10.7.25

NISA: Conheça os poetas do concelho (XXXVII) - António Borrego

 


Os gestos tensos...das palavras... 

Vem!

desamarra-me e afugenta, os punhais tristes da solidão...

vem, não percas tempo...estamos em fevereiro...

está quase aí a primavera...

há gaivotas no cais, esvoaçam num bailado repetitivo...

vem rápido...

antes que perca a vontade de viajar

antes que perca a capacidade de inventar...de mentir...

sabes?

nestes momentos consigo acreditar...

que estamos num céu...(já estivemos)...

onde há jarros e camélias brancas

desamarra-me, tenho que ir à festa anual do Santo Amaro...

dizem que ele abençoa os que amam...

e, tanto que dói...um ano sem te ver...

até lá...todo o meu corpo arde...

no fogo, onde a Fénix ressuscita...

surte-me do desejo de estarmos abraçados

liberta-me deste silêncio...que alonga os dias...

faz com que a alma...se me abra...

e implante em nós...todas as cores do arco íris...

e faça sentir a presença Divina...

porque a vida é tudo isto...e mais o que é possível alcançar...

na volatilidade de um verso...

o lastro que se formou...sempre ajuda...a adornar as mágoas...

conserva-as em lume brando...até ao reencontro...

como diluir a densidade do que sinto?

como esquecer-te?

queria ser asa de vento...para me envolver, no ar que respiras

...............(diz o fantasma que fala comigo).......................

deixa lá, António...

são só dores...são só saudades...deixa lá...

verso a verso se faz o poema...

passo a passo se faz o caminho

deixa lá , António...está quase. 

A.B. 2018.

IMAGEM: Pintura de Augusto Pinheiro