30.7.25

NISA: Conheça os poetas do concelho (XLIII) - Manuel dos Santos Tavares


CHANTIERS

Sois como casulos de abelhas

Onde zangãos vêm fazer seu ninho

Sugando o suor de quem trabalha

Agravando ainda mais o seu destino.

 

Monstruosas fortunas de parasitas

Sangue e suor do trabalhador

Como legiões de escravos malditas

E conforto de tanto explorador

 

Longe daqui

Estão os palácios opulentos

Da vossa abelha mestra

Mas no interior de barracas nojentas

Está o triste drama

Duma negra orquestra.

 

Nauseabunda injustiça

Sem perdão

Do século vinte

A luz ausente

Como ainda feroz escuridão

Ao serviço

De quem amor não sente!

 

Enxame de abelhas, fazendo mel

Fora e dentro desta colmeia

Recebendo, de recompensa, o fel

Triste destino de quem tanto bem semeia…

 

Das pátrias madrastas de todo o mundo

Aqui vem trabalhar, barata mão

Dos deserdados, de sofrer profundo

Cuja família, lhes vem no coração.

 

O teu pensamento

Voou junto ao meu

Até ao fim

Subindo até ao firmamento

Para só na morte

Findar tão tristemente

A nossa sorte…

 

Do nosso enlace

Como forte traço de união

Ficaram quatro folas

Como rosas em botão

Que me revive, ao vê-las…

 

Quantas vezes

E até em tua última hora

Me rogaste, carinhosamente

Que, para tua memória

Amparasse eternamente

As quatros folhas

Da nossa bela aurora.

 

Aqui estou, pois

A cumprir o teu desejo

Cumprindo a vontade

De nós os dois

E depositando assim

Em tua fronte

O último beijo.

 

·         Manuel dos Santos Tavares1.05.1966 Dijon (França)

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