(Discurso
proferido no dia 20 de Abril de 1987 - Feriado Municipal - na Sessão Solene de
Homenagem a Intelectuais Nisenses)
" Augusto Pinheiro, comerciante de profissão, viveu
até aos 66 anos afastado das tintas e pincéis.
Fazia muitos desenhos para bordados, actividade a que se
dedicava sua esposa.
Publicou dois números da revista de bordados "Ponto
Real", com muitas flores e ramagens.
Ficava bastante impressionado quando visitava uma
exposição de pintura, e com o desejo enorme de começar também a pintar.
Um dia pegou num lápis de cor e papel e fez um lindo
desenho. Do papel passou ao pano e começou a fazer um pequeno quadro. Daí em
diante nunca mais parou. Em 1970/71 passou pela casa Ferreira a comprar as
primeira tintas a óleo, os secantes, e aprendeu a isolar as telas de linho, as
quais também são preparados por si.
Dois anos mais tarde, já com os quadros prontos, escreveu
ao senhor arquitecto, crítico e pintor Mário de Oliveira, pedindo o favor de
passar pelo seu escritório para lhe mostrar umas simples pinturas. Viu, gostou,
e o pintor nem queria acreditar, parecia uma criança, pois julgava que tudo
aquilo era uma brincadeira sem valor.
Foi o arquitecto Mário de Oliveira que o encaminhou e
encorajou para continuar a pintar, pois logo que tivesse duas ou três dezenas
de quadros, voltaria a aparecer para seleccionar algumas das suas obras para um
dia fazer uma exposição.
Augusto Pinheiro - O Circo
E assim foi, esta em Janeiro de 1974, na Galeria de Arte
do Diário de Notícias.
Foi o seu primeiro êxito, pois a crítica a considerou
como a mais coerente e inventiva. E pela mão daquele conceituado crítico, nesse
mesmo ano, foi seleccionado para a exposição da A.I.C.A. (Associação
Internacional dos Críticos de Arte), na Sociedade Nacional das Belas Artes, uma
das exposições mais exigentes, porquanto é organizada por aquela associação.
A partir desta importante e significativa exposição a
carreira artística de Augusto Pinheiro, teve sempre os maiores êxitos.
Em Madrid, em Maio de 1976, Augusto Pinheiro expõe na
Galeria "Modena", especializada em arte "Naif". Foi um
êxito total. Todos ficaram surpreendidos com a força cromática dos seus
quadros, e, sobretudo, pela subtileza dos matizes.
Augusto Pinheiro, ganha aí os pergaminhos de um dos
maiores pintores internacionais dentro do movimento "Naif", de tal
maneira que o grande psiquiatra espanhol Vallejo Nagera, autor de vários livros
e ensaios sobre a arte "Naif", classificou Augusto Pinheiro como um
caso singular, não só pela sua pureza de emoções, onde por vezes o poético e o
mágico se integram, como principalmente pela capacidade do seu iluminismo
exterior.
Exposição em Nisa (1981) com a presença do Presidente da
República, Ramalho Eanes
Não merece apenas citar os seus grandes êxitos artísticos
depois desta exposição de Madrid, mas é justo dizer que chegou até Paris, no
Salão dos Independentes, em Janeiro de 1982, e que em Lisboa teve em seguida
grandes êxitos, mormente nas exposições da Galeria de S. Francisco e na Galeria
"O País".
Como estamos na terra do pintor, é justo informar ainda,
que Augusto Pinheiro, obteve também grandes êxitos nos Salões Ibéricos,
organizados pela galeria do Casino Estoril, considerando o director desta
prestigiosa galeria, Dr. Lima de Carvalho, as pinturas deste puro Naif como das
melhores.
Augusto Pinheiro, continua a pintar com um entusiasmo
autenticamente juvenil, o seu mundo imaginário, a sua ingenuidade perante o
aspecto inspirador, e a transformação formal das coisas objectivas, deve ser
entendido como o caminho pela qual o artista se alcança a si próprio, numa
convicção íntima de toda a autenticidade da substância do seu ser.
Augusto Pinheiro - O Milagre das Rosas (Santa Isabel) -
1984
Meus senhores, e minhas senhoras, para terminar, penso
que talvez seja oportuno dizer, o que é a pintura "Naif". Como se
sabe, "Naif" é uma palavra francesa que tem muitos e variados
significados, tais como ingénuo, simples, espontâneo, puro, etc. É uma arte,
que nada tem de comum com a chamada arte erudita, e que constitui hoje um dos
fenómenos sociais e artísticos à escala mundial.
E, Nisa, pode-se orgulhar, de possuir entre os seus
filhos, o pintor Augusto Pinheiro, que já está classificado como um dos
pintores mais significativos, não só no âmbito nacional, como internacional.
A arte é, sem dúvida, a forma mais positiva de
comunicação. O artista erudito comunica uma mensagem; o artista que pratica o
Naif não nos oferece essa mensagem, antes pinta como quem conta uma história ou
relato emocional da sua personalidade.
É, isto, afinal, que nos tem oferecido Augusto Pinheiro:
contar histórias da sua imaginação, cheia de encanto, de pureza e de
lirismo."