A água da Fonte do Freixo
é bem boa ouvi dizer.
E quem padece do fígado
deve esta água beber.
Se para curar o fígado
esta água tem virtude,
quem beber, continuando,
alcançará a saúde.
É boa para lavar,
faz a roupa tão branquinha!
Até dá gosto lavar
roupa naquela fontinha.
Não necessita de “Omo”,
a roupa fica branquinha.
Faz-se lhe uma barrela;
até escalda a pulguinha.
Chega a haver vinte mulheres,
naquele tanque a lavar.
Muitas até vão de noite,
pró pé da bica ficar.
A água às vezes parece
um caldinho de feijão,
mas faz a roupa branquinha
e gasta pouco sabão.
Depois de todas lavarem,
vão fazer o jantarinho:
batatas com hortelã
farinheiras e toucinho.
Ali se sentam, à sombra,
o bom jantar a comer;
depois da barriga cheia,
água fresca vão beber.
Depois vão colher a roupa,
P´ra dentro do canastrão,
Vêm todas satisfeitas,
De caldeirinho na mão.
Às vezes também se zangam,
É preciso o pé ligeiro
Algumas pensam ser donas,
Querem o lugar primeiro.
Todas estas lavadeiras,
Tiveram um bom pensar:
Deram todas uns escudos,
Para o tanque se limpar.
Estava o tanque entupido,
Todo cheio de lucharia.
Foram três homens limpá-lo,
Lá andaram todo o dia.
Houve algumas que ajudaram,
Aquele tanque a assear;
Agora até mete gosto,
Estar no tanque a lavar.
Canta-se uma cantiga,
Não custa o dia a passar.
Às vezes deixam a roupa
E vão-se pôr a dançar.
Ó boa Fonte do Freixo
Para nós és logradouro.
Bate, bate, lavadeira
A roupa no lavadouro.
Tanta gente a esta fonte
Agora vai lá beber.
Deita fama a tua água
Todos a querem trazer.
Eu não sei se é verdade
O valor que água tem.
Quem beber continuado
Começa a sentir-se bem.
Bela fonte, não sabia,
Que tinhas tal valimento,
Deus queira que a tua água
Cure todo o sofrimento.
Vá tudo à Fonte do Freixo
Encher o seu garrafão;
E bebem uma pinguinha,
À hora da refeição.
In “Correio de Nisa” – 15/10/1966