O
Partido Socialista acaba de perder uma câmara. Que ainda não tinha ganho. E em
cuja festa da vitória quis entrar. Antes do casamento. O voto dos portuenses.
Não há maior derrotado da gestão política que o presidente da autarquia
portuense fez para reafirmar a sua independência perante os partidos.
E,
custe a quem custar, politicamente fez tudo laboriosamente bem.
O
PS é um partido demasiado grande para ir atrelado numas eleições, ao contrário
do CDS, um apêndice para a selfie da noite eleitoral. As estruturas locais, ou
parte delas, nunca perceberam que o Porto exigia dos socialistas um candidato,
um projeto, uma ideia de futuro e de cidade. Mesmo com o lastro de ter
proporcionado um governo autárquico maioritário em estreita e feliz parceria com
Rui Moreira.
A
riqueza da democracia está, justamente, na diversidade de opções.
Na
gestão atabalhoada que tem feito das autárquicas, o PSD percebeu-o. Claro que
da dança de nomes na praça pública só seduziu o independente Álvaro Almeida.
Mas tem candidato. Mal ou bem, logo veremos, agora com uma friesta. O Bloco e o
PCP também. Estão todos sentados a ver o espetáculo de declarações de ambos os
lados.
Rui
Moreira queria casar com todos, ou não queria casar com nenhum. E o PS, que
teve três vereadores nas últimas eleições, foi sendo reduzido a zero na praça
pública. Negligenciou a argúcia e a inteligência do presidente da Câmara, o
olhar que tem sobre o exercício do poder e sobre a cidade. Não o podem acusar
de não ter dado todos os sinais, por muito que a Federação socialista tenha
agora classificado de surpreendente e inesperada a recusa do apoio do PS nas
autárquicas.
Foi
assim quando desmentiu as declarações do eurodeputado socialista Manuel dos
Santos, que disse haver um acordo com António Costa que dava a Moreira o cargo
de eurodeputado ou de ministro em troca de passar o leme a Manuel Pizarro a
meio do mandato. Foi assim quando fez saber que não há "jobs for the
boys" e que é ele quem ordena os candidatos, numa reação às afirmações da
direção nacional do PS que anunciavam uma forte "representatividade"
nas listas do independente. É assim agora, ao recusar que qualquer partido faça
a festa eleitoral de uma vitória que ele quer só dele.
A
humilhação pessoal, por mais que veja reconhecido o seu papel no convite que
lhe é prometido a título individual, é do vereador e presidente da Federação,
Manuel Pizarro. Que se deve sentir traído pelos bastidores, sem espaço para
negociações e sem, sequer, o segundo lugar da lista. Vai ter de avançar pelo PS
ou sair.
A
humilhação eleitoral será do Partido Socialista. Que queria festa. E está a ter
velório.
Domingos
de Andrade in “Jornal de Notícias” – 6/5/2017
Cartoon de Henrique Monteiro in http://henricartoon.blogs.sapo.pt