3.5.17

ALPALHÃO: Tradições - "Ir buscar a D. Rosa à Estação"



Como é costume desde há alguns anos a esta parte, a vila de Alpalhão “acorda” no dia 3 de Maio com as suas fontes engalanadas, ou, melhor dizendo, enfeitadas.
São flores do campo e dos pequenos jardins e quintais que as crianças das escolas e os moradores de cada rua próxima das fontes se empenham em colher, juntar e transformar em colares, que depositam, logo pela manhã, junto de cada fonte.
Mas de onde vem esta tradição? A explicação, ouvimo-la a algumas das mulheres que junto à Fonte Nova mostravam, orgulhosamente, o fruto do seu trabalho: a fonte toda enfeitada, com esmero e alegria, não fosse a “sesta”, no rigor do trabalho do campo, uma preciosa conquista. O melhor, será, mesmo, reproduzirmos a redacção de um aluno da Escola de Alpalhão, sobre o 3 de Maio:
“Era costume neste dia enfeitarem-se as fontes. E porquê? Era para festejar o primeiro dia de sesta. Os alpalhoenses trabalhavam do nascer ao pôr do sol e como os dias, nesta altura, já são maiores, havia necessidade de descansarem.
Então enfeitavam as carroças com rosas e flores campestres (malmequeres) e chegavam à vila, também enfeitavam os fontenários.
Como é Dia de Santa Cruz, faziam cruzes enfeitadas também com flores e colocavam-nas nos campos (para terem boas searas) e nas casas para terem sorte.
Os alpalhoeiros para não dizerem que “iam dormir a sesta”, usavam a expressão: “Vamos buscar a D. Rosa à estação”.”
Costume bonito, uma belíssima reprodução etnográfica, num tempo em que o trabalho no campo, praticamente acabou e a estação (a de Vale do Peso e as outras do chamado Ramal de Cáceres) tal como a própria via ferroviária, estão no estado de quase abandono que todos conhecemos.
A D. Rosa já chegou da estação e todos os anos, no dia de Santa Cruz (de Maio) as fontes de Alpalhão cobrem-se de flores e alegria enquanto um manto de saudade e nostalgia, invade, cada uma das ruas e casas, onde os moradores, sujeitos de um presente, que tem um passado, relembram histórias e vivências antigas.
Mário Mendes - Texto publicado no "Jornal de Nisa" em 4/5/2007