16.5.17

Festa Ibérica da Olaria e do Barro junta os maiores centros oleiros da Península Ibérica

S. Pedro do Corval, no concelho de Reguengos de Monsaraz, vai ser a capital ibérica da olaria entre os dias 18 e 21 de maio, com a realização da 23.ª Festa Ibérica da Olaria e do Barro. Este certame organizado pelo Município de Reguengos de Monsaraz, Junta de Freguesia de Corval e Ayuntamiento de Salvatierra de los Barros junta os maiores centros oleiros da Península Ibérica, como S. Pedro do Corval e Salvatierra de los Barros, na Extremadura espanhola.
 O Centro Oleiro de S. Pedro do Corval é considerado o maior de Portugal, com 22 olarias em atividade e onde se pode assistir ao vivo a esta arte ancestral e adquirir peças produzidas pelos artesãos.
A 23.ª Festa Ibérica da Olaria e do Barro vai ter 63 expositores de Portugal e de Espanha. No certame vão participar oleiros e ceramistas de S. Pedro do Corval, Assafora, Valongo do Vouga, Reguengos de Monsaraz, Pombal, Beringel, Mourão, Évora, Lisboa, Vila Nova de Famalicão, Caldas da Rainha, Redondo, Guarda, A-da-Beja, Sintra, Almada, Mafra, Alhos Vedros, Baixa da Banheira, Gafanha da Nazaré, Vila Nova de Milfontes, Coimbra, Queluz, Trofa e Sabugal. Espanha estará representada com olarias de Salvatierra de los Barros e de Hornachos.
 A Festa Ibérica da Olaria e do Barro é uma homenagem viva à arte da olaria, através de exposições, demonstrações ao vivo, jornadas ibéricas e música tradicional, pretendendo-se valorizar a olaria, chamar a atenção para o seu valor artesanal e artístico e apontar estratégias para o seu desenvolvimento económico e profissional. Este evento transfronteiriço de promoção cultural e turística da olaria é organizado em anos alternados em cada município há mais de duas décadas.
 A cerimónia de abertura da Festa Ibérica da Olaria e do Barro vai decorrer na quinta-feira, às 18h, na Casa do Barro – Centro Interpretativo da Olaria de S. Pedro do Corval, seguindo-se às 22h o primeiro concerto do Festival de Música Ibérica, com o grupo Voces Al Alba. Na sexta-feira, a partir das 15h, realizam-se as Jornadas Ibéricas de Olaria e Cerâmica.
Durante os trabalhos, às 15h30 será apresentada a Associação Portuguesa de Cidades e Vilas Cerâmicas, por José Luís Almeida Silva, do Cencal, seguindo-se a primeira comunicação, de Anabela Caeiro, da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz, intitulada “Moldar o Futuro com o Saber do Passado”, que é igualmente o tema das jornadas. A pintora Filippa Lobato vai falar sobre o “Projeto Piloto Sorrir de Novo – São Pedro do Corval – Toda a Aldeia é uma grande escola” e Miguel Alba Calzado, arqueólogo e diretor do Consórcio da Cidade Monumental de Mérida, vai abordar o tema “Espaços da olaria tradicional de Salvatierra de los Barros”. Antes do debate que vai encerrar os trabalhos, Reyes González Castaño, professor do Instituto San José, apresenta uma comunicação sobre a “Linguagem transfronteiriça da olaria tradicional”.
 O Festival de Música Ibérica terá na sexta-feira, pelas 22h, a atuação da banda The Lucky Duckies, no sábado, à mesma hora, sobe ao palco o grupo Monda, e no domingo, às 18h, haverá um concerto com a banda e o coro polifónico da Sociedade Filarmónica Corvalense.
 A 23.ª Festa Ibérica da Olaria e do Barro pode ser visitada na quinta-feira entre as 18h e a meia-noite. Na sexta-feira e no sábado o certame estará aberto ao público entre as 10h e a meia-noite, e no domingo das 10h às 23h.
 Sobre o Centro Oleiro de S. Pedro do Corval
No Centro Oleiro de S. Pedro do Corval continuam a pintar-se os motivos típicos do Alentejo, como por exemplo o pastor, a apanha da azeitona e a vindima. Em S. Pedro do Corval podem ser encontradas as mais belas e formosas peças de barro, trabalhadas por habilidosos artesãos que assim continuam uma tradição multissecular de fabrico de louça tosca, vidrada e decorativa, de extraordinário valor estético e etnográfico. Constituindo um autêntico espelho da vida rural e dos costumes ancestrais, a olaria de S. Pedro do Corval, o seu espírito muito próprio e as suas excecionais qualidades são os genuínos responsáveis pela criação de peças de grande utilidade, efeito decorativo ímpar, impondo-se naturalmente pelo conjunto das suas tonalidades e pela beleza campestre das suas composições.
No concelho de Reguengos de Monsaraz podem ser encontrados vestígios de olaria desde os tempos pré-históricos, nomeadamente de peças feitas à mão, descobertas, por exemplo, em antas da região. Em 1276, D. Afonso III, no foral Afonsino de Monsaraz, reconhece privilégios aos oleiros do seu termo que poderiam assim ter livremente fornos de olaria. No foral Manuelino, de 1512, também há referência à olaria do concelho, e já em 1905 S. Pedro do Corval teria cerca de 30 oficinas em funcionamento, havendo a distinção entre as de louça miúda, as de talha para o vinho (seriam quatro) e as de tarefas para a aguardente (seis), o que demonstra também a importância da localidade na produção vinícola.
 Em 1996 existiam 34 olarias em S. Pedro do Corval, segundo dados recolhidos pela junta de freguesia, 51 mestres oleiros, três aprendizes, 16 serventes, 123 pintores (essencialmente do sexo feminino) e 47 pessoas que trabalhavam em casa à peça. Atualmente existem 22 olarias, entre as quais duas oficinas que se dedicam integralmente à cerâmica de construção, uma maioritariamente à louça tosca ou à louça vermelha vidrada, e as restantes à louça decorativa, embora mantenham sempre a possibilidade de fazerem louça vermelha vidrada.
A olaria de S. Pedro do Corval é uma marca registada pois o Município de Reguengos de Monsaraz registou em 2008 no Instituto Nacional da Propriedade Industrial as marcas nacionais “Olaria de São Pedro do Corval”, “Rota da Olaria”, “Rota dos Oleiros” e “Olaria”.
Há dois anos foi inaugurada a Casa do Barro, um centro interpretativo que visa preservar, promover e assegurar a sustentabilidade da olaria de São Pedro do Corval, proporcionando a todos os visitantes o conhecimento e a aprendizagem sobre a arte oleira e o barro através de oficinas, palestras e outras atividades. A Casa do Barro resulta da reabilitação de uma antiga olaria, envolta em história e tradição, com dois fornos a lenha que serviam para cozer a louça, um tino onde se coava o barro e rodas de oleiro com as suas imponentes arquinas. A recuperação deste local permitiu recriar o ciclo do barro, desde a terra ao produto final.
O centro interpretativo tem à disposição do público o Espaço Atividade, onde se realizam iniciativas com oleiros e ceramistas e os visitantes podem aprender a manusear o barro e a produzir uma peça numa roda de oleiro. A Área Expositiva tem informação sobre todas as olarias em atividade e no Espaço Memória os visitantes encontram objetos e documentos sobre a história do centro oleiro, incluindo peças de barro antigas, os dois fornos tradicionais a lenha, um tino, um tanque e rodas de oleiro. No Espaço Mostra podem ser apreciadas as peças produzidas pelas olarias atualmente em atividade.
Gonçalo Jordão, muralista que integrou a equipa do filme Grand Budapest Hotel, de Wes Anderson, que foi distinguida com um Óscar na categoria de Melhor Direção Artística, pintou cinco painéis na Casa do Barro. Um painel é sobre os diferentes tipos de barro e os restantes são alusivos aos quatro elementos da natureza: terra, água, ar e fogo.