Vem!
desamarra-me e afugenta, os punhais tristes da solidão...
vem, não percas tempo...estamos em fevereiro...
está quase aí a primavera...
há gaivotas no cais, esvoaçam num bailado repetitivo...
vem rápido...
antes que perca a vontade de viajar
antes que perca a capacidade de inventar...de mentir...
sabes?
nestes momentos consigo acreditar...
que estamos num céu...(já estivemos)...
onde há jarros e camélias brancas
desamarra-me, tenho que ir à festa anual do Santo Amaro...
dizem que ele abençoa os que amam...
e, tanto que dói...um ano sem te ver...
até lá...todo o meu corpo arde...
no fogo, onde a Fénix ressuscita...
surte-me do desejo de estarmos abraçados
liberta-me deste silêncio...que alonga os dias...
faz com que a alma...se me abra...
e implante em nós...todas as cores do arco íris...
e faça sentir a presença Divina...
porque a vida é tudo isto...e mais o que é possível alcançar...
na volatilidade de um verso...
o lastro que se formou...sempre ajuda...a adornar as mágoas...
conserva-as em lume brando...até ao reencontro...
como diluir a densidade do que sinto?
como esquecer-te?
queria ser asa de vento...para me envolver, no ar que respiras
...............(diz o fantasma que fala comigo).......................
deixa lá, António...
são só dores...são só saudades...deixa lá...
verso a verso se faz o poema...
passo a passo se faz o caminho
deixa lá , António...está quase.
A.B. 2018.
IMAGEM: Pintura de Augusto Pinheiro