S. Pedro do Corval, no concelho de Reguengos de Monsaraz,
vai ser a capital ibérica da olaria entre os dias 18 e 21 de maio, com a
realização da 23.ª Festa Ibérica da Olaria e do Barro. Este certame organizado
pelo Município de Reguengos de Monsaraz, Junta de Freguesia de Corval e
Ayuntamiento de Salvatierra de los Barros junta os maiores centros oleiros da
Península Ibérica, como S. Pedro do Corval e Salvatierra de los Barros, na
Extremadura espanhola.
O Centro Oleiro de
S. Pedro do Corval é considerado o maior de Portugal, com 22 olarias em
atividade e onde se pode assistir ao vivo a esta arte ancestral e adquirir
peças produzidas pelos artesãos.
A 23.ª Festa Ibérica da Olaria e do Barro vai ter 63
expositores de Portugal e de Espanha. No certame vão participar oleiros e
ceramistas de S. Pedro do Corval, Assafora, Valongo do Vouga, Reguengos de
Monsaraz, Pombal, Beringel, Mourão, Évora, Lisboa, Vila Nova de Famalicão,
Caldas da Rainha, Redondo, Guarda, A-da-Beja, Sintra, Almada, Mafra, Alhos
Vedros, Baixa da Banheira, Gafanha da Nazaré, Vila Nova de Milfontes, Coimbra,
Queluz, Trofa e Sabugal. Espanha estará representada com olarias de Salvatierra
de los Barros e de Hornachos.
A Festa Ibérica da
Olaria e do Barro é uma homenagem viva à arte da olaria, através de exposições,
demonstrações ao vivo, jornadas ibéricas e música tradicional, pretendendo-se
valorizar a olaria, chamar a atenção para o seu valor artesanal e artístico e
apontar estratégias para o seu desenvolvimento económico e profissional. Este
evento transfronteiriço de promoção cultural e turística da olaria é organizado
em anos alternados em cada município há mais de duas décadas.
A cerimónia de
abertura da Festa Ibérica da Olaria e do Barro vai decorrer na quinta-feira, às
18h, na Casa do Barro – Centro Interpretativo da Olaria de S. Pedro do Corval,
seguindo-se às 22h o primeiro concerto do Festival de Música Ibérica, com o
grupo Voces Al Alba. Na sexta-feira, a partir das 15h, realizam-se as Jornadas
Ibéricas de Olaria e Cerâmica.
Durante os
trabalhos, às 15h30 será apresentada a Associação Portuguesa de Cidades e Vilas
Cerâmicas, por José Luís Almeida Silva, do Cencal, seguindo-se a primeira
comunicação, de Anabela Caeiro, da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz,
intitulada “Moldar o Futuro com o Saber do Passado”, que é igualmente o tema
das jornadas. A pintora Filippa Lobato vai falar sobre o “Projeto Piloto Sorrir
de Novo – São Pedro do Corval – Toda a Aldeia é uma grande escola” e Miguel
Alba Calzado, arqueólogo e diretor do Consórcio da Cidade Monumental de Mérida,
vai abordar o tema “Espaços da olaria tradicional de Salvatierra de los
Barros”. Antes do debate que vai encerrar os trabalhos, Reyes González Castaño,
professor do Instituto San José, apresenta uma comunicação sobre a “Linguagem
transfronteiriça da olaria tradicional”.
O Festival de
Música Ibérica terá na sexta-feira, pelas 22h, a atuação da banda The Lucky
Duckies, no sábado, à mesma hora, sobe ao palco o grupo Monda, e no domingo, às
18h, haverá um concerto com a banda e o coro polifónico da Sociedade
Filarmónica Corvalense.
A 23.ª Festa
Ibérica da Olaria e do Barro pode ser visitada na quinta-feira entre as 18h e a
meia-noite. Na sexta-feira e no sábado o certame estará aberto ao público entre
as 10h e a meia-noite, e no domingo das 10h às 23h.
Sobre o Centro
Oleiro de S. Pedro do Corval
No Centro Oleiro de S. Pedro do Corval continuam a
pintar-se os motivos típicos do Alentejo, como por exemplo o pastor, a apanha
da azeitona e a vindima. Em
S. Pedro do Corval podem ser encontradas as mais belas e
formosas peças de barro, trabalhadas por habilidosos artesãos que assim
continuam uma tradição multissecular de fabrico de louça tosca, vidrada e
decorativa, de extraordinário valor estético e etnográfico. Constituindo um
autêntico espelho da vida rural e dos costumes ancestrais, a olaria de S. Pedro
do Corval, o seu espírito muito próprio e as suas excecionais qualidades são os
genuínos responsáveis pela criação de peças de grande utilidade, efeito
decorativo ímpar, impondo-se naturalmente pelo conjunto das suas tonalidades e
pela beleza campestre das suas composições.
No concelho de
Reguengos de Monsaraz podem ser encontrados vestígios de olaria desde os tempos
pré-históricos, nomeadamente de peças feitas à mão, descobertas, por exemplo,
em antas da região. Em 1276, D. Afonso III, no foral Afonsino de Monsaraz,
reconhece privilégios aos oleiros do seu termo que poderiam assim ter
livremente fornos de olaria. No foral Manuelino, de 1512, também há referência
à olaria do concelho, e já em 1905 S. Pedro do Corval teria cerca de 30
oficinas em funcionamento, havendo a distinção entre as de louça miúda, as de
talha para o vinho (seriam quatro) e as de tarefas para a aguardente (seis), o
que demonstra também a importância da localidade na produção vinícola.
Em 1996 existiam
34 olarias em S. Pedro
do Corval, segundo dados recolhidos pela junta de freguesia, 51 mestres
oleiros, três aprendizes, 16 serventes, 123 pintores (essencialmente do sexo
feminino) e 47 pessoas que trabalhavam em casa à peça. Atualmente existem 22
olarias, entre as quais duas oficinas que se dedicam integralmente à cerâmica
de construção, uma maioritariamente à louça tosca ou à louça vermelha vidrada,
e as restantes à louça decorativa, embora mantenham sempre a possibilidade de
fazerem louça vermelha vidrada.
A olaria de S.
Pedro do Corval é uma marca registada pois o Município de Reguengos de Monsaraz
registou em 2008 no Instituto Nacional da Propriedade Industrial as marcas
nacionais “Olaria de São Pedro do Corval”, “Rota da Olaria”, “Rota dos Oleiros”
e “Olaria”.
Há dois anos foi
inaugurada a Casa do Barro, um centro interpretativo que visa preservar,
promover e assegurar a sustentabilidade da olaria de São Pedro do Corval,
proporcionando a todos os visitantes o conhecimento e a aprendizagem sobre a
arte oleira e o barro através de oficinas, palestras e outras atividades. A
Casa do Barro resulta da reabilitação de uma antiga olaria, envolta em história
e tradição, com dois fornos a lenha que serviam para cozer a louça, um tino
onde se coava o barro e rodas de oleiro com as suas imponentes arquinas. A
recuperação deste local permitiu recriar o ciclo do barro, desde a terra ao
produto final.
O centro interpretativo tem à disposição do público o
Espaço Atividade, onde se realizam iniciativas com oleiros e ceramistas e os
visitantes podem aprender a manusear o barro e a produzir uma peça numa roda de
oleiro. A Área Expositiva tem informação sobre todas as olarias em atividade e
no Espaço Memória os visitantes encontram objetos e documentos sobre a história
do centro oleiro, incluindo peças de barro antigas, os dois fornos tradicionais
a lenha, um tino, um tanque e rodas de oleiro. No Espaço Mostra podem ser
apreciadas as peças produzidas pelas olarias atualmente em atividade.
Gonçalo Jordão, muralista que integrou a equipa do filme
Grand Budapest Hotel, de Wes Anderson, que foi distinguida com um Óscar na
categoria de Melhor Direção Artística, pintou cinco painéis na Casa do Barro.
Um painel é sobre os diferentes tipos de barro e os restantes são alusivos aos
quatro elementos da natureza: terra, água, ar e fogo.