23.7.25

NISA: Conheça os poetas do concelho (XLII) - Aníbal Goulão


 TROCADILHOS

Chama-se agora papo-sêco

Ao que d ´antes era pirróca

Ao grande roubo, desvio

A certo verme, minhoca.

 

Chama-se ao chifre, chamiço

Ao riscado, chamam cotim;

Ter namorado é ter derriço

Bota pequena é botim.

 

Sopa de sangue é cachola

Outros lhe chama sarrabulho;

O professor é mestre-escola

Grainha de uva é bagulho.

 

O vaso de cama é penico

É atabefe o zambana

A um côco chama-se quico

À velha ovelha, badana.

 

Aos óculos se chama cangalhas

Também se chama ao burro, jerico

Miolos de pão, são migalhas

Também é abano, o abanico.

 

Proceder bem é ser nobre

É intrujão o vigarista

Finge de rico quem é pobre

Usar melenas é ser fadista.

 

A um cântaro se chama pote

Chama-se à bilha, cantarinha

Ao pingalim se chama chicote

Quem dá chiça dá maminha.

 

Quando um dia isto mudar

E oxalá seja depressa

Quem viva a tocar a peça

Quando a guerra um dia acabar.

 

Já a alguns se vae o sorriso

Levando, em claro, muita noite

Cantando sem mudar de dono

E também com algum açoite.

 

Ou talvez pensem n ´algum trono

P´ra servirem de beleguim

Porventura a algum mono

Que a tudo diga que sim.

 

Como estamos em ditadura

Toda a cautela será pouca

Por causa de não haver fartura

Muita gente vae dar em louca.

 

Desapareceram os meio tostões

Está o cobre quasi acabado

Recebi agora dois melões

O melhor é o calado.

 

Perseguindo-me a tentação

Que, do senso, me parece

Mais umas trutas aí vão

Que o autor d ´isto vos oferece.

 

Acabar com a lei do funil

Pois é de lei sermos todos iguais

Fiz 67 anos em Abril

Se morrer este ano, não faço mais!

 

Foi ou vae a lavoura, à Iria, rezar

Ao Deus do céu, dar suas graças

Pelas chuvas que lhe mandou

Mas... veio o suão, tudo mudou

Ahi temos novas desgraças

Porque a terra já secou

Vae acabar a água nas noras

Virão os fructos fora de horas

Mas... como a lavoura lá foi ou vae

Será outra, agora, a oração

E não: oh escolas semeae

Que a d ´agora é bem diferente

Mas... como é dito por outra gente

Melhor e mais fructo é de esperar

Pois é lema da nação

O produzir e o poupar.

 

Mas, se alguém a lição acatar

As contas com alguém há de ajustar;

Será castigado a cacete

E não irá a outro banquete.

 

Tenham pois a sacra fé

E não haja n ´isto ilusão

De que para bem de todos isto é

Também o sendo: A bem da Nação.

* Aníbal Goulão