Chama-se agora papo-sêco
Ao que d ´antes era pirróca
Ao grande roubo, desvio
A certo verme, minhoca.
Chama-se ao chifre, chamiço
Ao riscado, chamam cotim;
Ter namorado é ter derriço
Bota pequena é botim.
Sopa de sangue é cachola
Outros lhe chama sarrabulho;
O professor é mestre-escola
Grainha de uva é bagulho.
O vaso de cama é penico
É atabefe o zambana
A um côco chama-se quico
À velha ovelha, badana.
Aos óculos se chama cangalhas
Também se chama ao burro, jerico
Miolos de pão, são migalhas
Também é abano, o abanico.
Proceder bem é ser nobre
É intrujão o vigarista
Finge de rico quem é pobre
Usar melenas é ser fadista.
A um cântaro se chama pote
Chama-se à bilha, cantarinha
Ao pingalim se chama chicote
Quem dá chiça dá maminha.
Quando um dia isto mudar
E oxalá seja depressa
Quem viva a tocar a peça
Quando a guerra um dia acabar.
Já a alguns se vae o sorriso
Levando, em claro, muita noite
Cantando sem mudar de dono
E também com algum açoite.
Ou talvez pensem n ´algum trono
P´ra servirem de beleguim
Porventura a algum mono
Que a tudo diga que sim.
Como estamos em ditadura
Toda a cautela será pouca
Por causa de não haver fartura
Muita gente vae dar em louca.
Desapareceram os meio tostões
Está o cobre quasi acabado
Recebi agora dois melões
O melhor é o calado.
Perseguindo-me a tentação
Que, do senso, me parece
Mais umas trutas aí vão
Que o autor d ´isto vos oferece.
Acabar com a lei do funil
Pois é de lei sermos todos iguais
Fiz 67 anos em Abril
Se morrer este ano, não faço mais!
Foi ou vae a lavoura, à Iria, rezar
Ao Deus do céu, dar suas graças
Pelas chuvas que lhe mandou
Mas... veio o suão, tudo mudou
Ahi temos novas desgraças
Porque a terra já secou
Vae acabar a água nas noras
Virão os fructos fora de horas
Mas... como a lavoura lá foi ou vae
Será outra, agora, a oração
E não: oh escolas semeae
Que a d ´agora é bem diferente
Mas... como é dito por outra gente
Melhor e mais fructo é de esperar
Pois é lema da nação
O produzir e o poupar.
Mas, se alguém a lição acatar
As contas com alguém há de ajustar;
Será castigado a cacete
E não irá a outro banquete.
Tenham pois a sacra fé
E não haja n ´isto ilusão
De que para bem de todos isto é
Também o sendo: A bem da Nação.