falta total de perspectiva, a pureza das cores, a originalidade dos temas e soluções. O carinho. O amor.”
Uma referência da pintura naif
Está feito o retrato do pintor, do mundo de sonho e fantasia que o rodeava. Um artista que chegou tarde ao mundo das artes e das formas, mas ainda a tempo de nos legar um notável acervo pictórico, revelador de toda a sua sensibilidade e de um universo de infância, o seu, que no retiro do estúdio ou do quarto passava para as telas.
A sua força criadora e a notável qualidade de cada um dos seus quadros, levaram-no a ser conhecido e admirado através das exposições que realizou em Lisboa (1974/ 77/ 78/ 79 e 81), Madrid (1976), Badajoz (1977), Estoril (1979/ 80/ 81 e 85), Funchal (1979), Viena de Áustria (1979), Castelo Branco (1981), Faro (1981), entre tantas outras, fizeram de Augusto Pinheiro um nome que, hoje, é referência obrigatória, sempre que se fala da Pintura Naif, em Portugal
Augusto Pinheiro está representado nos Museus de Pintura "Naif" de Jaén e Figueras, em Espanha e no Museu de Arte Primitiva Moderna de Guimarães.
Entre os prémios que recebeu referem-se: Menção Honrosa no Salão de Outono 1981; Menção Honrosa no IV Salão Nacional de Pintura "Naif" e Prémio Câmara Municipal de Guimarães no XIV Salão de Pintura "Naif", todos da Galeria de Arte do Casino Estoril.
A atribuição do prémio "Câmara Municipal de Guimarães", a mais alta distinção do "Salão Ibérico de Arte Naif", em Agosto de 1993, representa o reconhecimento por toda uma obra pictórica ao longo de 23 anos, que o levou aos mais distintos salões e galerias de arte, um pouco por toda a Europa.
Recolhido a Nisa, sua terra natal, aqui passou os últimos anos da sua vida, continuando a pintar, já sem o fulgor e clarividência dos tempos áureos da sua obra.
Apesar disso, manteve sempre, até morrer, a lucidez de um desejo, um sonho, um projecto, de que falava com alguma insistência e que não viu concretizado: a instalação de um museu, de uma sala de exposições onde as suas obras e de outros pintores "naifs" pudessem mostrar aos vindouros, a beleza e a perenidade da arte e da cultura.
É este um desejo por cumprir e que às instituições (Misericórdia e Câmara de Nisa) se impõe como um dever indeclinável: o de transmitir para a posteridade, a obra do artista, ajudando a criar um espaço onde os quadros de Augusto Pinheiro, possam ver a luz do dia e passar a mensagem do amor que dedicou à arte, à natureza e, por ela, à vida.
É o mínimo que podemos fazer pela sua memória.
Augusto Pinheiro – Artista e cidadão de Nisa
(Extracto do discurso na Sessão Solene de Homenagem, no dia 20 de Abril de 1987 - Feriado Municipal.)
"Em 20 de Abril de 1987, a Câmara Municipal de Nisa atribuiu ao artista nisense a Medalha de Mérito Municipal (prata), em sessão solene realizada no salão nobre dos Paços do Concelho.
É dessa sessão evocativa e de homenagem a um dos vultos da cultura nisense, que extraímos as palavras que seguem.
“Augusto Pinheiro, comerciante de profissão, viveu até aos 66 anos afastado das tintas e pincéis.
Fazia muitos desenhos para bordados, actividade a que se dedicava sua esposa.
Publicou dois números da revista de bordados "Ponto Real", com muitas flores e ramagens.
Ficava bastante impressionado quando visitava uma exposição de pintura, e com o desejo enorme de começar também a pintar.
Um dia pegou num lápis de cor e papel e fez um lindo desenho. Do papel passou ao pano e começou a fazer um pequeno quadro. Daí em diante nunca mais parou. Em 1970/71 passou pela casa Ferreira a comprar as primeira tintas a óleo, os secantes, e aprendeu a isolar as telas de linho, as quais também são preparados por si.
Dois anos mais tarde, já com os quadros prontos, escreveu ao senhor arquitecto, crítico e pintor Mário de Oliveira, pedindo o favor de passar pelo seu escritório para lhe mostrar umas simples pinturas. Viu, gostou, e o pintor nem queria acreditar, parecia uma criança, pois julgava que tudo aquilo era uma brincadeira sem valor.
Foi o arquitecto Mário de Oliveira que o encaminhou e encorajou para continuar a pintar, pois logo que tivesse duas ou três dezenas de quadros, voltaria a aparecer para seleccionar algumas das suas obras para um dia fazer uma exposição.
E assim foi, esta em Janeiro de 1974, na Galeria de Arte do Diário de Notícias.
Foi o seu primeiro êxito, pois a crítica a considerou como a mais coerente e inventiva. E pela mão daquele conceituado crítico, nesse mesmo ano, foi seleccionado para a exposição da A.I.C.A. (Associação Internacional dos Críticos de Arte), na Sociedade Nacional das Belas Artes, uma das exposições mais exigentes, porquanto é organizada por aquela associação.
A partir desta importante e significativa exposição a carreira artística de Augusto Pinheiro, teve sempre os maiores êxitos.”
(...)”A arte é, sem dúvida, a forma mais positiva de comunicação. O artista erudito comunica uma mensagem; o artista que pratica o Naif não nos oferece essa mensagem, antes pinta como quem conta uma história ou relato emocional da sua personalidade.
É, isto, afinal, que nos tem oferecido Augusto Pinheiro: contar histórias da sua imaginação, cheia de encanto, de pureza e de lirismo.”
Mário Mendes in "Alto Alentejo" - 2/11/2011