Há uma relação entre crescimento económico e prosperidade (mesmo que não seja para todos) e o impulso à imigração. Como há dados suficientes para perceber que em períodos de crise e empobrecimento (que afeta mais uns do que outros) prevalece a emigração. A história portuguesa tem vários desses exemplos, com destaque para as décadas de 60 e 70 do século passado, em que mais de um milhão e meio de portugueses, entre a atrofia de um país miserável e a esperança numa vida melhor, nem que fosse nos “bidonvilles” (bairros de lata) de França, fez as malas de cartão e partiu. Foi também assim nos anos de chumbo da “troika”, como mostram os dados da Pordata: o país bateu no fundo em 2012, com um saldo migratório negativo de 37 mil pessoas (diferença entre os que saíram e os que entraram). De então para cá, o garrote foi aliviando e, em 2017, pela primeira vez em vários anos, houve mais imigrantes do que emigrantes. O pico foi atingido em 2023, com um saldo migratório positivo de 155 mil pessoas. Apesar das persistentes bolsas de pobreza e da desigualdade, o país no seu todo foi crescendo, há mais emprego (melhor, de novo, só para alguns) e isso atraiu os imigrantes. Mário Centeno explica “que o enorme sucesso das nossas economias e das nossas sociedades” nos últimos anos se deve ao “fenómeno de mobilidade de trabalho e de pessoas”. E conclui que, sem essa mobilidade, ou seja, sem imigração, “Portugal não tem nenhum futuro”. Entre 2020 e 2025, criaram-se 12 milhões de empregos nos 20 países da zona euro, sendo que 60% são pessoas que trabalham num país diferente daquele em que nasceram. “Sem essa mobilidade, tínhamos perdido dois terços do crescimento económico”, acrescenta o governador do Banco de Portugal. A conclusão é simples: se nos deixarmos contaminar pelo racismo e xenofobia da extrema-direita, regressaremos a tempos sombrios. Portugal será mais branco, mas também será pobre outra vez.
* Rafael Barbosa-Jornal de Notícias - 10 julho, 2025
IMAGEM: Fila no racionamento do pão - Lisboa