O futuro da comunicação joga-se na Net, disso ninguém tem
dúvidas. Os jornais em papel estão em queda. O hábito de ler o jornal na Net
acentua-se. Hoje está na moda todos os organismos, desde empresas, associações
e outros possuírem um site onde divulgam o seu trabalho e atividades. Alguns,
pelo volume informativo e pela diversidade de material que publicam, até sonham
e aspiram a assumirem-se como jornais. Nada mais errado: falta-lhes o
distanciamento, a imparcialidade, o poder crítico, entre outros que
caracterizam a imprensa. E os pseudojornalistas desses sites vivem nessa
ilusão, pavoneiam-se e ufanam-se. Hoje todos comunicam, todos informam,
facilidade trazida pelos novos canais de comunicação, como é exemplo a Net.
A crise da imprensa regional, com falta de dinheiro para
pagar a jornalistas e a colaboradores, levou os órgãos informativos a publicar
e a encher as suas páginas com o material enviado pelos gabinetes de imprensa
que entopem completamente os emails dos jornais regionais com textos,
fotografias e outros. Material sem ser digerido, sem poder crítico, sem
imparcialidade, que só apresenta a versão de umas das partes, que esconde o que
é negativo e apresenta o mundo cor-de-rosa e todos felizes. Uma vergonha, haver
já jornais regionais que preenchem as suas páginas com o material dos
comunicados de imprensa. Ainda assim, melhor isto que publicar as páginas em
branco.
Uma coisa é certa e deixa-me triste: os comunicados de
imprensa enviados para os jornais e colocados em sites , blogs, faces e outros,
marcam cada vez mais a agenda dos media; ou seja, cada vez mais os jornalistas
são os assessores de imprensa dessas entidades, basta abrir um jornal como a
gazeta e povo da beira, e ver que a maioria dos textos são comunicados de
imprensa. Brevemente a profissão de jornalista é extinta, ficando toda a produção
jornalística a cargo e sob o domínio dos assessores de imprensa.
Mas há que dar um abanão a esta situação: os jornalistas,
os já poucos na imprensa regional, devem repudiar os comunicados de imprensa e
ir para o terreno fazer investigação, criticar, levantar problemas, denunciar,
doa a quem doer, ou seja, divulgar tudo aquilo que os assessores de imprensa
querem esconder e e omitem. Se assim não for, a profissão de jornalista
extinguir-se-á. Reinarão os assessores de imprensa, o que será perigosíssimo a
nível de informação e formação do público, que fica sob o domínio de uma
espécie de propaganda que pode manipular toda a gente, ou seja, o leitor
passará apenas a ter acesso aos duvidosos, não isentos, propagandísticos
comunicados de imprensa. O leitor só serão informados daquilo que os assessores
quiserem. Veja-se o perigo que isto representa, por exemplo, fazendo lembrar a
propaganda nazi em que dava um estimulo (texto) para obter uma determinada
resposta (reação no leitor. Caminhamos para uma nova época de manipulação das
pessoas, que pode ser usado de forma infalível por exemplo em campanhas
eleitorais.
Jornais sem jornalistas
Pela primeira vez na história do jornalismo, assistimos, impávidos (pelo menos a Entidade Reguladora para a Comunicação Social), imagine-se,
ao aparecimento de jornais sem jornalistas. E perguntam como tal absurdo é
possível?
Sim, desde que começaram a chegar os "tão
fatídicos" comunicados de imprensa, preteriram o trabalho dos jornalistas,
despediram-nos e rescindiram com eles. Publicam os comunicados de imprensa que
chegam aos emails, com fotografias e tudo. E, em escassas horas paginam um
jornal, sem ir para o terreno, sem gastar um cêntimo em gasóleo, sem pagar a
colaboradores e jornalistas. Como é isto possível, perguntam. È verdade!! Os
teóricos que se debrucem sobre isto. Onde estão os doutos teóricos da
comunicação?
Todos os dias são criados gabinetes de imprensa, que
florescem como cogumelos. Aproveitando, como já se disse a fragilidade
financeira da imprensa regional. Por um lado, temos esses gabinetes em grande
ascensão e, por outro todos os dias, fecham jornais. De modo que brevemente
deixaremos de falar em imprensa dos jornais a passaremos a ter a imprensa dos
gabinetes de imprensa. Será a ruína e o descalabro da imprensa, tal
Quantos jornalistas e colaboradores ficaram sem trabalho
devido a esta situação? Muitos, na imprensa regional. Jornais que agora mantém
1 ou 2 pessoas na redação, que recebe o material, pagina e faz o jornal, com
uma rapidez nunca dantes vista.
Mas o que está em questão é o aproveitamento que os
gabinetes de imprensa fizeram da crise dos jornais. Estes caem como patinhos.
Teriam outra solução? Claro que jornais regionais sérios (com algum poder
financeiro, diga-se) como o Jornal do Fundão não reproduzem os comunicados de
imprensa, reduzem-nos a breves ou diminuem-lhes a importância, cientes da sua
falta de poder crítico e apresentar tudo bem e cor-de-rosa.
Editorial - Paulo Jorge F.
Marques - 20/5/2017
Post-Scriptum1 - A página de facebook do Município de Nisa "noticia" a Feira do Queijo de Tolosa não como uma iniciativa organizada pela Junta de Freguesia com o apoio da Câmara, construindo um "texto" em que o evento gira à volta da presidente da Câmara, convidada para o efeito, menosprezando, melhor dizendo apagando, totalmente o trabalho da entidade organizadora. O resultado deste exercício de mera propaganda são 52 fotos da edil vestida de azul, num total de 64 reproduzidas pela página de facebuque. O que leva, inevitavelmente, à pergunta: Houve uma Feira do Queijo em Tolosa (como existe, aliás, desde há muitos anos) ou tratou-se, simplesmente, de uma passagem de modelos da edil?
Felizmente, o semanário "Alto Alentejo", ainda que dando um tratamento desmesurado à edil (não é técnica nem produtora de queijos) teve o bom senso de destacar, em fotos, os principais "actores" do evento: os produtores de queijo.
Post-Scriptum 2- A Câmara anuncia o lançamento de um livro, na próxima Feira do Livro, sendo um dos autores, o presidente da Assembleia Municipal de Nisa. Já é discutível que o próprio eleito aproveite uma iniciativa do município para "vender" um produto de que é co-autor, mas não ponho nisto muita ênfase. Dou de barato e sem custo, que é um cidadão com os mesmos direitos que todos os outros. O que me desgosta e tem a ver com o artigo acima, é que o mesmo seja apresentado no programa como o Autor do livro, quando é, apenas, um dos autores. E era nessa qualidade de co-autor que devia ser apresentado. Mais nada.
Mário Mendes